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Fintechs: descentralização da web 3.0 e cripto vão ‘embelezar’ setor no futuro

Participantes do Web Summit, em Lisboa, apostam que blockchain e mundo cripto vão ganhar mais e mais espaço

Fintechs: universo dos criptoativos será frente de diferenciação com bancos (MR.Cole_Photographer/Getty Images)
Fintechs: universo dos criptoativos será frente de diferenciação com bancos (MR.Cole_Photographer/Getty Images)

Publicado em 2 de novembro de 2022 às 16:59.

Última atualização em 2 de novembro de 2022 às 17:45.

“Não somos as noivas mais bonitas do momento”, afirmou Maximilian Tayenthal, co-fundador e co-CEO da N26, uma das maiores fintechs do mundo a atuar como banco digital, fundada na Alemanha e contemporânea à criação do Nubank no Brasil. A constatação sobre seu negócio e setor, sem nenhum constrangimento, ocorreu durante apresentação do empreendedor no Web Summit, em Lisboa, Portugal, em uma das mais concorridas palestras do dia entre os temas financeiros.

A N26 iniciou neste ano sua operação no Brasil. Quando deu a largada, o CEO local, Eduardo Prota, resumiu qual a novidade do posicionamento de mercado: ser fincare, bem além de fintech. Ao fim do ano passado, a N26 captou US$ 900 milhões, avaliada em US$ 9,2 bilhões. No total, nos diversos países que opera, tem mais de 8 milhões de usuários.

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Tayenthal acredita que as ofertas de ações de empresas de tecnologia deverão voltar com força, mas só em 2024. Por isso, por mais que uma oferta pública inicial (IPO) faça sentido para o futuro da N26, ela não acontecerá no curto prazo.

“Nosso foco nesse momento é disciplina financeira, para reduzirmos nossa necessidade de recursos o máximo possível. Não estou dizendo que não vamos mais precisar de capital, mas o objetivo para agora é ser cada vez mais financeiramente independente”, afirmou, mas sem fornecer uma estimativa de quando vai acontecer um IPO. “Nós estamos muito mais preparados para isso agora, mas o mercado ainda não está”, completou, se referindo ao momento mais desafiador para as bolsas de valores, com o cenário global de inflação e taxa de juros em alta.

O Nubank que o diga. Enquanto a N26 fechava sua maior captação, a fintech brasileira, fundada por David Velez, estava às vésperadas da listagem na Nyse. Chegou à bolsa americana avaliada em US$ 42 bilhões e hoje vale pouco mais da metade desse montante. Todo setor enfrenta questionamentos sobre quando as empresas darão lucro afinal.

Apesar de reconhecer o desafio da situação para quem precisa de capital neste momento, Tayenthal tentou explicar que para a N26, uma fintech que possui depósito de clientes tal qual como bancos, as receitas podem até aumentar. “Há um ano, se eu colocasse os recursos dos depósitos dos meus clientes em bonds alemães, o retorno era negativo. Agora não mais.”

Logo após a apresentação de Tayenthal, um grupo de empresários de diversos países do mundo debateu o futuro das fintechs. Em meio a muitas novidades e incertezas, duas clarezas: os grandes bancões, com seus legados e suas “toneladas” de poder não vão desaparecer, mas tampouco a vida ficará mais fácil.

O futuro das fintechs

A disrupção do setor financeiro começou pela combinação entre ‘usabilidade’ e ‘custo’ que as fintechs trouxeram. Os bancos digitais surgiram e, de repente, cortaram as tarifas — ou até sumiram com elas, no caso dos serviços mais básicos — e colocaram suas soluções dentro dos celulares, na palma da mão das pessoas, tirando os usuários de filas intermináveis. Conquistaram milhões e milhões de clientes mundo afora nos últimos cinco anos. Depois de se provarem capazes de atrair clientes e gerar receita, enfrentaram agora a cobrança por lucro.

