Oferta de Sabesp terá venda apenas de ações do Estado
Ideia de levantar recursos para o caixa da companhia foi abandonada, para maximizar valor das ações que serão vendidas pelo governo paulista
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 21 de maio de 2024 às 12:47.
Última atualização em 21 de maio de 2024 às 18:23.
Prestes a ser lançada, a oferta para privatização do Sabesp deve ser inteiramente secundária, isto é, englobará apenas a venda de uma fatia de até 30% do capital que está nas mãos do Estado de São Paulo, segundo fontes ouvidas pelo INSIGHT.
A ideia de ter uma fatia primária, que podia chegar a até R$ 6 bilhões foi abandonada nas últimas semanas, diante do momento difícil do mercado de capitais e do desejo do governo de maximizar o valor a ser recebido pelos seus próprios papéis.
Uma das avaliações era de que rechear o caixa da companhia poderia ser uma maneira de aumentar o apetite dos investidores estratégicos para a operação. Mas venceu a percepção de que o overhang, com a oferta de uma maior quantidade de ações, poderia acabar puxando o preço da fatia que vai a mercado para baixo.
“A Sabesp tem alavancagem baixa e gera caixa – ou seja, tem ampla capacidade de tomar recursos no seu balanço para fazer os investimentos necessários”, pondera um interlocutor.
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O plano do Estado é lançar a oferta na primeira semana de junho – um prazo que pode escorregar uma ou duas semanas principalmente para acomodar investidores estratégicos que ainda estão levantando recursos e estudando parceiras. O Conselho Diretor do Programa de Desestatização do Estado (CDPED) se reúne na quinta-feira (23) para fechar os detalhes da modelagem.
Na oferta será feita em duas etapas: na primeira, investidores estratégicos vão apresentar suas ofertas por uma fatia de 15% da companhia, que ficará amarrada num acordo de acionistas com o Governo de São Paulo (cuja fatia deve cair para de 50,3% para cerca de 20%) por um período de cinco anos.
As duas ofertas de melhor preço vão a mercado e os investidores financeiros lançam seus preços, com base no que acreditam que seja o estratégico que vai gerar mais valor.
Vence a proposta que receber mais ofertas, respeitada uma trava do múltiplo do book ofertado. O martelo ainda não está batido, mas a tendência é que a oferta deve tenha preços diferentes para o estratégico e para os investidores financeiros – a vencedora será aquela que tiver o melhor preço médio entre a proposta de estratégico e o preço de mercado.
Uma condição é que a oferta de mercado precisará ter um múltiplo mínimo em relação ao book (a quantidade de ações ofertada na segunda tranche), que deve girar entre 2 ou 3 vezes.
É um patamar considerado ótimo para atrair formar uma base acionária de qualidade, com bom equilíbrio entre investidores de mercado e hedge funds e evitar muita volatilidade do papel.
Às vésperas do lançamento da oferta, os investidores estratégicos estão se movimentando para azeitar suas propostas.
Na mesa, são dados como mais firmes a Aegea, que está levantando fundos em parceria com a gestora Perfin, e a Equatorial, que vem voando abaixo do radar, mas está intensamente envolvida no processo.
A IG4, de Paulo Mattos, também é candidata e está levantando fundos em parceria com a Water Asset Management. A francesa Veolia é apontada como outra interessada, enquanto a Cosan vem dizendo a investidores que deve ficar de fora.
A grande questão é qual será o preço mínimo estabelecido pelo Estado – investidores apostam em algo um pouco abaixo da base regulatória de ativos, que hoje equivale a R$ 90 por ação.
A Sabesp hoje é negociada a R$ 76,82 e as ações têm operado com mais volatilidade conforme a oferta se aproxima. No últimos 30 dias, os papéis caíram 7%.
“Estamos naquele momento em que todo mundo vai downplay, dizendo que vai ficar de fora e vendendo dificuldade para tentar trazer esse preço para baixo”, pondera um gestor otimista com o papel.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.