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CCR: com sócios e CEO novos, plano é de continuidade para estratégia

Companhia mostrou que vai seguir com agenda de crescimento ao longo dos próximos anos focada nas três principais divisões: rodovias, aeroportos e mobilidade

CCR: mesmo em ambiente macroeconômico mais desafiador, companhia destaca indicadores operacionais sob controle (Mauricio Simonetti/Pulsar/Reprodução)
CCR: mesmo em ambiente macroeconômico mais desafiador, companhia destaca indicadores operacionais sob controle (Mauricio Simonetti/Pulsar/Reprodução)

Publicado em 9 de setembro de 2022 às 18:35.

Última atualização em 9 de setembro de 2022 às 19:39.

A CCR realizou o primeiro Investor Day após a renúncia do atual CEO e da compra da fatia da Andrade Gutierrez por Itaúsa e Votorantim. A mensagem foi bastante clara: em meio às transformações pelas quais está passando, a estratégia de crescimento e de atuação da companhia permanecerá a mesma. A continuidade, palavra repetida várias vezes no evento, já surgiu logo no discurso de abertura de Marco Cauduro, CEO da companhia. 

“Todos os planos da companhia são feitos pelas pessoas. Temos quase 20 mil colaboradores trabalhando na companhia. Não é a saída de uma pessoa que vai mudar isso”, disse. Questionado a respeito dos novos acionistas e da influência deles na empresa, Cauduro voltou a reforçar o termo, afirmando que vê a chegada de forma positiva, principalmente em relação ao conhecimento que ambas as empresas trazem, ao mesmo tempo que reforçou que há um plano construído pela organização para o futuro — que ele espera ser mantido, mesmo com os novos sócios.

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Mas afinal, que plano e qual futuro são esses? É preciso lembrar que as bases para o crescimento da CCR até 2026 foram apresentadas no evento do ano passado. Entre os destaques, constavam a priorização de projetos com retornos reais de dois dígitos e riscos menores. Tudo isso no centro das áreas em que a companhia já trabalha (rodovias, mobilidade urbana e aeroportos). 

Este ano, portanto, a empresa dedicou o evento a prestar contas de como isso está avançando, dentro de cada um dos pilares: CCR Rodovias, Aeroportos e Mobilidade. Em uma visão geral, todos tiveram queda no volume de tráfego na comparação com 2019, mas o tom da companhia é o de que a retomada está próxima, com a rotina presencial quase normalizada em relação à pandemia e a expectativa de juros menores. Esses fatores, combinados, aliás, fizeram o Goldman Sachs reforçar a recomendação de compra no papel, oferecendo retornos maiores do que títulos vinculados à inflação (11% ante 6%). O preço-alvo para os papéis é de R$ 17,30

CCR Rodovias

Eduardo Camargo, presidente da divisão, mostrou que no acumulado de janeiro a junho a quantidade de veículos comerciais que passou pelas rodovias estaduais de São Paulo foi 9% maior, para 46,5 milhões, mas, em uma visão geral, ainda há queda de 3% (foram 213,6 milhões em 2022) sob a mesma base de comparação. Em relação às principais obras estaduais previstas, estão um novo acesso para Osasco (investimento de R$ 191 milhões) e implantação de vias marginais em Barueri (R$ 790 milhões). 

Mas, nem tudo está perdido. Em uma visão dos projetos recém-incorporados pela companhia, o tráfego está acima do esperado: na ViaSul, o aumento é de 5,5% em relação ao planejado no primeiro semestre de 2022, na RioSP, está 2,2% acima do planejado entre março e junho deste ano e, na CCR ViaCosteira, apenas 0,5% abaixo do planejamento desde o início das praças até junho de 2022.

Nas concessões da Via Dutra e Rio-Santos, a companhia anunciou investimentos de R$ 25,8 bilhões, sendo R$ 15 bilhões para a modernização das rodovias e R$ 10,8 bilhões para elevar os padrões dos serviços operacionais aos clientes. Entre os recursos para melhorar o padrão de atendimento, estão dois novos recursos: o DUT e DUF (desconto de usuário de Tag e de usuário frequente, respectivamente) e o Free Flow, que será implementado em março de 2023, de olho em permitir que motoristas não precisem parar para fazer o pagamento. 

