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Em média, empresas familiares geraram mais retorno do que as não familiares nos últimos 15 anos

Estudo do Credit Suisse aponta que 2022 foi um ano de exceção dessa tendência — e os caminhos daqui para a frente

Empresas familiares entregam mais inovação com menos recursos, segundo estudo (MirageC/Getty Images)
Empresas familiares entregam mais inovação com menos recursos, segundo estudo (MirageC/Getty Images)
Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 9 de maio de 2023 às 17:57.

Última atualização em 17 de maio de 2023 às 17:11.

Empresas familiares geraram um retorno anual ajustado de 300 pontos-base a mais do que as não familiares nos últimos 15 anos. É o que mostra a nova edição do estudo "Family 1000", divulgado anualmente pelo Credit Suisse — e que, como o nome sugere, analisa o desempenho de mil empresas familiares ao redor do mundo periodicamente. Apesar da tendência histórica de ganhos, o ano de 2022 trouxe um fato inédito: é o ano com a pior underperformance em toda a série histórica. No ano, os papéis de empresas familiares entregaram um retorno 700 pontos-base inferior ao de empresas não familiares.

Para chegar a essas conclusões, o Credit Suisse Research Institute usa como referência 1.000 empresas listadas em bolsa, localizadas nas Américas, Europa e Ásia-Pacífico (sendo que esta última região responde por metade do total analisado). A América Latina é a região com menos empresas, respondendo por cerca de 6% do total. Os critérios são: empresas em que os fundadores têm uma participação de mais de 20% no negócio e uma posição central sobre as decisões dos negócios. A base de dados, ao todo, tem um market cap de US$ 13,7 trilhões, sendo a maior parte do montante formada por empresas americanas, que respondem por 40% dessa cifra. 

Voltando aos resultados deste ano, o estudo mostra que não é a primeira vez que o grupo de empresas familiares fica abaixo das demais em desempenho de ações — o que chamou a atenção em 2022 foi o tamanho da queda. Tomando como base os cenários similares do passado, as perspectivas são mais animadoras do que desesperadoras. "Em 2008, o desempenho dos papéis foi 4% menor do que os das não familiares. Contudo, as empresas com dono tiveram um período significativo de outperformance pelos dois anos seguintes", diz Richard Kersley, diretor global de product management no Credit Suisse e coautor do estudo, em entrevista ao EXAME In. A outra coautora do estudo é Nannette Hechler-Fayd'herbe, diretora global de Economics e Research.

Mesmo assim, fica a curiosidade: afinal, o que levou o grupo a ter um desempenho tão fora da média no último ano? Segundo Kersley, não se trata de um fator único e específico que tenha levado a esse resultado. O ponto em comum entre a 'crise' em 2022 e a de 2008 é o cenário macro: em períodos de incerteza e com o aumento dos juros, investidores tendem a buscar segurança em títulos do governo, o que afeta até mesmo as empresas com uma tese de "qualidade".

De olho no que 2023 reserva, a perspectiva dos autores (dentro do que dá para ver até agora) é de uma retomada dos resultados vistos na série histórica para o comportamento das empresas familiares, refletindo um meio-termo entre a liquidez em abundância da pandemia e o susto do aumento de juros praticado desde o ano passado de forma global.

As empresas familiares em perspectiva

Enquanto ainda não é possível definir com certeza o que vai acontecer daqui para a frente, o banco traz insights relevantes sobre o comportamento de empresas familiares ao longo da última década e meia. O retorno anual desse grupo, no detalhe, ficou entre 300 e 360 pontos-base acima do trazido por companhias não familiares anualmente (exceto no Japão).

Dividindo o desempenho das empresas familiares por subgrupos, o estudo aponta que os maiores ganhos estão nas primeiras gerações. De acordo com o relatório, as gerações 1 e 2 entregaram retornos compostos de crescimento (CAGR) que são o dobro dos registrados por empresas nas gerações 4, 5 ou posteriores. Os autores apontam que as empresas menores têm maior potencial de crescimento, refletindo a trajetória empreendedora de fundadores, enquanto as gerações posteriores têm de lidar com outras questões, como a sucessão, que afetam o desempenho.

Na média entre todas as gerações, contudo, as empresas familiares trazem uma disciplina maior de alocação de capital. A alavancagem dessas empresas, medida pelo indicador Dívida Líquida/Ebitda é, em média, 25% menor do que a de empresas não familiares.

“A noção de um modelo menos alavancado é consistente com um senso de preservação e de não arriscar a longevidade e a herança do negócio, e assegurar estabilidade. Assim como reduzir riscos percebidos, uma dependência menor de provedores externos de capital, dívida ou ações, também colabora com a ideia de manter o controle do negócio. Uma questão importante, entretanto, é se o conservadorismo pode impedir a inovação no longo prazo”, afirmam os autores no estudo. 

Inovação

No estudo, o Credit Suisse aponta que empresas familiares de tamanho médio gastam menos do que as não familiares de mesmo porte. Os percentuais ficam em 3,5% da receita e 6,6%, respectivamente. Em um olhar regional, a única exceção é a região da Ásia-Pacífico, em que as empresas familiares investem 3,2% da receita e, as não familiares, 2,7%. Na América Latina, os percentuais são de 0,8% (familiares) e 1,3% (não familiares). 

Olhar para os números de P&D, pura e simplesmente, pode dar a sensação de que as empresas familiares podem ter um menor retorno em inovação. Curiosamente, não é o que acontece de fato.

Outro estudo, anterior, mencionado pelos analistas do banco de investimento, apontou que, ao considerar o resultado da inovação sob três fatores (proporção de vendas associadas com o novo produto, o número de patentes que a empresa gerou e o índice entre o número de patentes e o investimento em P&D) as empresas familiares têm um desempenho melhor do que as demais. Especialmente nas empresas em que o CEO é um membro da família fundadora — porém não o fundador em si. 

Atender a esses três fatores, segundo o Credit Suisse, está ligado a pontos como a retenção de colaboradores e uma estrutura de capital mais conservadora. Em números, dentro das 20 maiores empresas analisadas, 40% têm um CEO com mais de dez anos na empresa, percentual que é de 15% nas empresas não familiares. "Esse alto nível de capital humano específico aproveitado pelas companhias familiares tem um potencial de criar um maior índice de inovação. A colaboração interna é mais forte e as barreiras, menores, ao entrar em novos projetos", dizem os autores.

ESG

Ainda olhando para o ambiente interno dessas empresas, o estudo acompanha a evolução dos critérios de ESG entre os grupos familiar e não familiar ao longo dos últimos 15 anos. Há muito debate, ainda, sobre a questão de governança dentro de empresas fundadas por famílias, é claro, mas o relatório mostra que as empresas familiares conseguiram avançar ao longo dos últimos anos.

De acordo com os dados do Credit Suisse, a diferença entre o score de empresas familiares e não familiares está no menor nível desde o início da série histórica. O que demonstra o tamanho do avanço conduzido por esse grupo ao longo do tempo.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

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