Gol compra MAP Linhas Aéreas por R$ 28 mi e diz que não fará "loucuras"
Constantino Júnior quebra silêncio e enfatiza que é comprador, mas que não assumirá "dívidas impagáveis" em nome da consolidação
Publicado em 8 de junho de 2021 às 21:32.
Última atualização em 18 de outubro de 2021 às 07:53.
A Gol fechou nesta terça-feira, dia 8, a aquisição da MAP Linhas Aéreas, da Voepass. Trata-se de um movimento pequeno em valores, mas grande em significado, pelo momento. O valor do negócio é de R$ 27,8 milhões, sem considerar os compromissos financeiros que serão assumidos da empresa — sendo R$ 25 milhões em dinheiro e a diferença em 100 mil ações preferenciais. A transação, para ser efetivada, depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A MAP atua a partir de dois aeroportos, Manaus e Congonhas. No agitado aeroporto paulista, o mais importante do país para voos domésticos, a Gol vai acrescentar 13 pares de slots com essa aquisição — possui hoje 116 pares. Trata-se de um aumento, portanto, superior a 10%. Já o aeroporto amazonense é de livre acesso.
Em entrevista ao EXAME IN, o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, explica que a Gol vai operar as rotas atuais da MAP com aviões Boeing, mantendo seu modelo de frota única. A MAP usa turbo-propulsores. Essas aeronaves somente serão utilizadas, de acordo com o executivo, em eventuais locais que não comportarem os 737 adotados pela empresa.
Esse não é o primeiro sinal da Gol de que a empresa já está vivendo o “pós-pandemia” no setor de aviação — um dos mais fortemente afetados pela crise sanitária global da Covid. “Nós estamos entre as únicas três companhias aéreas do mundo que conseguiu, nesse período conturbado, amortizar dívida e, simultaneamente, reduzir frota, mesmo com momento em que as receitas chegaram a ficar entre 20% e 30% do normal. E isso sem adotar nenhum programa de auxílio de governo”, destaca Kakinoff.
A expectativa é que, a partir da efetivação da compra da MAP, a Gol lance novas rotas, mas o executivo prefere ainda não dar detalhes a respeito e manter o segredo. “Normalmente, anunciamos junto com a oferta comercial e, como expliquei, a transação ainda precisa ser aprovada pelos órgãos oficiais”, diz o presidente.
“A Gol tem atravessado com disciplina e foco esse momento. Estamos abertos e dispostos à consolidação, desde que isso não prejudique o esforço já realizado e sem assumir dívidas impagáveis”, enfatiza Constantino de Oliveira Júnior, presidente do conselho de administração e membro da família controladora, que também participou da conversa com o EXAME IN. “Estamos na posição de compradores, de consolidadores, mas sem loucuras”, completa.
Júnior, como é conhecido, estava há tempos sem conceder entrevistas. A quebra de silêncio não deixa dúvidas de que a mensagem contém um recado claro ao mercado a respeito das recentes notícias de que a Azul teria planos de fazer aquisições e que seus alvos potenciais poderiam ser a Latam (em processo de recuperação judicial nos Estados Unidos) e, até mesmo, a Gol.
Quando questionado se existe espaço para diálogo a respeito de uma eventual venda ou fusão da companhia, Constantino é ainda mais claro: “Após a incorporação da Smiles, nossa posição de controle é equivalente a 56% do capital total da Gol. Não faremos aventuras de curto prazo. Estamos aqui para defender a perenidade do negócio, ou seja, o valor no longo prazo.”
Dada a concentração da família no capital da empresa (uma das maiores do setor no mundo), dificilmente qualquer fusão ocorreria sem que, no resultado final, os Constantino não fossem ou majoritários ou os acionistas de referência. O valor de mercado da companhia está em R$ 10,3 bilhões. A Azul, por sua vez, é avaliada em R$ 16,8 bilhões.
Publicamente, a companhia já atualizou suas expectativas para o segundo semestre de 2021. Espera que a taxa de ocupação alcance 81%, ante os 79% anteriormente projetados. Além disso, acredita que os custos recorrentes serão 40% inferiores ao segundo semestre de 2020 — a expectativa anterior era redução de 27%. Para dar a temperatura da recuperação: em maio, por exemplo, na comparação com maio do ano passado, o total de decolagens aumentou mais de 400%.
Antes da compra da MAP, a Gol já havia demonstrado que estava com foco no pós-covid quando a família controladora anunciou uma capitalização de quase R$ 270 milhões na empresa (US$ 50 milhões), visando especialmente a compra de aeronaves — ou seja expansão de frota. A capitalização total pode alcançar até R$ 512 milhões, considerando a fatia dos investidores minoritários. “Nossa percepção, é que a demanda vai voltar, e já está voltando, com muita força”, comenta o chairman, a respeito do investimento realizado pelos controladores.
Boeing
A Gol realizou, durante a pandemia, a negociação do acordo com a Boeing (sua fornecedora única de aviões) para ressarcimento em razão das encomendas para o modelo 737 MAX, que sofreu uma crise após dois acidentes e um longo processo de revisão de suas autorizações.
O valor da indenização não foi revelado pela empresa, mas veículos especializados no setor anunciaram que foi de US$ 412 milhões. Na ocasião da revisão do contrato, houve uma negociação das encomendas e o total, para entrega até 2027, foi reduzido em 34 unidades. Ficaram 90 pedidos firmes, sendo oito já entregues.
Quando questionado agora se há interesse da Gol em recompor os pedidos, Kakinoff disse que “não descarta, assim como também fazer ainda novos”, ou seja, ainda mais. No setor, os comentários são de que os ventos são para lá de favoráveis para expansão, dada a crise da pandemia e o que ela fez sobre preços dos aviões.
O projeto de atualização da Gol ficou atrasado. Entretanto, até mesmo isso acabou por ser benéfico, pois a empresa tinha contratos de leasing de curto prazo para suprir o atraso nas entregas do Max que trouxeram facilidade para redução da frota, durante o período mais difícil da pandemia.
Cenário
Kakinoff está otimista com a demanda. “É verdade que acreditamos em uma redução das viagens corporativas entre 20% e 30%, pela substituição pelos encontros virtuais”, comenta ele. Contudo, o executivo destaca que a demanda reprimida para lazer está se mostrando muito expressiva. “Não é projeção. É o que estamos vendo ocorrer lá fora já. O aumento da demanda por lazer pode anular ou até superar o efeito da queda no turismo de trabalho.”
O grande desafio, segundo ele, será descobrir quanto tempo vai durar — tanto a redução na demanda corporativa, quando a super procura por lazer. “Tem muitas empresas que adotaram o home office como definitivo, mas também muita companhia entendendo também que para seu negócio a vida online não faz sentido.”
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