Semantix, empresa brasileira de IA, estreia na Nasdaq avaliada em US$ 1 bilhão
Companhia tinha planos de se listar nos EUA desde 2017 e, agora, conclui estratégia por meio de um SPAC com a Alpha Capital
Publicado em 4 de agosto de 2022 às 10:30.
A Semantix, empresa brasileira de inteligência artificial end-to-end, estreia na Nasdaq nesta quinta-feira avaliada em aproximadamente US$ 1 bilhão. As ações ordinárias e warrants começam a ser negociadas sob os tickers STIX e STIXW, cotadas a US$ 10. A listagem é produto da fusão com a SPAC Alpha Capital, que tem entre seus fundadores Rafael Steinhauser, (ex-CEO da Qualcomm América Latina e da Cisco Brasil), Alec Oxenford, co-fundador da OLX e Rahim Lakani (ex-ABInbev e Deutsche Bank). É um feito inédito: uma companhia brasileira de ‘deep tech’ (que desenvolve tecnologias complexas ou de alto impacto) sendo listada internacionalmente.
Antes de partir para os detalhes da operação, vale entender o que a Semantix faz. Dizer que se trata de uma empresa que fornece soluções de inteligência artificial pode parecer ‘mais do mesmo’, ou puro uso de jargão que veio com a ascensão das startups. Não é bem por aí. A companhia é referência no mercado latino-americano em inteligência artificial.
Foi fundada há 12 anos e, nos primeiros dois, se dedicou a oferecer capacitação e consultoria a empresas a respeito de temas como inteligência artificial e Big Data. Depois desse período, capitalizada, começou a investir no que se tornou seu principal diferencial: criar uma plataforma 100% proprietária para monitorar dados, governá-los, geri-los e escalar conforme a necessidade de processamento e análise para, no fim, trabalhar com os algoritmos – em vez de se dedicar somente a esta última parte.
O modelo de negócio é o de Software as a Service (ou SaaS, no jargão). Além dos materiais produzidos ‘dentro de casa’, a companhia também trabalha com o licenciamento de SaaS de terceiros – como é o caso da H2O.ai, empresa de inteligência artificial que atende hoje metade das empresas da Fortune 500 – e com consultoria de inteligência artificial e análise de dados.
A ascensão da tecnologia dentro das empresas deu o impulso de receita para a Semantix ao longo dos últimos sete anos. A empresa passou de um faturamento anual de R$ 5 milhões para chegar a R$ 300 milhões em 2021, com previsão de faturar R$ 400 milhões no próximo ano. Hoje, a empresa oferece seus serviços 300 clientes em 15 países. Entre eles, estão nomes conhecidos como Mercedes-Benz, AT&T, Bradesco e Samsung. Para entender como as soluções funcionam, cabe o exemplo. No banco brasileiro, toda a base de algoritmos do banco digital para oferecer investimentos em real-time é da Semantix. No caso da montadora alemã, os algoritmos produzidos pela Semantix fornecem insights aos operadores para tomarem decisões sobre qual é a melhor forma de estruturar a cadeia produtiva de caminhões em São Bernardo do Campo.
Esse histórico e a expansão anual de 40% em faturamento (já operando no azul, uma raridade entre empresas de alto crescimento) foram alguns dos fatores que levaram a Alpha Capital a escolher a companhia como a investida do SPAC, listado em 2021 e que captou inicialmente US$ 230 milhões para investir em uma empresa de tecnologia latino-americana. De acordo com a apresentação enviada à SEC, a margem bruta da Semantix foi de 41% em 2021 e deve atingir 46% neste ano, com previsão de chegar a 57% em 2023.
Outros fatores importantes levados em consideração, segundo Rafael Steinhauser, co-fundador do SPAC, foram a própria ascensão do setor de inteligência artificial e analytics, o potencial de expansão na América Latina, o fato de que se trata uma empresa de SaaS e com um upsell de 40% ao ano e a possibilidade de a plataforma ser utilizada por pequenas e médias empresas que precisam se digitalizar.
“Hoje, para fazer a jornada de criação do data lake, engenharia e machine learning é necessário contratar várias empresas, ter uma equipe interna, e a Semantix resolve esse problema de uma vez só ao criar sua própria plataforma, operando de forma end-to-end. Mais do que uma vantagem competitiva local, isso permite que a empresa tenha a chance de ‘vingar’ no mundo todo”, afirma Steinhauser, ao EXAME IN.
