Petz e Cobasi selam ‘fusão de iguais’ que cria gigante de R$ 7 bilhões
Negociada há mais de três anos, a transação avalia a Petz a R$ 7,10 por ação, o dobro do valor da companhia na Bolsa
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 19 de abril de 2024 às 07:23.
Última atualização em 19 de abril de 2024 às 07:32.
Petz e Cobasi chegaram a um acordo para uma ‘fusão de iguais’, numa operação que cria uma líder inconteste no mercado pet no Brasil, com faturamento de R$ 6,9 bilhões, segundo fontes ouvidas pelo INSIGHT.
Após mais de três anos de conversas, o valuation, que tinha se tornado o principal entrave nos últimos meses com a queda livre das ações da Petz na Bolsa, foi resolvido – com a Cobasi ignorando o valor de tela da concorrente.
Os acionistas de cada uma das empresas vão ficar com 50% do negócio combinado.
A grande questão era que a Cobasi estava marcada a cerca de R$ 3 bilhões nos balanços das gestoras Kinea e Tyton Capital, que são minoritárias no negócio, enquanto após uma queda de mais de 40% no último ano, a Petz hoje vale R$ 1,6 bi em Bolsa.
As ações da Petz estão sendo avaliadas em R$ 7,10 no negócio – mais que o dobro da cotação de fechamento de ontem, de R$ 3,50–, o que implica um valuation de R$ 3,3 bilhões para o negócio.
A Cobasi vai pagar ainda R$ 450 milhões em caixa a serem distribuídos para os acionistas de Petz para fazer o acerto de contas.
Na prática, a operação está avaliando a valores próximos duas empresas que têm perfis e tamanhos muito parecidos.
A Petz tem 249 lojas, receita bruta de R$ 3,8 bilhões e um EBITDA de R$ 267 milhões em 2023. Já a Cobasi tem 234 lojas, fatura R$ 3,1 bilhões e fez um EBITDA de R$ 197 milhões no ano passado.
Paulo Nasser, atual CEO da Cobasi, ficará à frente da empresa combinada. Sérgio Zimermann, fundador e CEO da Petz, assumirá como presidente do conselho.
Um acordo de acionistas será firmado entre o fundador da Petz – que hoje tem 49% das ações da companhia e ficará com 24,5% da empresa combinada – e a família Nassar, fundador da Cobasi, que tem 89% das ações da companhia e a gestora Kinea, que tem outros 7,8%.
Zimermann, que vinha num ritmo voraz de compra de ações da Petz desde o começo do ano, terá quatro membros para o conselho de administração; os Nassar e a Kinea, outros cinco.
Sinergias
A fusão entre Petz e Cobasi reduz as pressões de competição num momento em que o setor está menos racional em preços, com a desaceleração no crescimento após anos de boom no mercado pet no pós-pandemia.
Além de benefícios de escala em negociações com fornecedores e as tradicionais sinergias de backoffice, a transação reforça a omnicanalidade: a Cobasi é mais forte no atendimento em loja, enquanto a Petz vem construindo uma fortaleza no online e em sistemas.
Um dos pontos mais relevantes, contudo, é potencial otimização do plano de expansão e abertura de lojas das duas empresas, que tem uma ampla sobreposição.
Um estudo do JP Morgan, feito no ano passado, mostra que 22% das lojas da Petz estão a um raio de um quilômetro de distância de pelo menos uma loja da Cobasi, enquanto cerca de 60% das lojas estão a um raio de 3 quilômetros de uma loja da rival.
No mercado, o principal temor com a demora nas negociações era de que, em algum momento, a canibalização entre as lojas fosse grande o suficiente para inviabilizar um deal.
Apesar de ter a liderança consolidada – com um fosso a separando da PetLove, terceira colocada, com R$ 1 bilhão –, as empresas atuam num mercado amplamente pulverizado, com espaço grande para ganhos de market share e consolidação.
Nesse contexto, num momento de Selic ainda alta e muitos players do varejo endividados, a nova empresa já nasce desalavancada, com um caixa líquido de R$ 200 milhões, vindo principalmente de Cobasi.
As empresas têm 60 dias de exclusividade nas negociações, prorrogáveis por mais 30, e agora vão partir para a due diligence. A Petz está sendo assessorada por Itaú BBA e pelo Lefosse Advogados. A Cobasi está com o Morgan Stanley e o Pinheiro Neto Advogados.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.