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Fusões e Aquisições

Da celulose ao tecido, a costura da Suzano para entrar (de vez) no mercado têxtil

Companhia está comprando 15% da austríaca Lenzing em linha com sua estratégia de aumentar seu mercado endereçável, diz o CFO ao INSIGHT

Suzano: oportunidade de criar um player poderoso em um setor crescente, diz Marcelo Bacci, CFO  (Sergio Zacchi/Suzano/Divulgação)
Suzano: oportunidade de criar um player poderoso em um setor crescente, diz Marcelo Bacci, CFO (Sergio Zacchi/Suzano/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 12 de junho de 2024 às 13:09.

Última atualização em 12 de junho de 2024 às 16:33.

Maior produtora de celulose do mundo, a Suzano está fazendo sua aposta mais robusta num mercado ainda pouco tateado por ela, o têxtil. A companhia anunciou na manhã desta quarta-feira, 12, a aquisição de uma fatia de 15% da Lenzing, uma fabricante austríaca de celulose solúvel e tecidos.  

Uma das líderes do mercado de fibra de celulose para o mercado têxtil, a Lenzing tem capacidade produção de 1 milhão de toneladas ao ano. Esse segmento do mercado ainda é de apenas 7 milhões de toneladas, mas a aposta está no potencial de crescimento, com a demanda por produtos mais sustentáveis cada vez mais latente.  

Hoje, dos pouco mais de 120 milhões de toneladas de fibras têxteis, mais de 75% são de fibras sintéticas, em especial o poliéster, mas são as fibras naturais que crescem em ritmo mais acelerado.  

A aposta, conta Marcelo Bacci, CFO da Suzano, é parte da estratégia da empresa centenária de “olhar sempre para novas formas que possam aumentar o mercado endereçável”. 

As aplicações de viscose na indústria têxtil têm aumentado nos últimos anos, principalmente na região do Pacífico Asiático, em parte devido ao seu apelo ESG. “O negócio faz sentido do ponto de vista estratégico, dado que a Lenzing é um dos maiores produtores integrados de viscose (desde a polpa dissolvida até a viscose) fora da China, em um mercado com importantes barreiras de entrada, já dominado por grandes players”, escreveram os analistas do Itaú BBA.   

Numa aproximação com o consumidor final, a Suzano já produz papel e embalagens, além de ser líder em papel higiênico desde a compra, em 2022, da Neve, que pertencia à Kimberly Clark no Brasil. “A Suzano pode crescer pode diversos lugares sempre baseado na nossa competitividade como produtor de fibra de baixo custo. Quanto mais próximo do consumidor final, mais estável é o negócio em termos de geração de receita”, conta Bacci.  

No caso do investimento na Lenzing, a lógica é parecida, de chegar mais perto do último elo da cadeia. As marcas de moda determinam a matéria-prima de suas coleções e têm o potencial de impulsionar a demanda dos consumidores por fibras mais naturais. Essa relação com as marcas é a novidade que a Lenzing vai trazer para a Suzano, destaca Bacci.  

A aproximação com a Lenzing e o interesse da Suzano no setor já vinha sendo gestado há tempos. Junto com a própria Lenzing, a Suzano é uma das acionistas da startup filandesa Spinnova, que pesquisa materiais sustentáveis para a indústria têxtil. O negócio, porém, ainda não tem viabilidade econômica.  

No negócio anunciado hoje, a Suzano está pagando 229,9 milhões de euros (cerca de R$ 1,3 bilhão) à fundação austríaca B&C, que passará 52,2% para 37,2% de participação na Lenzing. O preço embute um prêmio de 11% sobre o valor de negociação do papel nos últimos 60 dias e o acordo prevê duas cadeiras no conselho de administração da Lenzing e que a Suzano possa aumentar sua participação em mais 15% até o fim de 2028, se tornando controladora.  

Por ora, no balanço da Suzano a participação será registrada como equivalência patrimonial. “É uma jogada de longo prazo. Uma grande oportunidade de criar um player muito poderoso nos próximos anos.”  

A aquisição, feita inteiramente com caixa da companhia, não pressiona financeiramente a Suzano, que segue de olho em mais ativos. A companhia recentemente fez oferta pela International Paper, um movimento que tem atraído atenção do mercado, com temor de pressionar a alavancagem da companhia, que chegou ao seu pico em 3,5 vezes no primeiro trimestre deste ano. O início, porém, da produção do projeto Cerrado e a recuperação dos preços da celulose sugerem que esse indicador passará a cair a partir de agora.  

Por isso, a operação não inibe nem a vontade nem a capacidade de fazer outros negócios, garante Bacci. Mas qualquer outro negócio tem que obedecer a duas condições muito importantes, destaca ele:  

“A primeira é uma condição de retorno. Temos que ser disciplinados para fazer negócios que tragam retorno. A segunda é a condição de investment grade. Somos uma das poucas companhias brasileiras nessas condições e queremos de toda forma manter isso. Temos apetite e recursos para continuar crescendo, mas vamos sempre olhar para essas métricas.” 

A Suzano tem valor de mercado de R$ 63,58 bilhões e sua ação acumula queda de 11,59% no ano.  

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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