A oportunidade de se listar na Nasdaq atende a um plano relativamente antigo dentro da Semantix, uma meta traçada ainda em 2017. O plano original, segundo Leonardo Santos, CEO da Semantix, era atingir essa meta entre 2023 e 2024. “Porém, quando começamos a captar em 2021, o SPAC veio com esse acelerador e, mais do que o dinheiro, as pessoas que estavam por trás dele chamaram muito a nossa atenção. Conseguimos conciliar nosso grande objetivo de negócio de ser listado e de ter investidores com conhecimento no setor ao nosso lado e estamos muito felizes com isso”, afirma o executivo.
Com o relacionamento alinhado entre o SPAC e a companhia, veio o acordo, anunciado no fim do ano passado, mas que ainda aguardava a aprovação pelos acionistas – o que aconteceu no dia 2 de agosto. Para a transação, a companhia foi avaliada em US$ 1 bilhão. O plano inicial era oferecer US$ 324 milhões, sendo US$ 230 milhões da Alpha Capital (assumindo que nenhum acionista sairia do negócio, a chamada cláusula de ‘redemption’) somados aos US$ 94 milhões de um PIPE com investidores institucionais da companhia, incluindo Inovabra Ventures, Crescera e FJ Labs.
Com o redemption de 85% do capital levantado pela Alpha, no fim das contas foram investidos aproximadamente US$ 130 milhões. “Hoje em dia, a saída média dos investidores tem sido de 90%, então consideramos que tivemos algum êxito, por termos ficado abaixo deste indicador”, diz Steinhauser.
No detalhe do capital social da companhia, com base nas informações enviadas à SEC, Leonardo continua sendo o maior investidor pessoa física da empresa e o maior em geral ao juntar a própria participação com a de seus irmãos (somando 62,5% da companhia). No mais, 9,4% vai para os investidores PIPE, 15% para os acionistas da Alpha Capital e os demais para os sponsors da SPAC.
O dinheiro será usado principalmente para a expansão orgânica, especialmente visando a uma presença mais consistente nos demais mercados da América Latina, além dos Estados Unidos. Hoje, a maior parte da presença internacional da empresa está relacionada à demanda de clientes brasileiros que também operam em outros países.
Para conquistar os novos mercados, a estratégia será a de apostar principalmente na capacitação de profissionais. Além de “subir a barra” em contratações, nas palavras de Santos, a companhia acaba de abrir um laboratório próprio de P&D no MIT, a fim de estar por dentro das principais tendências e conseguir incorporá-las.
Em relação a aquisições, a Semantix fez três nos últimos dois anos, mas que representam ainda 10% da receita. Uma estratégia que o fundador – que continua à frente do negócio, vale ressaltar – ainda quer manter. Oportunidades não serão descartadas caso sejam complementares ao core business da companhia, é claro, mas o foco ainda será principalmente dentro de casa.
Em um mundo de humor amargo com ativos de tecnologia, em que matérias como “As principais companhias de tecnologia com as maiores perdas no ano” se tornaram comuns, os executivos acreditam que a Semantix guarda certo trunfo para atravessar esse período enquanto companhia aberta, uma vez que será listada a múltiplos mais atrativos do que as principais concorrentes.
Nas informações enviadas à SEC, consta um gráfico que mostra a companhia cotada a 11,1 vezes o múltiplo EV/Revenue, bem abaixo da Snowflake, por exemplo, que está cotada a 20,4 vezes, e da Datadog, cotada a 17,9 vezes. Olhando para as empresas brasileiras sob a mesma avaliação, a empresa fica bastante acima da Vtex, por exemplo (cotada a 3,7 vezes), Totvs (idem) e Locaweb (1,4 vez).
“É atrativo pensando principalmente que ninguém nos conhece, somos pequenos, nunca fizemos um earnings call, vamos ter que ganhar a confiança do mercado, o que vai levar a um período de volatilidade. uma vez que a gente começa a fazer earning calls e mostrar resultado, acreditamos que temos muito a crescer. não só pelo próprio crescimento da empresa mas pela confiança que o mercado vai ter em nós”, diz Steinhauser.
Do lado da Semantix, esse é um passo importante, na visão do CEO, a respeito de onde a companhia quer chegar. Ressaltando a visão de longo prazo da listagem, Santos deixa bem clara qual é a meta da empresa brasileira. “Nosso ‘sonho grande’ é ser uma empresa global de tecnologia brasileira. Temos muito potencial a explorar e estamos apenas no início”, diz o executivo.
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