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Tecnologia

Oracle tem seu momento Nvidia e sobe mais de 40% com demanda por IA

Carteira de pedidos por infraestrutura em nuvem quadruplica e chega a quase meio trilhão – consolidando a empresa como uma líder improvável na nova fronteira tech

Safra Catz, CEO da Oracle: Carteira de pedidos para infraestrutura em nuvem deve superar meio trilhão (Justin Sullivan)
Safra Catz, CEO da Oracle: Carteira de pedidos para infraestrutura em nuvem deve superar meio trilhão (Justin Sullivan)

Publicado em 10 de setembro de 2025 às 12:29.

Última atualização em 10 de setembro de 2025 às 14:42.

O lançamento do novo iPhone costumava ser um dos principais eventos não só para a Apple (AAPL), mas para todo o mercado tech. Mas o grande evento da empresa da maçã ontem não animou, em grande parte porque não trouxe avanços significativos naquilo que mais importa hoje: a inteligência artificial (IA).

Na contramão, quem roubou o show foi a bem menos midiática Oracle.

Ao menos, até agora. Seu balanço mostrou um lucro até um pouco abaixo do esperado, mas o que chamou a atenção foi o backlog de sua unidade de infraestrutura de computação em nuvem, que saltou nada menos que 350% (você leu certo), para US$ 455 bilhões.

A CEO Safra Catz diz estar confiante que a carteira vai superar o meio trilhão em breve.

As ações sobem nada menos que 40% na Nyse, adicionando praticamente US$ 200 bilhões em valor de mercado, deixando a empresa próxima do clube do trilhão e colocando o veterano Larry Ellison como o homem mais rico do mundo, à frente de Elon Musk.

É mais um sinal inequívoco dos novos tempos da tecnologia, com as oportunidades gigantescas de crescimento vindo a partir da IA generativa — e, em especial, da infraestrutura em nuvem necessária para rodar a nova geração de modelos que estão sendo desenvolvidos em velocidade espantosa.

“O resultado da Oracle nos dá um vislumbre de um futuro que não vemos em 25 anos cobrindo o setor de softwares”, disse o analista John DuFucci, da Guggenheim, a Barrons.

A comparação com a Nvidia é inevitável. No começo de 2023, a companhia que era vista como uma fabricante de chips sofisticados para videogames chocou Wall Street com uma projeção de receita gigante ligada à demanda por seus processadores de IA. A ação subiu US$ 200 bilhões em apenas um dia — e nunca voltou atrás.

A Oracle, por muito tempo, foi vista como uma gestora de base de dados e de softwares corporativos mais avançados. Os números de ontem mostram que esse não é realmente o caso.

Os mais céticos podem argumentar que há algum eco com 1999. Essa foi a última vez que as ações da Oracle subiram 33% em apenas um dia, saindo de US$ 9 para US$ 40, apenas para voltar ao patamar inicial três anos depois quando a bolha das ponto-com tinha estourado.

O cenário agora parece ser diferente. Há muito investimento contratado a frente: somente os gigantes listados e a OpenAI já se comprometeram com mais de US$ 400 bilhões em investimento em IA.

Oracle, Microsoft, Amazon e Alphabet são as únicas capazes de prover esse espaço com escala e flexibilidade.

A reinvenção da Oracle

O reposicionamento da Oracle muito provavelmente vai parar nos livros-texto de estratégia corporativa. Antes vista como um dinossauro que ficou atrás na corrida tecnológica, a companhia baseou sua modernização em duas teses centrais.

Primeiro, uma espécie de vantagem de retardatário. A Oracle de fato chegou tarde à primeira corrida da computação em nuvem — onde a AWS, da Amazon, ganhou imensa vantagem —, mas fez do limão uma limonada.

Sua infraestrutura de mais de uma centena de data centers, construída nos últimos anos, é projetada para lidar com as necessidades específicas de treinamento de modelos de IA e parte já foi amortizada ao longo dos últimos anos.

Com isso, a empresa se posicionou como uma opção competitiva e de portfólio vasto em um momento de demanda explosiva por infraestrutura de computação de alta performance.

Outra vantagem é que a Oracle é vista como um player ‘neutro’. A companhia não está desenvolvendo seus modelos próprios de IA, o que dá mais conforto para empresas como OpenAI, xAI, Mistral AI e Anthropic, que veem a empresa mais como uma parceira do que uma concorrente.

Isso lhe abriu portas para acordos estratégicos também com concorrentes na nuvem, como Microsoft, Google e Amazon, que permitem que os bancos de dados da Oracle rodem em suas clouds. Na contramão, a Microsoft usa os servidores da Oracle para rodar seu chatbot Bing com IA.

Um crescimento exponencial como a Oracle está experimentando não vem sem custo. Só neste ano fiscal, a companhia deve gastar 65% mais em investimentos do que no anterior, chegando a US$ 35 bilhões.

Nos últimos seis anos, o capex aumentou seis vezes. Ainda assim, numa corrida que está apenas começando, os investidores estão premiando mais gastos para abrir vantagem na largada do que o conservadorismo.

Na Apple, o patamar de investimentos está praticamente estacionado no mesmo período. O progresso em IA, idem.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do Exame INSIGHT

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

André Lopes

André Lopes

Repórter

Com quase uma década dedicada à editoria de Tecnologia, também cobriu Ciências na VEJA. Na EXAME desde 2021, colaborou na coluna Visão Global, nas edições especiais Melhores e Maiores e CEO. Atualmente, coordena a iniciativa de IA da EXAME.

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