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Varejo

Scanntech, startup de dados para varejo e indústria, capta R$ 210 mi com Warbug Pincus

Dinheiro será usado para aperfeiçoar tecnologia da plataforma, hoje usada por empresas como Coca-Cola e Ambev

Scanntech: empresa que conecta varejo e indústria viu proposta de valor decolar na pandemia (MoMo Productions/Getty Images)
Scanntech: empresa que conecta varejo e indústria viu proposta de valor decolar na pandemia (MoMo Productions/Getty Images)

Publicado em 19 de janeiro de 2023 às 10:02.

Última atualização em 19 de janeiro de 2023 às 17:07.

"Startups com teses sólidas e modelo de negócios sustentável tendem a encontrar financiamento". A frase, repetida à exaustão no último ano, em meio ao ambiente duro para novas empresas captarem dinheiro, encontra seu grau de verdade em uma transação anunciada nesta quinta-feira (19): a uruguaia Scanntech, empresa de inteligência de dados que conecta varejo e indústria, captou R$ 210 milhões com a Warbug Pincus, empresa global de private equity. Agora, a firma se junta à International Finance Corporation (IFC), Endeavor Catalyst e Hindiana como minoritária na startup (lembrando que a empresa foi uma das primeiras a receber um aporte da Sequoia, em 2011). Hoje, a Scanntech tem 140 clientes, entre eles, Ambev, Coca-Cola, PepsiCo e Unilever e fatura R$ 200 milhões por ano. Com os novos recursos, o plano é crescer principalmente no Brasil e continuar dobrando a receita a cada ano, assim como fez em 2022. 

A empresa, que surgiu em 1992 — mas engatou nos moldes em que opera hoje só em 2016 — viu o crescimento chegar mesmo ao longo da pandemia, época em que as restrições de mobilidade ficaram claras e o acesso à informação de qualidade se tornou ainda mais valioso. A empresa conseguiu surfar nessa onda graças ao modelo de negócio, que conecta as pontas do varejo e da indústria, fornecendo inteligência de mercado para as duas pontas. 

O modelo de negócio é o seguinte: de um lado, a Scanntech conecta sua API em varejos de diferentes portes, sem cobrar nada deles por isso. Para convencê-los, oferece relatórios personalizados em que conseguem ver quanto eles mesmos estão vendendo de determinados produtos e comparar o indicador com outros concorrentes na região. Além disso, a Scanntech ainda oferece material para promoções, de olho em ajudá-los a impulsionar vendas, e um relatório mensal, em que traz perspectivas gerais sobre o varejo no país. Hoje, são, ao todo, 30 mil lojas conectadas. 

Bem, se o dinheiro para manter a startup de pé não vem do varejo, de onde ele vem? Da indústria. Hoje, são mais de 150 conectadas à plataforma. A Scanntech oferece sua inteligência de vendas, captada no caixa do varejo físico onde está presente, para que indústrias consigam mapear regiões de interesse e entender, no fim das contas, o desempenho de cada produto na ponta. Conseguem observar como uma determinada categoria de produto está sendo consumida e, no limite, podem contar com a Scanntech para ‘fazer a ponte’ com varejos onde ainda têm uma presença tímida, por exemplo. Novamente, é possível analisar o desempenho de categorias inteiras, não só o próprio.

A precificação para o serviço é feita de acordo com o tamanho da indústria e da quantidade de SKUs que ela deseja analisar. Os dados são mostrados de forma anonimizada (não é possível ver as informações de clientes, como manda a LGPD) e o modelo de cobrança é feito no formato de assinatura, garantindo receita recorrente para a empresa.

Para garantir a satisfação dos clientes, a startup faz reuniões a cada quinta-feira com as indústrias parceiras, a fim de que mostrem para a empresa como estão usando a plataforma e que necessidades identificam — ou oportunidades de melhora. Esse é um dos principais fatores pelos quais, hoje, o churn (taxa de cancelamentos) da Scanntech é próximo de zero. 

A empresa conecta mais de 175 mil terminais de venda e informações relativas a R$ 550 bilhões anuais em vendas. O diferencial, além de captar dados do varejo físico, está na confiabilidade dos dados. O que a Scanntech mostra, em linhas gerais, vem principalmente de captações de vendas feitas no caixa das empresas. Esse é um dos diferenciais apontados em relação a outros players do mercado que oferecem serviços similares e usam projeções, por exemplo.

“As soluções da Scanntech se diferenciam de outras existentes no mercado ao oferecer informações precisas, com um nível de detalhamento, acuracidade e velocidade únicos. Nossa garantia aos clientes é fornecer informações de qualidade, sem a possibilidade de erros amostrais”, diz, em entrevista ao EXAME IN.

Essa proposta de valor chamou a atenção do fundo de private equity desde o início, há sete anos. Henrique Muramoto, sócio da Warburg Pincus no Brasil, afirma que chegou até mesmo a desafiar Polakof, ressaltando que o modelo de negócio parecia muito bom, mas que ainda havia o desafio de se provar. Em 2022, a Scanntech voltou a procurar o fundo, com números maiores do que os que havia prometido anteriormente.

É o quarto aporte da firma no Brasil em empresas ligadas à tecnologia. Em fevereiro de 2022, o fundo investiu US$ 100 milhões na Sólides, voltada para a gestão de recursos humanos de PMEs. Também tem no portfólio a Superlógica, companhia de software para gestão de condomínio,s e a fintech Blu, que oferece uma plataforma de gestão de recebíveis, além da empresa de software de comunicação digital Take Blip.

Para a Scanntech, ter a firma como sócia significa mais musculatura para crescer no Brasil. O investimento de agora, segundo Polakof, virá principalmente em tecnologia, para criar ainda mais soluções capazes de atender às necessidades das empresas com ainda mais 'filtros' do que podem acessar dentro da plataforma.

Questionado a respeito das diferenças entre as necessidades locais e as de outros países em que a startup está presente, o co-fundador destaca a disparidade do tamanho do país em relação aos demais. "Entender o que está acontecendo do sul ao norte do país é um desafio enorme. São hábitos diferentes, padrões de consumo diferentes", diz. Desvendá-los é uma missão recebida com prazer pela empresa uruguaia. Quem ganha são as empresas brasileiras: uma gestão cada vez mais centrada em dados é a base para o futuro, tanto da indústria quanto do varejo.

 

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