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Estados Unidos (EUA)

Crítica do papa Howard Marks ao FED coloca o elefante na sala sobre bolha

Se a taxa de juros está artificilamente baixa, os preços de todos os ativos podem estar equivocados

Howard Marks: intervenção gera tomada de risco e alavancagem excessivas (Grupo Editorial Edipro/Divulgação)
Howard Marks: intervenção gera tomada de risco e alavancagem excessivas (Grupo Editorial Edipro/Divulgação)

Publicado em 2 de agosto de 2021 às 15:37.

Última atualização em 4 de agosto de 2021 às 15:29.

Howard Marks, o celebrado fundador e gestor da Oaktree Capital — leitura obrigatória de dez entre dez gestores — gostaria de ver um mercado mais livre, ou liberal. Gostaria de um FED, o Banco Central dos Estados Unidos, menos atuante. Os trilhões injetados na economia podem estar causando distorções. Apesar de seu esforço em ser sutil, Marks não conseguiu. E sua mais recente carta está atraindo (ainda mais!) atenção de seus pares de função — gerir o dinheiro alheio e o próprio — com suas considerações.

No documento publicado no fim da semana passada, Marks “comete” uma exceção e se dedica a avaliar a macroeconomia. Justamente ele, que historicamente reitera que a Oaktree não faz investimentos baseados em previsões macroeconômicas — não porque não as ache relevantes, mas porque acredita ser impossível alguém saber de fato o que vai ocorrer ao ponto de conseguir tornar isso realmente uma vantagem.

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Ele explica que tem opinião sobre macroeconomia, só entende que não deve usá-las para alocar recursos. “Isso é o que a Oaktree não faz”, escreve.

Ao avaliar toda a discussão e a fixação do mercado em torno do futuro da inflação, Marks aponta sua percepção de que o FED tem mantido as taxas de juros baixas, desde 2008, de forma excessiva.

“As taxas mantidas artificialmente baixas distorcem os mercados de capitais, penalizando os poupadores, subsidiando os tomadores, elevando os preços dos ativos e encorajando maior tomada de risco e o uso de mais alavancagem. Mais uma vez, prefiro ver um Fed relutante em intervir, exceto quando a intervenção for essencial.”

De ingênuo, Marks não tem nada. Ao contrário, em geral, suas cartas costumam ser como um “choque de realidade”. Apesar da crítica direta, o fundador da Oaktree e autor tenta suavizar: “Quero deixar claro que não acho que sei melhor do que as pessoas que dirigem o Fed.”

Só que não consegue a leveza pretendida. Afinal, o recado é claro: “Em geral, gostaria de ver a economia estimulada com menos frequência e, certamente, não continuamente. Podemos gostar de um crescimento mais rápido nos próximos anos do que a economia forneceria por conta própria, mas não acho que a taxa de crescimento de longo prazo possa ser elevada perpetuamente por meio da política monetária e fiscal, e certamente não sem o risco de consequências negativas. Para ter uma alocação de capital mais saudável, gostaria de ver um mercado livre e, para mim, isso significa taxas de juros que "ocorrem naturalmente".

Sobre a inflação, propriamente, Marks não dá sinais de estar entre os alarmistas. Apesar de reconhecer que há bons argumentos para ambos os lados, aponta inconsistências no comportamento dos mercados.

Quando as últimas taxas de inflação foram divulgadas, o mercado de ações teve recuos relevantes. O raciocínio parecia claro e óbvio: mais inflação, mais taxa de juros. Com os títulos pagando mais retorno, o custo de capital sobe e o retorno das ações cai.

Mas, quem tirou a viseira, como ele, viu que o mercado de juros não apontou para alta — ou seja, manteve-se preso às sinalizações do FED, de qualquer movimento só em 2023 — e que também o ouro seguiu comportado. Normalmente, apostar no ouro é o lastro mais óbvio contra períodos inflacionários. Dessa forma, ele parece mais crente em um movimento temporário do que um drama mais permanente.

Só que a partir dos pleitos e comentários, Marks deixa o elefante na sala. É sim possível que todos os mercados estejam vivendo uma bolha. Como ele já aponta no seu clássico “O mais importante para o investidor”, se a premissa básica está errada — ou a taxa de juros está artificialmente baixa — os preços de todos demais ativos, que partem dessa base, estarão equivocados.

O gestor da Oaktree não traz certezas. São mais provocações para os investidores refletirem. Ele prefere uma avaliação mais socrática da avaliação e da realidade, ao admitir que não sabe nem exatamente o que provoca a inflação e nem qual será seu futuro. De certeza pura, só que os economistas não geram oportunidades de investimento, porque não conseguem ir além do consenso com certezas relevantes, e que na Oaktree eles não entram nem para um “cafezinho”.

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