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Braskem: o 'ou vai ou racha' da Apollo vem nos próximos dias

Após concluir diligência, chegou a hora da verdade sobre investir ou não investir na petroquímica

Braskem: Petrobras avalia entrar no mesmo ramo, de resinas plásticas, convertendo o antigo Comperj (Luke Sharrett/Bloomberg)
Braskem: Petrobras avalia entrar no mesmo ramo, de resinas plásticas, convertendo o antigo Comperj (Luke Sharrett/Bloomberg)
Graziella Valenti

Graziella Valenti

Editora Exame IN

Publicado em 19 de abril de 2023 às 08:40.

Última atualização em 19 de abril de 2023 às 14:43.

O enrosco em torno do futuro da Braskem (BRKM5) é tão grande – e parece que a cada dia fica mais complexo – que os investidores até esqueceram que há um processo de venda em andamento. Sim, ainda há. O fundo de private equity Apollo terminou há poucos dias a due dilligence financeira da petroquímica e é somente agora, nos próximos dias, que a gestora vai decidir se ou vai ou racha, ou seja, se desiste ou segue em frente. Se decidir que segue, há uma lista de tarefas pela frente que não é pequena até um possível sucesso na transação. Por isso, avançar não significa, ainda, entregar a proposta definitiva. É preciso fazer a costura com todos os envolvidos.

Não se pode esquecer que as ações de controle da Braskem, do grupo Novonor (ex-Odebrecht), estão em poder de cinco bancos credores, cedidas fiduciariamente como garantia para dívidas – Itaú, Bradesco, BNDES, Banco do Brasil e Santander. A joia da coroa do grupo baiano (as ações da Braskem) começou a ser usada como garantia ainda em 2016, na reestruturação dos vencimentos da Atvos, no olho do furacão da Operação Lava-Jato. No início era apenas um penhor, mas o contrato com os bancos foi mudando e as dívidas cobertas aumentaram. O acordo chegou então na alienação fiduciária, a elite das garantias, antes da recuperação judicial do grupo. Na prática, se a Apollo quiser, pode negociar apenas com os bancos, sem passar pela Novonor.

Entre dívida e juros acruados, os papéis da Novonor cobrem compromissos que somam aproximadamente R$ 15 bilhões. O problema? As ações que estão com os bancos valem hoje na bolsa mais ou menos R$ 6 bilhões. A Braskem inteira, 100% dela, está avaliada em R$ 16 bilhões. A ação hoje é negociada em torno de R$ 20.

Para os bancos, achar quem pague o valor que foi atribuído às ações no contrato, pouco acima de R$ 40, não é nada fácil. Daí, da para entender o nível de ansiedade entre os cinco bancos credores, em especial Itaú e Bradesco.  Além da venda ser complexa pelas oscilações no valor da empresa, devido ao ciclo petroquímico, a Braskem tem a dor de cabeça das minas de sal gema em Alagoas, que causaram afundamentos em alguns bairros de Maceió. Por mais que os prejuízos já estejam provisionados, é preciso gerir o caso e ainda lidar com declarações como as do senador Renan Calheiros recentemente, que usou a tribuna do Congresso para se colocar como ator na questão. O problema já tem recursos reservados no patrimônio da petroquímica.

Além desses desafios – tão conhecidos quanto sensíveis – ainda tem a Petrobras, uma verdadeira caixa de pandora nesse momento. A petroleira é sócia da petroquímica e participa da gestão do negócio, com uma fatia ligeiramente inferior à de Novonor. Enquanto a ex-Odebrecht tem 38% do capital total (com maioria das ações votantes), a estatal possui cerca de 36,5%.

Quando e se houver uma proposta vinculante da Apollo – seja para Novonor ou para os bancos – , a estatal precisa receber uma notificação. Terá então de escolher entre seus dois direitos para essa circunstância: preferência ou tag along. Saindo do ‘juridiquês do mercado’, a Petrobras pode decidir se compra a fatia da ex-Odebrecht (que está com os bancos) pelo preço negociado e consolida o controle da petroquímica ou se vende seus papéis e sai do negócio por completo. Mas não tem obrigação de exercer nenhum dos dois, ou seja, pode inclusive querer ficar tal como está. Nesse caso, caberia ao fundo Apollo condicionar o sucesso da transação a determinadas circunstâncias.

Entre 2015 e 2022, o desejo da Petrobras era sair de Braskem. Estava declarado. A estatal chegou até mesmo a considerar a venda diretamente na bolsa, após uma potencial adesão ao Novo Mercado. Nesse meio tempo, já aconteceu de tudo. A ação já chegou a valer mais de R$ 67, turbinada por dividendos gordos, oriundos de um ciclo excelente para a empresa, e expectativa de venda, ao mesmo tempo.

Agora, os sinais mudaram com a chegada do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além de uma declaração aqui e outra acolá de que a companhia é importante para a estatal, veio esse movimento da Petrobras de rever os compromissos com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para venda de suas refinarias. E, junto com ele, o sinal mais complicado de todos: a Petrobras avalia converter o antigo Comperj, ou ao menos parte dele, de refinaria a produtor de petroquímicos de segunda geração – exatamente a praia de quem? Da Braskem. Parece que, na Petrobras, nem a descarbonização da economia, nem a busca de um distanciamento da Operação Lava-Jato, cujo coração foram as refinarias, importam.

A vida da Apollo, se decidir ir em frente, não deve ser fácil. Mas também não é todo dia que há um ativo do tamanho da Braskem, com negócios relevantes nos Estados Unidos, Europa e México, à disposição. Tem sido assim – todo dia à disposição, desde 2017, mais ou menos –, mas tudo indica que a direção vai mudar. É mesmo a hora do ou vai ou racha.

Para quem decide. Por quem decide.

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Graziella Valenti

Graziella Valenti

Editora Exame IN

Criadora do EXAME IN, espaço dedicado à cobertura de negócios, com foco em mercado de capitais. Na EXAME desde março de 2020, ficou 13 anos no Valor Econômico, oito como repórter especial, sete anos na Broadcast, do Grupo Estado.

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