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Buffett fará encontro anual à distância — e será ouvido como nunca

A fala do Óraculo de Omaha é ansiosamente aguardada para dar pistas de como está vendo a crise causada pela pandemia do coronavírus

BUFFETT: “Charlie e eu sentimos sua falta, mas veremos muitos milhares de vocês no próximo ano” (Rick Wilking/Reuters)
BUFFETT: “Charlie e eu sentimos sua falta, mas veremos muitos milhares de vocês no próximo ano” (Rick Wilking/Reuters)
GV

Graziella Valenti

17 de abril de 2020 às 08:35

O bilionário Warren Buffett, 89 anos, assinou uma breve cartinha para os acionistas da sua Berkshire Hathaway para pedir que, excepcionalmente neste ano, assistam à tradicional assembleia geral “da poltrona” de suas casas.

O encontro costuma atrair milhares de investidores e transformar a pequena cidade de Omaha, em Nebraska, no centro do capitalismo global. Mas, neste ano, nada disso acontecerá. “Lamento muito essa iniciativa; por muitas décadas a reunião anual tem sido um ponto alto do ano para mim e meu parceiro, Charlie Munger [vice-presidente do conselho de administração].”

Junto com alguns funcionários que receberão os votos por procuração, e “possivelmente” com a presença de Munger, 95 anos, Buffett fará considerações sobre o resultado entregue dia 22 de fevereiro. O ritual será transmitido via Yahoo Finance, segundo comunicado da companhia de dois dias atrás. Alguns jornalistas devem estar presentes e os investidores poderão enviar questões para que eles a façam.

Buffett manteve a assembleia para 2 de maio, a partir de 15h45, como estava prevista. Mas reforçou que não será aberta ao público. “Agora está claro que aglomerações podem ser uma ameaça aos participantes. Não pediremos isso aos nossos funcionários e não vamos expor Omaha ao risco de se tornar um “hot spot” na atual pandemia.”

 

“Charlie e eu sentimos sua falta, mas veremos muitos milhares de vocês no próximo ano”, encerra Buffet. Havia grande expectativa de que, neste ano, outros conselheiros da Berkshire pudessem participar da assembleia, que há décadas é conduzida apenas pelo presidente e pelo vice-presidente do conselho. O evento do ano passado atraiu perto de 20.000 pessoas e durou quase sete horas.

Neste ano, a fala de Óraculo de Omaha é ansiosamente aguardada para dar pistas de como está vendo o cenário. No início da crise, Buffett não parecia muito pessimista. Mas isso foi antes de a pandemia do coronavírus transformar Nova York em seu atual epicentro.

Até o momento, tudo que se conhece de seus movimentos nessa crise são pequenas vendas de ações, em especial de companhias aéreas americanas, mas em proporção muito pequena, e algumas emissões de dívida em ienes para ampliação do caixa.

Lições que ficam

De certa, forma a crise pode reafirmar a importância de olhar o longo prazo, princípio que norteia sua estratégia de investimentos. Nos últimos anos de euforia nas bolsas puxada pelas empresas de tecnologia, Buffett foi cobrado por retornos decepcionantes.

Segundo dados da própria Berkshire, a companhia deu um retorno de 11% em 2019, e de 2,8 no ano anterior. Em comparação, o índice S&P 500 subiu 31,5% no ano passado e 4,4% um ano antes. Numa tentativa de acalmar os ânimos, Buffett e Munger afirmaram em carta anual publicada em fevereiro que vão continuar seguindo os princípios da empresa que deram certo nas últimas décadas – responsáveis pelo valor da Berkshire saltar 2.744.062% desde 1964.

Entre eles estão continuar investindo em empresas variadas e de áreas diferentes, nas quais a Berkshire já tem participação. Além disso, a Berkshire reafirmou que está disposta a embarcar em novos negócios que cumpram três requisitos: bons retornos em suas operações, comandados por líderes qualificados e honestos, e disponíveis em um preço justo.

“Ter caixa para investir e ser um investidor de valor pode ajudar Buffett nessa hora”, diz Renato Mimica, diretor da Exame Research, a área de análises de investimentos da Exame. Mimica relembra que Buffett também sofreu nesta crise, com ações do setor financeiro, por exemplo, mas que no fim pode tirar proveito da instabilidade. “Buffett e seu time podem aproveitar a crise para começar a montar posições em papeis que julgavam caros demais”, afirma.

As lições do Oráculo de Omaha estão mais atuais do que nunca — mas, desta vez, à distância.

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