Eletrobras: será a oferta de R$ 30 bi da privatização a virada do Brasil?
Demanda para venda de ações está garantida e oferta pode ter mais de 10 âncoras
Publicado em 18 de maio de 2022 às 20:39.
Última atualização em 19 de maio de 2022 às 10:22.
A oferta pública de ações que marcará a privatização da Eletrobras, uma operação que pode movimentar entre R$ 30 bilhões e R$ 33 bilhões, pode ser um ponto de inflexão para a bolsa brasileira. Esse é o tamanho esperado para a transação, emblemática para o Brasil — tanto para o Estado como para o mercado de capitais. A expectativa é que a colocação ocorra entre meados de junho e começo de julho. A demanda para os papéis, dizem fontes próximas à operação, está garantida.
Trata-se da segunda maior oferta pública já realizada em bolsa, atrás apenas da megacapitalização da Petrobras pela qual em 2010 o governo colocou dentro da estatal os campos do pré-sal, movimentando um total R$ 120 bilhões. Na prática, é a segunda grande empresa a ser privatizada com uma venda pulverizada na bolsa — o mesmo ocorreu com a antiga BR Distribuidora, hoje Vibra (a diferença é que foi um processo indireto, já que a vendedora foi a Petrobras e não a União propriamente).
Nesta quarta-feira, dia 18, o Tribunal de Contas da União (TCU) deu sua benção ao processo de venda, tirando uma sombra do processo.
Fontes próximas à operação dizem que as conversas com os investidores seguiram e bem, apesar da paralisação para análise pelo TCU, e que a demanda para os papéis já está garantida. A transação chegará ao mercado com mais de dez âncoras, o que é uma novidade, já que normalmente as demais colocações — muito menores — são suportadas por algo como um a três âncoras.
Quem está próximo das conversas diz que os preços estão muito similares ao de mercado e que a demanda chega perto de 1,5 vez o tamanho da transação.
Apesar da fuga dos investidores do risco, a Eletrobras tem tudo que voltou à moda recentemente: ativos fixos, patrimônio e perspectiva de dividendo. A companhia reúne cerca de 30% da capacidade de geração de energia do país — e um continental como o Brasil — e 40% da de transmissão. É ativo para ninguém botar defeito: 50.500 MW de capacidade instalada (considerando 50% de Itaipu, que ficará de fora da privatização junto com a Eletronuclear) e quase 74 mil quilômetros de linhas de transmissão.
A estatal está avaliada hoje na B3 por R$ 66 bilhões, perto do valor de referência da privatização. Mas a expectativa é que pode valer bastante mais.
Do valor total da oferta, R$ 25 bilhões serão recursos que irão para o caixa da Eletrobras, reforçar sua situação financeira e capacidade de investimento. A diferença para o total estimado virá da venda de papéis pela União, para que o governo consiga reduzir sua participação a pelo menos 45% — como resultado combinado da alienação dos papéis e da diluição com a oferta.
O varejo — apesar de não ser responsável direto pela formação de preço — será peça importante no volume da oferta, podendo alcançar entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões, a depender do apetite dos investidores individuais.
Para a privatização, o governo reativou a ideia usada antes apenas em ofertas públicas da Petrobras (ano 2000) e Vale (2002), na qual a população pôde utilizar os recursos do FGTS para comprar as ações. Só para essa parcela, há um espaço de aproximadamente R$ 6 bilhões e outros R$ 2 bilhões a R$3 bilhões poderão vir do varejo tradicional.
Entre os âncoras há de tudo um pouco, fundos de infraestrutura, setoriais, mercados emergentes. Um grande fundo de pensão canadense, por exemplo, se dizia disposto a colocar entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões só ele no negócio. Tentou negociar com isso, colocando um preço bastante descontado — considerando bolsa e os demais interessados. Até o momento, porém, está fora da lista de âncoras, embora possa participar da formação do livro de forma geral, ainda que com um montante bem menor.
De qualquer forma, apenas a concretização da venda, em um momento como esse, poder ser a faísca que precisa para o "novo lugar" de Brasil no portfólio de investidores globais. É como entendem os mais otimistas. A perspectiva, que se espalha entres gestores de fundos (do private equity às carteiras líquidas), é que a América Latina vai conquistar um status melhor do que o dos últimos anos. A volatilidade da economia, bastante ligada à política nos países da região, deve começar a ser vista como algo menos determinante, em comparação com o risco geopolítico da Rússia, do Leste Europeu e da China. A dúvida é quando isso vai acontecer.
Há os mais otimistas e os mais pessimistas. As notícias recentes não são ainda as mais animadoras. A pesquisa BofA com gestores de carteiras, que reúnem quase US$ 1 trilhão sob gestão, mostra que na fuga do risco, a América Latina foi a região que sofreu a maior redução de exposição.
Enquanto isso, os investidores locais, de varejo e institucional, voltaram a ser compradores. Parece, afinal, que chegou o preço em que há disposição de investimento.
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