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Remy Sharp
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Desde que o Enjoei deixou de fazer poemas na divulgação dos seus balanços, quando o mercado perdeu o humor com as novas histórias de crescimento que tinham ido para a Bolsa, os releases de resultados financeiros no mercado brasileiro voltaram ao sisudo financês.

A exceção ficou por conta da fabricante de produtos eletrônicos Multi (antiga Multilaser), cuja carta do CEO Alexandre Ostrowiecki sempre trouxe um tom informal. Nos números do terceiro trimestre, divulgados esta semana, ele não trouxe poema, nem rima -- mas uma narrativa quase hollywoodiana para descrever suas aventuras por mares há tempos revoltos.

“O terceiro trimestre do ano me fez pensar em um navio mercante dos tempos das grandes navegações. Carregado de mercadorias da Ásia e tendo passado por algumas das maiores tempestades que a tripulação já vira, o céu começava a se abrir e a esperança de mares mais calmos crescia”, escreve um inspirado ‘Alê’, como ele mesmo costuma assinar.

O anticlímax: “Infelizmente, o vendaval retornou e tivemos mais um período tempestuoso. Passei o trimestre segurando o timão da melhor forma que consegui, lado a lado com a equipe, com o navio balançando para lá e para cá, a chuva no rosto e as ondas nos rondando. Foi aí quando escutei um grito forte vindo lá de cima do mastro. Lá da gávea (a cestinha no topo do navio), era a voz do CFO que gritava de forma distinta, para todos da empresa ouvirem, as palavras encorajadoras: “caaaaaaaixa à vista, caixa à vista”.

A geração de caixa é o argumento ‘bote salva-vidas’ da empresa em meio a um trimestre ainda bastante desafiador. Depois de uma explosão de consumo na pandemia, a Multi – que vende de notebooks a pendrives, passando por itens para o mercado pet e acessórios para gamers --, vem sofrendo com vendas em queda em meio a um estoque elevado.

Nos três meses encerrados em setembro, o fluxo de caixa gerado pela operação somou R$ 248,4 milhões, contra queima no mesmo período do ano passado. No ano, a empresa gerou cerca de R$ 600 milhões de caixa, chegando a uma posição de caixa líquido no trimestre, reflexo de um movimento de redução de compras, melhoria nos níveis de estoque e recebíveis.
Mas o quadro geral ainda é de tormenta. A empresa passou de lucro para um prejuízo de R$ 212,2 milhões. A receita líquida foi de R$ 883,8 milhões, 21,3% menor do que a registrada no terceiro trimestre do ano passado.

“Ao longo do terceiro trimestre, fizemos uma série de campanhas, ações, descontos e prazos adicionais para puxar vendas. Apesar dos esforços, a venda foi 11% menor que no segundo trimestre, algo bastante incomum, pois o mercado tradicionalmente esquenta nessa época”, escreve Ostrowiecki.

Numa tempestade perfeita, ao longo do ano, a Multilaser vinha sofrendo com uma migração atrapalhada de sistema de gestão (ERP), que complicou tanto as compras de produtos quanto as vendas. No último tri, no entanto, o CEO reconhece que o efeito, ainda que existente, foi secundário. O adiamento de verbas de compras do governo, que estavam previstas, para o segundo semestre deste ano e devem ficar para 2024, também pesou.

A margem bruta mergulhou 23,7 pontos percentuais, caindo de 30,4% para 6,7%. A queda veio principalmente pela constituição de uma provisão de R$ 68,6 milhões, em razão da deterioração do cenário para algumas linhas de smartphones e notebooks, que provavelmente vão ficar encalhados em estoque. A margem bruta no segmento está negativa em 47%.
O Ebitda do período passou de positivo para negativo, em R$ 116,3 milhões. No ano, os papéis da companhia acumulam queda de 48%.

“A agenda da companhia agora está em voltar a comprar produtos ‘curva A’, de alta demanda, giro e margem saudável, liquidar linhas deficitárias e recuperar margem bruta”, disse o CEO. “Produtos com alto risco de encalhe e/ou margens baixas têm sido cortados sumariamente”.

Haja remo.

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