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Raio X Anbima: pandemia abriu fosso entre investidor das classes A, B e C

Pesquisa ANBIMA identifica poupança forçada dos mais ricos porque não conseguiram gastar

Em 2020, 53% daqueles que conseguiram ter reserva aplicaram em produtos financeiros (Primeimages/Getty Images)
Em 2020, 53% daqueles que conseguiram ter reserva aplicaram em produtos financeiros (Primeimages/Getty Images)

Publicado em 19 de julho de 2021 às 08:14.

Última atualização em 19 de julho de 2021 às 12:19.

O futuro é incerto, investir não é para todos, mas conhecer os ativos financeiros é uma necessidade. Essas são algumas lições deixadas pela pandemia que, em 2020, ampliou a desigualdade social e também nos investimentos. Um fosso foi aberto entre as classes A e B e a classe C. Os dois primeiros grupos aceleraram suas aplicações; o terceiro interrompeu o hábito de poupar e, pior, aumentou seu endividamento.

O legado da pandemia é explícito na quarta edição da pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro realizada pela ANBIMA – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – em parceria com o Instituto Datafolha que será divulgada nos próximos dias. De escopo nacional, a sondagem ouviu, entre 17 de novembro e 17 de dezembro do ano passado, 3.408 pessoas das classes A, B e C economicamente ativas, que vivem de renda ou são aposentadas, informa Marcelo Billi, superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da ANBIMA.

Em entrevista ao EXAME IN, Billi afirma que, pela primeira vez, em 2020, houve divergência de comportamento dos investidores por classes de renda. “Tivemos dois mundos nos investimentos. A classe A e B gastou menos porque não podia gastar. Não viajou, não foi a restaurante ou festas e fez uma poupança forçada ou involuntária, enquanto a classe C pagou contas e se endividou. Até então, o Raio X do Investidor apontava a mesma direção ascendente de aplicações, ainda que com percalços. Em 2020, ocorreu uma quebra da tendência.”, informa.

A classe C é a que tem menor participação no total de investidores no país, 30%. As classes A e B estão, respectivamente, com 72% e 54% do bolo. E é no Sudeste que se encontram 48% dos investidores financeiros, região seguida por Sul e Nordeste, ambas com parcela de 16%, Centro-Oeste com 14% e Norte com apenas 6% do total.

O Brasil “investidor” tem, em média, 42 anos, renda média mensal familiar de R$ 7.100,00 e é composto em 35% de assalariados registrados, 15% de freelancers e 15% de desempregados, sendo que 15% têm ensino fundamental, 43% ensino médio e 42% ensino superior.

Mais conhecimento

A intensificação das aplicações financeiras em 2020 observada nas classes A e B levou a uma explosão de conhecimento sobre produtos. “Espontaneamente, as pessoas passaram a pesquisar e a saber mais sobre todas as modalidades de investimentos. E os dados da ANBIMA confirmam aplicações mais pulverizadas em volume financeiro e aumento também no número de participantes do mercado, número de cotistas em fundos por exemplo. Essa tendência vinha ocorrendo desde 2019, mas foi intensificada em 2020. Os valores das aplicações aumentaram”, diz Billi que destaca também o fato de uma grande proporção de pessoas ter percebido que precisa ter um pé de meia.

O executivo da ANBIMA pondera que não está claro o quanto dessa percepção dos investidores sobre a importância de ter reservas financeiras vai se transformar de fato em mudança de comportamento. “Na verdade, não sabemos se o ‘novo’ normal será o ‘velho’ normal”, brinca.

O Raio X do Investidor Brasileiro constatou que, pela primeira vez, o aplicativo de banco foi o instrumento mais utilizado para realizar investimentos, ultrapassando a ida presencial à instituição. Embora a pandemia tenha imposto o isolamento social e muitas agências tenham funcionado de forma intermitente sobretudo no ano passado, mais da metade dos entrevistados ainda quer algum contato com gerentes e consultores para ter mais conforto e segurança e compreender qual é a aplicação financeira mais adequada. Em 2020, o uso do aplicativo para investimento mais que dobrou, passando de 30% para 62% da preferência. A visita presencial às agências caiu para 55%, de 71% observados em 2019.

A ANBIMA revela que, dentre os brasileiros que conseguiram fazer alguma reserva em 2020, 53% colocaram o dinheiro em produtos financeiros, 11 pontos percentuais a mais do que se viu no mapeamento do ano anterior. Pela primeira vez, esse conjunto ultrapassa a soma de todos os outros destinos dados para as economias, abrangendo uma população estimada em 20 milhões de brasileiros.

Embora tenha aumentado o conhecimento sobre opções de investimento, a mais conhecida e a veterana caderneta de poupança. Independentemente de idade ou classe social, a poupança é o investimento preferido, utilizado por 29% dos brasileiros que aplicam recursos no mercado financeiro – um contingente de 30 milhões de pessoas das classes A, B e C.

Contudo, o Raio X do Investidor também revela que a preferência pela caderneta caiu 8 pontos percentuais em 2020, ante um ano antes. Em segundo lugar entre os ativos mais conhecidos estão ações negociadas na Bolsa mas que respondem por apenas 3% das aplicações totais. Os títulos públicos via Tesouro Direto ocupam outros 3%, enquanto títulos privados e fundos bancam, respectivamente, 5% da carteira do investidor brasileiro.

E a aposentadoria?

Duas informações que constam da quarta edição do Raio X do Investidor Brasileiro reforçam a necessidade de Educação Financeira para evitar ou ao menos minimizar problemas futuros na gestão dos orçamentos familiares e de um esforço do governo que é recorrente no país: prover aposentadorias.

A pesquisa realizada pela ANBIMA em parceria com o Datafolha mostra que apenas 3% dos entrevistados aplicam recursos em planos de previdência ou VGBLs e 56% não conhecem ou não utilizam qualquer modalidade de aplicação financeira.

Há uma grande diferença de percepção entre aposentados e não aposentados quando o assunto é a vida financeira, diz a sondagem. Enquanto os brasileiros já aposentados admitem que o padrão de vida piorou e os gastos aumentaram, quem ainda está na ativa projeta uma vida financeira melhor e com gastos estáveis ou em queda.

Apesar do otimismo dos ainda não aposentados, os entrevistados contam com participação de 48% da aposentadoria vinda do INSS.

E aqui cabe a pergunta: terá sido a Reforma da Previdência suficiente?

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