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Saúde

Beep, de vacinas e exames a domicílio, capta mais R$ 100 milhões – e já vale R$ 1,2 bi

Fundo americano Lightsmith se junta a David Velez e Mark Zuckerberg em captable estrelado; com empresa já gerando caixa, aporte vai financiar investimentos em tecnologia

Corteze, da Beep: Em 5 a 10 anos, medicina domiciliar vai ser o novo normal (Beep/Divulgação)
Corteze, da Beep: Em 5 a 10 anos, medicina domiciliar vai ser o novo normal (Beep/Divulgação)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 12 de setembro de 2024 às 05:00.

A Beep Saúde, de medicina domiciliar, acaba de anunciar um aporte de R$ 100 milhões liderado pelo fundo americano Lightsmith, numa operação que avalia há companhia fundada há seis anos em R$ 1,2 bilhão.

É praticamente o dobro da série B de R$ 150 milhões feita há apenas três anos e liderada na época pelo Valor Capital, do ex-embaixador americano do Brasil Clifford Sobel.

Num captable estrelado, a Beep já tinha o fundo CZI, de Mark Zuckerberg e sua esposa Priscila Chan, e David Velez, do Nubank, e acompanharam a rodada atual, ao qual se juntou a Actyus, de Sergio Furio, fundador da Creditas.

A DNA Capital, da família Bueno, dona da Dasa, e o Bradesco também tinham investido na companhia.

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A história da Beep reforça a máxima que não há ideia melhor do que aquela cujo tempo chegou.

Em 2018, quando ninguém ainda podia imaginar o covid, Vander Corteze fundou a companhia para oferecer a aplicação de vacinas em casa. A pandemia, é claro, trouxe um vento de cauda – mas seu modelo de negócio se mostrou uma aposta bem mais certeira do que alguns modismos daquela época.

A receita da Beep vem crescendo 60% na comparação anual e já chegou a R$ 300 milhões anualizados no último semestre.

“Em 2016, 2017, eu via as pessoas cada vez mais comprando coisas pela internet e recebendo em casa e pensava: essa tendência vai chegar ao setor de saúde”, diz Corteze, formado em medicina e filho de médico, ainda que praticamente não tenha exercido a profissão.

Ele empreende desde que deixou os bancos da UFRJ e, antes da Beep, fundou a BR Med, uma rede de medicina do trabalho que tem mais de 700 funcionários.

"Hoje, eu não tenho dúvida: em cinco a dez anos, a medicina domiciliar vai ser quase o padrão. Ir ao hospital ou ao laboratório vai ser como ir na agência bancária hoje: você vai perguntar, 'nossa, o que aconteceu?'"

Modelo de negócios

Em 2021, a Beep passou a oferecer também coleta de exames laboratoriais em casa, num modelo que aposta na democratização de um serviço que até pouco tempo era oferecido apenas para os usuários mais premium dos planos de saúde.

Enquanto nas vacinas, o pagamento sai do bolso do consumidor, no caso dos exames laboratoriais, ela normalmente fica por conta dos planos de saúde.

A Beep é credenciada em mais de 50 deles, que somam uma carteira total de clientes de 5 milhões de beneficiários.

Tanto quanto saúde, no fundo, a Beep é também um negócio de logística – e tecnologia. A startup não tem estrutura física e os exames laboratoriais são processados pelo DB, um dos líderes em lab-to-lab no Brasil.

O diferencial é o nível de serviço, e o NPS, que mede o quanto o cliente indicaria a empresa, é de 90 numa escala de 0 a 100.

O X da questão, contudo, é adensar cada vez mais os atendimentos e melhorar as rotas para extrair cada vez mais eficiência. “Conforme vamos crescendo, vai havendo uma alavancagem operacional, que se traduz em margem. E quanto mais eficientes formos nas nossas rotas, mais eficiente será a companhia”, afirma Corteze.

Hoje, a Beep já faz 50 mil atendimentos mensalmente e tem 1.100 funcionários.

O capital nesta nova rodada será todo voltado para investimento em tecnologia, especialmente para refinar os modelos hoje já utilizados pela companhia com o uso de ferramentas de inteligência artificial, hoje muito mais acessíveis.

“Não é ciência da Nasa, mas hoje já há modelos que conseguem prever com grau cada vez maior de precisão como vai ser a demanda em determinada área”, diz o fundador.

No azul

Com a operação já gerando caixa, a ideia do aporte é acelerar os investimentos para ampliar a liderança em relação aos incumbentes, que também vem acelerando seus esforços para ir em direção ao domiciliar.

“Mas é outro business. Acredito aqui que tem um efeito de rede semelhante ao Ifood: fica cada vez mais difícil construir um concorrente que consiga competir”, afirma Corteze.

A captação veio num momento em que a companhia não estava buscando dinheiro. Com a disparada dos juros e a torneira do venture capital fechando, a Beep decidiu focar na rentabilidade para andar com as próprias pernas.

Deu foco no seu plano de investimentos, enxugou custos e deu tração ao negócio de laboratórios, que, apesar do tíquete médio menor em relação ao de vacinas, tem uma margem superior.

Hoje, dois terços das receitas vêm de vacinas e um terço de laboratórios – mas em volume de atendimentos, essa última categoria responde por 40% do total.

Despretensioso e sem pitch deck na mão, Corteze foi surpreendido na Brasil Week deste ano, em Nova York, quando conheceu a Lightsmith – um fundo voltado essencialmente para clima e que aqui no Brasil tinha feito apenas um aporte, na Solinftec, de automação para o agro.

“Eu nem me atentei que tínhamos esse viés de clima, que é o viés de adaptação: com as mudanças climáticas, há um impacto na saúde e vacinas – e exames – vão er cada vez mais necessários”, diz Corteze.

As conversas evoluíram e o aporte andou, dando fôlego para a expansão.

Mesmo com dinheiro no caixa, no entanto, a mentalidade da Beep segue de austeridade.

O plano é seguir focando nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, onde a empresa já atua em cerca de 100 cidades. “Já chegamos a pensar em expansão para outras regiões lá trás, mas hoje está claro que o foco é adensar onde estamos.”

Inquieto, o empresário olha para outras verticais do setor de saúde e diz que seu sonho é que a Beep se torne o “app de saúde do brasileiro”. Uma vertente já em estudo mais avançado é a de infusões, com aplicação de medicamentos imunobiológicos, de uso contínuo para pessoas com doenças reumatológicos, por exemplo.

Corteze também vislumbra, em tese, a área de saúde ocular e entrega de medicamentos, mas num futuro mais distante. “Tudo que envolve a saúde e possa ser feito em casa, nós queremos chegar lá”, diz. “Mas passo a passo, no tempo certo e sem atropelo.”

Saúde (financeira) em primeiro lugar.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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