"O desafio atual não é novo. Quando começamos, ninguém queria ouvir falar sobre fintechs. Era a vez do Uber, do WeWork", afirmou, tratando a situação como momentânea, a respeito da pressão e do custo elevado do dinheiro.

Mas as próximas fronteiras do que as fintechs terão a oferecer estarão relacionadas à descentralização, com a web 3.0, o blockchain e os criptoativos. Desafios tecnicamente e regulatoriamente maiores do que apenas ser agradável para o cliente.

Em 40 minutos de Web Summit, tornou-se cristalino que as apostas de diferenciação para o futuro, entre o novo e o legado, passam por esses caminhos. Tayenthal contou que a N26 está agregando soluções cripto a sua plataforma e também serviços de trading. “Está claro para mim que, mesmo agora em baixa, os criptoativos serão parcela importante do portfólio de ativo das pessoas, especialmente das novas gerações”, disse ele.

A N26 não está sozinha. A novidade se espalha por diversas outras empresas de soluções financeiras. Nubank já aderiu e Mercado Pago, plataforma financeira do Mercado Livre, também. O Brasil, aliás, é um dos cinco maiores mercados de criptomoedas do mundo. O número de brasileiros que investe em algum tipo de ativo digital, como tokens e criptomoedas, já supera 10 milhões: mais do que o dobro dos CPFs registrados na B3.

“Será mais difícil para os bancos tradicionais avançarem nesses serviços, em razão da regulação”, pontuou ele. O futuro está em desenvolver cada vez mais produtos e soluções para os clientes, segundo o empreendedor, nesse ambiente de inovações. E, por trás da fala de cada participante, o que se vê é que criptoativos irão muito além de ser um investimento: serão formas de pagamento cada vez mais recorrentes.

“Apesar do momento mais desafiador para as fintechs, o que move esse mercado não vai mudar. Todos querem liberdade de escolha e isso não vai mudar. E fintechs são sobre isso. E esse desejo não vai passar”, disparou Carolyn Rodz, fundadora da startup americana Hello Alice, uma plataforma que tem como objetivo auxiliar pequenos empreendedores a desenvolver seus negócios, incluindo com conexões para acesso a capital. Na visão da empresária, no futuro, bancos e fintechs serão quase que um só ecossistema, que atuarão de forma complementar.

Tegan Kline, fundadora da Edge & Node, que tem por objetivo fazer com que empresas desenvolvam novas formas de se conectar com seus consumidores por meio da blockchain, tem um olhar muito mais duro sobre as diferenças, apesar de também ver complementação entre fintech e bancos. “Os grandes bancos foram incapazes e não se interessaram em colocar a tecnologia a serviço das pessoas”, disparou ela, que foi recrutada ainda na faculdade para trabalhar no Bank of America, mas se decepcionou com a complexidade do sistema financeiro. A Edge & Node, e especificamente Tegan, está por trás do time inicial da The Graph (GRT), uma das principais ferramentas de blockchain da Web 3.0.

A empresária, que também foi destaque da edição 2022 da Forbes Under 30, ressalta que o futuro tem um só caminho: descentralizar tudo e dar mais poder às pessoas. Para ela, que começou a trabalhar com a VPN Orchid, uma rede privada descentralizada cujos serviços são contratados com nanopagamentos em criptomoedas, o blockchain vai ser a resolução do futuro. “Pouco a pouco começamos a ver como está sendo embutido no sistema oficial e para tudo”, ressaltou.

E quando o assunto é blockchain e criptomoedas, os grandes bancos tradicionais enfrentarão desafios bem maiores. Além de serem frentes tecnológicas que podem ser uma competição aos seus negócios, também representam riscos dada à forte regulação que as instituições estão submetidas. Será uma competição, de fato, mais complexa — muito além de quanto custa ter uma conta bancária ou o quanto ela é fácil de ser digitalmente utilizada.

A conclusão é de que, nesse campo, as fintechs estão muitos passos à frente. O desafio, porém, sobre como tudo isso vai gerar resultados continua sem resposta.

 

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