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Petrobras

Após lista de recordes, investidor segue no escuro sobre qual será a 'nova Petrobras'

CEO do novo governo, Jean Paul Prates, mantém investidores com dúvidas sobre planos para a empresa

Petrobras: apesar do otimismo nesta terça-feira, dúvidas sobre o futuro da companhia permanecem (SOPA Images/Getty Images)
Petrobras: apesar do otimismo nesta terça-feira, dúvidas sobre o futuro da companhia permanecem (SOPA Images/Getty Images)
Graziella Valenti

Graziella Valenti

2 de março de 2023 às 16:53

Os investidores que esperavam ouvir a teleconferência de resultados da Petrobras (PETR3/PETR4) para entender o que pensa Jean Paul Prates, CEO da estatal escolhido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, terminaram o evento ainda no escuro. Nenhum caminho objetivo foi apontado: nem sobre dividendos, nem sobre venda de ativos, nem sobre investimentos. Nada.

A companhia, que está avaliada hoje em R$ 355 bilhões na B3, anunciou um total de R$ 216 bilhões em dividendos referentes a 2022. As parcelas finais desse montante, relativas ao quarto trimestre, serão pagas ao longo deste ano. O volume é superior, até mesmo, ao lucro líquido do período, que foi de R$ 188 bilhões, quase 77% maior do que no ano anterior.

Esse dinheiro seria suficiente para comprar qualquer companhia da bolsa brasileira, exceto a Vale e o Itaú. Mas a lista inclui, por exemplo, todos os demais grandes bancos, a fabricante de bebidas Ambev e a gigante JBS. Daria para cobrir o rombo de dez Americanas.

Mesmo com os pagamentos elevados, a companhia investiu US$ 10 bilhões no ano passado e fez, pelo segundo ano consecutivo, a maior adição de reservas de sua história: 2 bilhões de barrias de óleo equivalente. A geração de caixa operacional superou R$ 255 bilhões, um aumento superior a 25% em relação a 2021. A dívida líquida recuou mais de 15% na comparação anual, para R$ 216,5 bilhões. Com isso, a relação entre dívida líquida e Ebitda saiu de 1,09 vez ao fim de 2021 para 0,63 vez, em dezembro passado.

Dito tudo isso sobre o passado, ainda nada se sabe sobre o que esperar para 2023. Não é de se estranhar que, mesmo com a divulgação de um quarto trimestre forte, as ações da companhia operem em baixa nesta quinta-feira, dia 2. No pré-mercado, antes das falas do executivo, parecia que seria um pregão de comemoração: os papéis indicavam alta da ordem de 3%.

Depois da teleconferência, nenhuma luz. Ainda pior: Prates conseguiu trazer dúvidas sobre quase tudo que está sendo feito sem dizer o que pensa ou planeja. Sobre dividendos, um tema de grande insegurança do mercado, dadas as críticas do presidente Lula e de outros representantes do PT, Prates disse ter dúvidas sobre a necessidade de uma política clara.

No entendimento dele, essa é uma questão sobre a qual as empresas deveriam ter a maior flexibilidade possível, em especial uma com a Petrobras, que tem um papel sobre o país. "Para mim, está claro que é um “trade-off” entre deixar o dinheiro com a empresa, para ela investir em projetos de longo prazo, ou receber o recurso rapidamente."

Prates falou em transição energética, mas não falou de alocação de capital para isso. E ainda afirmou que “nenhum imperador” decidirá sobre a venda de ativos ou a saída de refinarias ou de "regiões inteiras" pela companhia. Essas serão decisões da empresa, seus executivos, conselheiros e acionistas.

A fala sobre a política de preços, outro tema caríssimo para o mercado,  tampouco deixou clara qual o plano ou caminho a ser adotado. O CEO, todo tempo, a cada assunto, enfatizou que a empresa vai ouvir investidores e analistas.

As ações só não recuam com maior intensidade, na opinião de analistas, porque já estão bastante descontadas pelo cenário de risco político e porque não houve surpresas ruins. Nos últimos 12 meses, os papéis recuaram cerca de 27%, enquanto o Ibovespa recuou 10%.

"Se não saiu nada de bom, de ruim também não veio", brincou um analista que acompanha a empresa em uma gestora renomada.

 

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Graziella Valenti

Graziella Valenti

Editora Exame IN

Criadora do EXAME IN, espaço dedicado à cobertura de negócios, com foco em mercado de capitais. Na EXAME desde março de 2020, ficou 13 anos no Valor Econômico, oito como repórter especial, sete anos na Broadcast, do Grupo Estado.