Questionado a respeito de possíveis problemas com o novo recurso, o executivo respondeu que a companhia vai começar testando o recurso na rodovia Rio-Santos que tem um tráfego menor. “A lei estabelece que os recursos das multas bancariam uma eventual inadimplência, então estamos bem seguros. Além disso, temos previsto um laboratório para Guarulhos daqui a três anos”, afirmou.

CCR Mobilidade

A divisão, que transporta 2,4 milhões de passageiros por dia, também não viu ainda os resultados voltarem aos níveis do pré-pandemia. De acordo com Marcio Hannas, presidente da divisão, a demanda média de dia útil, sem considerar as linhas 8 e 9 — que entraram recentemente no portfólio — caiu 25% na comparação entre o primeiro semestre de 2019 e de 2022. Em relação a 2021, entretanto, há um aumento de 35%. Atualmente, o volume médio está em 1,3 milhão de passageiros.

“É difícil prever o futuro, mas sabemos que há uma mudança de comportamento por causa do home office, que interfere no uso de transportes. Globalmente, há uma queda de 10% a 15%. Estamos focados, de todo modo, em otimizar a nossa malha de transporte”, afirmou Hannas.

Em relação às linhas 8 e 9, os investimentos previstos são de R$ 3,9 bilhões para os próximos anos. O dinheiro deve ir para reformas e melhorias nas estações, além de novos trens. Com relação a este último ponto, o executivo anunciou a compra de 36 novos trens da Alstom, com um cronograma de entregas que vai de dezembro de 2022 a janeiro de 2024. São composições mais leves, que consomem menos energia. A ideia é substituir, gradativamente, os antigos trens da CPTM pelos modelos mais novos, devolvendo à companhia de trens apenas os modelos mais novos que vieram com a concessão.

CCR Aeroportos

A divisão, que administra aeroportos no Brasil e tem participações em outros fora do país, mostrou que o número de passageiros transportados nos aeroportos administrados pela companhia caiu 21% entre o primeiro semestre de 2019 e o de 2022. Apesar disso, Mônica Lamas, diretora comercial da divisão, afirmou que há motivos para acreditar em uma retomada mais intensa a partir do segundo semestre. “Há um fator sazonal de períodos de férias e, em paralelo a isso, a Latam anunciou que vai manter a malha de alta durante todo o semestre, o que nos indica alta demanda”, afirmou. 

A executiva também destacou a transformação pela qual os aeroportos passaram (tinham 39% da área bruta locável e hoje estão em um patamar superior), com reforços para parceiros de varejo de alimentação. A estratégia é usar o tamanho da companhia para garantir que fornecedores que têm interesse em grandes aeroportos também prestem serviços em locais menores. 

O esforço comercial também está presente nas companhias aéreas. Um dos ‘cases’ apresentados no evento é uma campanha em parceria com a Gol para movimentar o aeroporto de Uruguaiana (na fronteira entre Brasil e Argentina) com um voo direto de lá para Guarulhos. Trata-se de um aeroporto que tinha apenas um voo e agora tem três, segundo a executiva. 

Entre os questionamentos direcionados à divisão, a pergunta sobre por que a empresa não entrou na licitação para o Aeroporto de Congonhas recentemente foi alvo de analistas no local. “Avaliamos projeto a projeto e, na nossa visão, não havia uma relação risco-retorno interessante para a CCR em relação a esse projeto específico”, afirmou Cauduro.

Futuro

Em relação a projetos futuros da companhia em fusões e aquisições, o tema foi mencionado pelo diretor de novos negócios da companhia, Gustavo Lopes, que, sem dar muitos detalhes, afirmou que há oportunidades principalmente no setor de rodovias e de aeroportos. O que a companhia frisou, mais uma vez, é que não há interesse em entrar em outros segmentos além dos que já atua. 

Para avançar rumo ao futuro, Waldo Perez, CFO e diretor de relações com investidores, mostrou que a companhia está em patamares de alavancagem abaixo do limite estabelecido pela empresa, de 3,5 vezes. No segundo trimestre deste ano, a relação entre dívida líquida e Ebitda ficou em 1,8 vez.

A companhia, que tem R$ 3,6 bilhões em dívidas a pagar em 2023, destacou que quase metade desse valor (49%) está relacionada aos empréstimos-ponte relacionados a novos leilões e que, portanto, devem gerar Ebitda ao longo do tempo. No ano seguinte, 2024, a dívida total é de R$ 5 bilhões, com 77% desse valor fazendo parte dos novos negócios. A expectativa do executivo é de conseguir rolar parte dos valores a serem pagos nos próximos dois anos. 

 

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