Robôs, reforço na logística e no crédito: as armas do Meli para ganhar a corrida na Black Friday
Neste ano, as vendas brutas da quinta-feira, véspera da data comercial, já foi similar à sexta-feira de 2023, indicando trajetória positiva novamente em 2024, diz Fernando Yunes, líder do Mercado Livre no país
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 29 de novembro de 2024 às 20:03.
Última atualização em 29 de novembro de 2024 às 20:05.
Funcionários trabalhando a todo vapor, música alta e 20 mil pacotes roadando por hora nas esteiras do centro de distribuição de Cajamar do Mercado Livre, o maior do grupo no país, e onde começaram a operar, desde fevereiro, 340 robôs autônomos cuja missão é ajudar a reduzir prazos de processamento de pedidos -- e, portanto, o tempo final de entrega das encomendas, fator tão crucial na disputa acirrada do varejo online.
A Black Friday entrou de vez no calendário do Mercado Livre, que passou a investir em marketing e ações comerciais específicas para a data a partir 2020. A varejista decidiu não divulgar o percentual de crescimento neste ano. Em 2023, o avanço foi de 80% no GMV (valor bruto de vendas, na sigla em inglês), numa combinação de volume e valor. Neste ano, o GMV da quinta-feira, véspera da data comercial, já foi similar à sexta-feira de 2023, indicando trajetória positiva novamente em 2024.
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"Os números de mercado da Neotrust mostraram avanço de 9% no GMV na quinta-feira e esse crescimento foi puxado pelo Mercado Livre", diz Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil. O grupo está vendo o consumidor mais confiante, aproveitando a oferta de crédito para tíquetes maiores, e também mais acostumado à Black Friday prolongada que o varejo tem adotado nos últimos anos, com ofertas em todo o mês. "Não está tendo picos de compras na comparação hora a hora", diz ele. O INSIGHT visitou a unidade na manhã da sexta-feira, 29.
A confiança de novo crescimento de vendas neste ano se fia na onda de investimentos do grupo. No total, em 2024 foram R$ 23 bilhões investidos, com foco especialmente em logística e na operação da fintech Mercado Pago, que prometem ser as molas propulsoras das vendas neste ano.
Na logística, a companhia inaugurou seis novos centros de distribuição, ampliando sua presença geográfica, com unidades no Ceará, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal. "O prazo de entrega é um fator crucial na escolha do consumidor. Então logística é um dos pilares importantes", diz Yunes. A expectativa é de que cinco novos CDs sejam inaugurados em 2025, mas esse número pode ser maior, indica o executivo.
Um dos investimentos do ano, os 340 robôs que começaram a operar em fevereiro na unidade de Cajamar também dão nova cara à operação de Black Friday, quando o volume de pedidos processados aumenta exponencialmente. Esta é a primeria Black Friday com eles em ação. Desde que começaram a operar, a companhia reportou redução de 20% no tempo de processamento de pedidos. Do CD de Cajamar saem pacotes para todo Brasil, sendo grande parte com entrega em até 24 horas.
Mas o ritmo de capex tem sido um ponto de atenção do mercado, dada a pressão sobre as margens. No terceiro trimestre, a margem operacional despencou 9,5 pontos percentuais, para 10,5%, com as ações despencando logo após a divulgação.
Para Yunes, a pressão de curto prazo existe, mas o foco da companhia está em um horizonte mais distante. "Estamos pensando nos próximos cinco ou dez anos. Olhando para isso, sim, faz sentido esse avanço que estamos fazendo e que vamos continuar fazendo depois disso também." Atualmente, segundo ele, dados de mercado indicam que a companhia lidera o varejo online com uma fatia de 40% das vendas totais.
Expansão do cartão de crédito
Além da logística, a companhia tem feito investimentos pesados para a expansão da sua frente de crédito no Mercado Pago, especialmente com cartões de crédito. A empresa aproveitou a Black Friday para acelerar a oferta de crédito, segundo André Chaves, vice-presidente sênior do banco digital no Brasil.
"É uma data importante porque o Mercador Livre tem muita atenção. Isso me ajuda a trazer mais clientes, a emitir mais cartões, a oferecer mais crédito. Agora eu tenho que manter esse relacionamento vivo ao longo do ano", diz Chaves. Nos últimos dois dias, o cartão do Mercado Pago foi o principal meio de pagamento da plataforma de e-commerce, algo inédito.
A estratégia foi estimular o uso do cartão do Mercado Pago, num momento em que os brasileiros têm mais acesso a cartão de crédito e um leque de opções nas suas carteiras. Para isso, estendeu o prazo de pagamento para até 24 vezes nas compras no Mercado Livre. As transações com cartão de crédito Mercado Pago entre 18 e 24 vezes aumentaram 90% e o tíquete médio das compras parceladas em 24 vezes tem sido 11 vezes maior do que o tíquete médio geral.
"É muito importante como gerimos essa oferta. Nunca vamos usar o crédito como gasolina comercial. Respeitamos os modelos de risco, mas reforçamos muito nossa capacidad ede concessão com investimentos em análise de dados.. Isso nos deixou muito confortável para expandir a oferta. Entendemos que a inadimplência está performando muito bem, os modelos de risco também. Então, estamos cômodos", diz o executivo do Mercado Pago.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado