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Eneva: ESG entra de vez no plano estratégico da companhia em 2022

Companhia divulga relatório de sustentabilidade e ressalta planos de se tornar net zero até 2050

Eneva: início com termelétricas e agora foco em ações ESG para gerar valor (Matt Cardy/Getty Images)
Eneva: início com termelétricas e agora foco em ações ESG para gerar valor (Matt Cardy/Getty Images)

Publicado em 3 de junho de 2022 às 09:17.

Última atualização em 3 de junho de 2022 às 09:29.

A Eneva amadureceu a própria visão sobre sustentabilidade em 2021 e mostra, agora, o que quer para o futuro ESG da companhia. Esse é o mote do relatório de sustentabilidade divulgado nesta sexta-feira, e da conversa com Anita Baggio, diretora de ESG da empresa. Pela primeira vez, neste ano, os critérios ESG integram o planejamento estratégico, dividido em metas para cada área, e com métricas de acompanhamento ao longo do ano. A companhia não dá detalhes sobre os milestones que devem ser atingidos daqui até 2050, quando deve se tornar net-zero, mas mostra no documento três pontos que vão guiar a estratégia de sustentabilidade da empresa: reduzir as emissões de carbono, melhorar o índice de progresso social nos municípios em que atua e conservar a Amazônia. 

Todos os pontos fazem parte da Visão 2030 da empresa, já antecipada em evento a investidores, e que diz respeito à ambição de ser a empresa integrada de energia líder em geração de valor. Ainda em 2021, a empresa entrou para o Índice Carbono Eficiente da B3.

Em relação ao fator ambiental, a companhia enfatiza o papel do gás natural (GNL) como passo essencial para a transição energética no país. Para fortalecer o argumento, a Eneva aponta que o Leilão de Sistemas Isolados realizado no último ano contratou 65% da capacidade de geração a diesel, 28% a biodiesel e somente 7% a gás natural. Não custa lembrar que, em 2020, a empresa fez o pedido de captação de R$ 800 milhões em debêntures 'verdes', de olho justamente no investimento em GNL. 

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Em entrevista anterior, Pedro Zinner, CEO da companhia, reforçou que o gás está atrelado a um abastecimento inclusivo. Os projetos dessa matriz são de aproveitamento e geração térmica nas proximidades dos campos produtores onshore, ou seja, em terra.

De modo geral, o combustível é mencionado pela companhia em vários pontos do documento como uma aposta para o futuro. Em uma perspectiva mais abrangente, é uma oferta mais vantajosa, em termos de poluição, em relação ao que é usado hoje em navios, por exemplo. Uma matéria da Bloomberg com a comparação aponta que o gás, resfriado a -162 graus celsius, tem volume reduzido, o que facilita o armazenamento e o transporte. Além disso, é abundante e disponível, emite 25% menos dióxido de carbono do que os combustíveis tradicionais para navios, não contém praticamente enxofre, tem 85% menos dióxido de nitrogênio e 99% menos partículas a cuja exposição está associado o câncer. 

Os efeitos em larga escala, entretanto, ainda não são conhecidos. O que um estudo feito por pesquisadores da USP e do Imperial College London mostra, por exemplo, é que substituir o diesel por GNL apenas em caminhões não é suficiente para causar um efeito significativo na redução de mortes por poluição. 

Além do gás e dentro do compromisso de reduzir a pegada ambiental, a companhia destaca a alocação de recursos em projetos de eficiência energética e em tecnologias de captura e estocagem de carbono, bem como o fim das usinas de carvão até 2040 — metas já anunciadas anteriormente no investor day. 

Em uma conversa com Anita Baggio, diretora de ESG da Eneva, a executiva afirma que o compromisso se mantém mesmo em um ambiente macroeconômico mais desafiador e mais caro para produção de energia, em especial as mais limpas — e que a empresa olha para ativos que possam trazer benefícios em relação ao modelo de negócio, além do ESG em si.

É um argumento diretamente relacionado à meta do CEO de manter a disciplina na alocação de capital. No último ano, por exemplo, a companhia realizou a aquisição da Focus Energia, por R$ 920 milhões, que trouxe 1.600 clientes para a Eneva — ou seja, trouxe, além do portfólio de energia solar, clientes para uma empresa que até então atuava principalmente no mercado regulado.

Hoje, a companhia tem 670 megawatts de energia solar e mais dois projetos, Futura II (702 MW) e Futura III (1.600 MW) que poderão ser implementados em um cenário ideal de mercado, segundo o documento. Outros investimentos mapeados em fontes renováveis são o projeto Tauá II, de geração solar, no Ceará, com 64MWp; e a usina termoelétrica Nossa Senhora de Fátima (1.355 MW), em Macaé, no Norte Fluminense.

Antecipando a verba a ser destinada no futuro, a companhia também destaca o compromisso divulgado durante o investor day, de investir R$ 500 milhões em tecnologias de baixo carbono nos próximos oito anos. No documento atual, fica mais claro saber para onde esse dinheiro deve ir: digitalização para o mercado livre de energia, automação de redes de distribuição e tecnologias de armazenamento de energia.

Ainda não é possível saber como a matriz energética da companhia ficará ao fim desse período e a executiva não divulga quais etapas devem ser seguidas para que a Eneva chegue onde quer. Por enquanto, o que ela afirma é que a companhia vai estruturar uma equipe com 22 líderes dentro da empresa responsáveis pelo cumprimento dos critérios ESG. “Não vamos olhar para isso uma vez por ano e não conseguiremos fazer isso sozinhos. Tem de ser um processo contínuo e de toda a empresa”, diz Baggio.

Impacto social

No ponto seguinte, de impacto social, a companhia aponta que 9 mil pessoas foram contempladas pelos projetos sociais nos locais onde atua. Até 2050, a meta é beneficiar 50 mil pessoas diretamente e 100 mil indiretamente por meio de projetos sociais. Hoje, a população dos 14 municípios em que a companhia atua soma 1,3 milhão de pessoas.

A empresa trabalha com responsabilidade social há pelo menos dez anos e desenvolveu uma metodologia de cinco passos, que envolve desde a escuta das necessidades das comunidades locais até a escala de projetos concluídos. Em Paço do Lumiar, interior do Maranhão, por exemplo, a companhia conseguiu reduzir de 18% para 0% o índice de analfabetismo entre 2014 e 2020 usando essa metodologia.

Em 2022, no Amazonas, o foco será replicar o sucesso das iniciativas. Para garantir essa meta, a companhia firmou parceria com a Embrapa para fornecer apoio técnico a 450 famílias de agricultores locais, estruturar a recuperação de áreas degradadas e acompanhar o índice de progresso social (IPS).

Preservar a Amazônia

Já em relação ao último ponto, conservação da Amazônia, a companhia anunciou que vai contribuir com a consolidação de 500 mil hectares de áreas protegidas na Amazônia Legal até 2030. Além disso, também firmou parceria com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) para melhorar a qualidade de vida das comunidades do entorno de onde atua e um match funding de R$ 10 milhões com o BNDES para restauração florestal até 2030. 

De olho na atuação em florestas, a companhia vai conduzir iniciativas com base em cinco eixos: estímulo à bioeconomia e a agroflorestas, apoio a unidades de conservação, restauração de áreas degradadas, monitoramento territorial e ações em linha com o mercado de carbono. 

São metas definidas por Baggio como ousadas, mas plenamente factíveis -- mesmo em meio ao cenário econômico desafiador. "Estamos firmes com o que apresentamos no Eneva Day. Por enquanto não tem nenhuma discussão de precisar de alguma mudança. Estamos em uma missão de gerar valor", afirma.

No fim do ano passado, a companhia teve Ebitda de R$ 2,3 bilhões, aumento de 40% em relação a 2020, e lucro líquido de R$ 1,1 bilhão, aumento de 17% em relação ao ano anterior. O caixa era de R$ 1,7 bilhão e, a dívida líquida/Ebitda, de 2,8 vezes.

 

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