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Mercados

O céu, o inferno e o purgatório dos mercados em 2024, segundo a Kinea

Para gestora com mais de R$ 100 bi sob gestão, o "paraíso" tem renda fixa global e bolsas de mercados emergentes, como o Brasil

Kinea: seção mais negativa de ativos está ligada à Europa (Ilustração por Gustave Dore e foto de D Walker/Getty Images)
Kinea: seção mais negativa de ativos está ligada à Europa (Ilustração por Gustave Dore e foto de D Walker/Getty Images)
Karina Souza

Karina Souza

2 de janeiro de 2024 às 10:45

O céu, o inferno e o purgatório. A analogia à Divina Comédia, de Dante, foi a forma que a Kinea Investimentos, gestora com mais de R$ 100 bilhões sob gestão, encontrou para dividir com investidores suas perspectivas a respeito de diferentes ativos para 2024, em carta divulgada nesta sexta-feira.

Para a firma, o “Paraíso” toma como ponto de partida o controle inflacionário global, que deve resultar em um ciclo de cortes de bancos centrais em 2024. Dessa forma, a renda fixa global, junto com os ativos de risco em mercados emergentes, devem  ser os grandes destaques ao longo do próximo ano. 

Para os ativos de risco na bolsa brasileira, a visão é de que há uma grande quantidade de ativos ainda bastante depreciados. Somando a queda de juros a um cenário melhor para o ciclo de crédito (também impulsionado por uma Selic menor) a casa vê oportunidades a serem exploradas na B3.

Entre as principais escolhas na bolsa local, estão: Cury, Direcional, PetroRio, Equatorial, Sabesp, Copel, Eletrobras, Iguatemi e Allos, Hapvida, SLC Agrícola e São Martinho.

Ainda dentro da tese de queda de juros global, a casa também olha para a bolsa norte-americana, focando principalmente em empresas ligadas à inteligência artificial, semicondutores e mineradoras de urânio.

“Outro tema que consideramos potencialmente relevante para a bolsa global é a eleição de 2024 nos Estados Unidos, com o potencial para o retorno de Donald Trump para cadeira presidencial. Esse cenário seria positivo para um grupo de ativos que tendem a se beneficiar de governos republicanos, tais como biotecnologia e defesa”, diz a Kinea.

O purgatório

Dentro da seção de ativos menos promissores para o ano, a Kinea aponta principalmente a China. “Aqui, a paisagem econômica é uma dicotomia de sombras e luz. Incentivos governamentais brilham, mas o peso de um mercado imobiliário acorrenta seus pés”, diz a casa.

Mesmo com esse ponto de observação, a firma faz uma ressalva de que os mercados chineses podem subir ao longo do próximo ano, impulsionados por diferentes estímulos econômicos colocados em prática no país. Eles vêm em diferentes frentes:no campo monetário, cortes de taxas de juros; no fiscal, antecipação e cotas de emissão de títulos de governos locais; no setor imobiliário, diferentes medidas para estimular a demanda; e na bolsa, direcionamentos para os fundos de pensão apoiarem o mercado de capitais. 

“Entretanto, imaginamos que esse estímulo seja mais eficaz em incentivar áreas onde o estrutural seja melhor dentro da economia. Hoje acreditamos mais no consumo e produção industrial, com recuperação do ciclo de PMI, que em uma recuperação mais significativa do mercado imobiliário local”, diz a Kinea.

Além da China, a casa vê o petróleo no purgatório global. Apesar do peso dos sauditas nesse assunto, com todo o aumento da oferta em outros países ao longo do ano, a firma vê os atuais cortes de preços como insuficientes para apertar o mercado, diante do estoque formado. 

“No momento, nossas análises apresentam uma balança mais equilibrada para 2024. Os estoques permanecem em queda no ocidente, mas ainda elevados na Ásia, particularmente na China”, diz a Kinea. 

O purgatório se completa, ainda, com as taxas longas de juros, uma das principais surpresas em 2023. “Para 2024, imaginamos essas taxas entre a cruz e a espada. Por um lado, ainda teremos elevadas emissões de títulos de mais longo prazo nos Estados Unidos (coupons) ao longo dos próximos trimestres. Por outro lado, imaginamos que os bancos centrais ao redor do planeta iniciem um ciclo de corte em 2024, o que deve reverberar através da curva longa”, diz a casa.

O Inferno

No último degrau, o Inferno, está a Europa. Para a firma, as moedas do continente devem sofrer com bancos centrais afrouxando a política monetária rapidamente, em resposta à atividade e controle da inflação. “Nem pujante o suficiente para se diferenciar como a economia norte-americana, nem cheia de estímulos o suficiente para se recuperar como a China”, diz a carta. 

Ampliando o olhar sobre as moedas, a Kinea estima que o banco central europeu seja um dos primeiros, entre os países desenvolvidos, a cortar juros em 2024 — o que deve trazer impactos negativos para o euro. 

Em uma visão específica, a libra segue desafiada ainda por resquícios do Brexit, somados à atividade econômica fraca do Reino Unido. O franco suíço também segue como um ativo de pouca esperança, considerando que foi usado como instrumento de controle inflacionário a partir de diferentes intervenções monetárias. “Essa política pode ser revertida em 2024, o que traria pressões no sentido de depreciar a moeda”, diz a Kinea.

Se as moedas apresentam pouca esperança, a casa vê como oportunidade trabalhar aplicado em juros no continente. O racional é o de que, ao tentar agir como um espelho do FED, o BC local pode ter exagerado no aperto monetário. 

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.