Com temor sobre pagamento de dividendos, Vibra lidera baixas do Ibovespa após aquisição da Comerc
Analistas consideram transação acertada, mas ações caem quase 4% com narrativa sobre remuneração aos acionistas em xeque
Publicado em 22 de agosto de 2024 às 13:21.
Ainda que não tenha sido uma pechincha, o valor da compra da fatia restante de 50% da Comerc, de energias renováveis, pela Vibra ficou em linha com a avaliação da maior parte dos players do mercado – especialmente se consideradas as sinergias previstas de R$ 1,4 bilhão com o negócio.
Mas, num momento de juros altos e ações descontadas, a narrativa falou mais alto e a preocupação sobre uma eventual redução no pagamento de dividendos e remuneração aos acionistas está falando mais alto. Os papéis da antiga BR Distribuidora caem 4% por volta das 13h, entre os maiores recuos do Ibovespa.
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Em teleconferência logo após o anúncio da operação, o CFO, Augusto Ribeiro, afirmou que a política de pagamento de 40% do lucro líquido não deve ser alterada. A empresa tem R$ 8 bilhões em caixa.
O valor implícito do negócio foi de R$ 7,1 bilhões, abaixo dos R$ 9,24 bilhões de valor patrimonial ou do limite máximo de R$ 9,34 bilhões autorizado pelos acionistas da Vibra.
Por outro lado, do ponto de vista do valor da empresa (EV), o acordo parece menos atraente, alertam os analistas da XP. “O valor do acordo é controverso”, escreveu a equipe da corretora.
Considerando o valor presente líquido das sinergias estimadas, o acordo anunciado seria neutro em termos de valor para a Vibra, aponta a equipe.
Segundo os analistas, os múltiplos da transação parecem elevados em EV/EBITDA de 14x para os últimos 12 meses.
O EV/EBITDA projetado para 2025 é melhor, em cerca de 10x, mas ainda não é bom o suficiente em caso de prejuízos líquidos para a Comerc em 2024 e 2025, como estimado pelo time da XP.
O Itaú BBA viu a decisão de antecipar a aquisição como um reforço do posicionamento de longo prazo da Vibra, “visando trazer longevidade ao portfólio ao aumentar a exposição às energias renováveis e se mover em direção a se tornar uma plataforma de energia diversificada”.
Também com uma visão mais construtiva, o time do Safra classificou a transação como positiva, numa avaliação “justa” e “apenas 3% acima” à avaliação do banco para a Comerc.
De acordo com os analistas, a aquisição dos 50% restantes da Comerc elimina o risco de os atuais sócios da comercializadora de energia exercerem sua opção de venda no período de 2026 a 2028, o que poderia restringir a estratégia de alocação de capital da Vibra.
“Do ponto de vista de valuation, não muda nada nas nossas contas”, pondera um gestor que acompanha os papéis. “Está em linha.”
Para os analistas do Goldman Sachs, no entanto, a operação tira espaço para o pagamento de dividendos extraordinários.
Apesar da queda de hoje, a Vibra acumula alta de quase 10% no ano de 2024, com valor de mercado de R$ 28,22 bilhões.
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Acompanhe:
Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado
Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.