Autopeças: como a Advent criou uma varejista de R$ 2 bi com a Fortbras
Desde 2016, quando entrou no segmento, R$ 1,3 bilhão foi investido em consolidação
Publicado em 23 de fevereiro de 2022 às 09:00.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2022 às 16:37.
Em 2014, quando a crise na economia do governo Dilma Rousseff (PT) estava se tornando óbvia, a gestora de fundos de private equity Advent decidiu que iria investir em varejo para consolidar mercados. Três frentes foram escolhidas: alimentos, remédios e autopeças. Dessas, a única que nunca se concretizou foi a frente de farmácias. Mas foi dessa decisão que veio a compra do Walmart no Brasil (que virou Big e foi comprado pelo Carrefour) e também da Fortbras, em 2016, uma rede de varejo de autopeças no sul do país, então com 16 lojas e receita de R$ 400 milhões ao ano.
Passados pouco mais de cinco anos, a consolidação nesse segmento para engordar a Fortbras já movimentou R$ 1,3 bilhão em aquisições. A mais recente foi anunciada hoje e marca a entrada nos estados de Goiás e Tocantins: o alvo foi a Jaicar, líder da praça goiana. A transação vai acrescentar cerca de R$ 175 milhões em receita ao negócio, que no ano passado teve faturamento líquido de R$ 2 bilhões. São 11 lojas a mais, que elevarão o total da companhia para 183 unidades, espalhadas agora por 20 Estados, em mais de cem cidades.
Desde que a Advent decidiu entrar nesse ramo, o crescimento composto médio (CAGR) foi de 38% ao ano na receita da Fortbras e de 42% no lucro bruto. Quanto maior fica, mais margem a companhia agrega — não apenas com escala nos fornecedores, mas adicionando eficiência em gestão com tecnologia. Nas aquisições, cerca de metade dos pagamentos foi feito pela própria empresa, sem necessidade de novos aportes pela gestora. “É um negócio gerador de caixa e que já rende dividendos”, afirma Wilson Rosa, sócio da Advent responsável pelos investimentos em varejo e presidente do conselho da Fortbras, em entrevista ao EXAME IN.
O objetivo das aquisições é trazer mais variedade em produtos e maior abrangência. As bandeiras locais são preservadas e expandidas. "É um segmento em que o nome regional importa. Nós compramos e daí aumentamos o negócio", explica o executivo. Quando entrou nesse setor, a Fortbras tinha cerca de 75 mil SKUs e agora já são mais de 250 mil.
Assim, cada transação traz uma frente nova para que todo sortimento do grupo possa estar à disposição em cada uma das unidades físicas, e também online. Além das compras, também foi realizado um grande investimento em aberturas de lojas. “Só no ano passado inauguramos 24 unidades”, conta Rosa. Proporcionalmente, segundo ele, entre 35% e 40% das lojas foi resultado de expansão orgânica. Também houve investimento em capacidade logística. Os centros de distribuição que foram adquiridos em Vitória e Ribeirão Preto foram ampliados e mais dois foram construídos, em Porto Velho e Manaus.
A companhia já fez alguns exercícios para abertura de capital, mas agora, segundo Rosa, não precisa pensar em uma oferta pública inicial. Um IPO poderia, além acelerar crescimento, permitir uma saída parcial do investimento do fundo. Ele garante, porém, que a empresa está pronta para quando a oportunidade surgir, mas que não há pressa alguma. “Essa é uma característica nossa, assim que assumimos um negócio, ele já começa a ser preparado para um IPO”, diz. No ano passado, houve até mesmo algumas reuniões com investidores.
O mercado de autopeças é estimado pela Advent em R$ 100 bilhões ao ano, o que dá à empresa um market-share de 2%. Quando questionado sobre o tamanho que a Fortbras pode alcançar, Rosa diz que não há uma meta. Contudo, ressalta que assim como os demais varejos, faz sentido pensar em uma operação líder que detenha entre 15% e 20% do negócio. Hoje, ele garante que a Fortbras já é a maior no segmento, pois é um ramo ultra pulverizado.
O executivo afirma que o varejo de autopeças tem uma constante interessante: é de bom crescimento, mas com grande resiliência ao mesmo tempo. Quando aumenta a venda do automóvel zero quilômetro, é mercado futuro e presente. Dentro de três anos esses automóveis vão se tornar demanda adicional. Além disso, em geral, quando adquirem um novo, as pessoas se desfazem de um usado – que passa por uma revisão antes de ser recolocado no mercado. Nos períodos de piora na economia e redução nas vendas dos novos, a frota do país envelhece mais e precisa de mais manutenção. "Para completar, para nós, todo esse movimento de uberização e aumento da demanda por aluguel é oportunidade, pois cada carro tem um uso muito intesivo", ressalta.
A frota nacional de veículos é da ordem de 43 milhões de unidades, com uma expansão média de 6,5% ao ano na última década. Esse total equivale a quase 5 pessoas por veículo, uma penetração ainda baixa. Na Argentina, por exemplo, são 3,2 pessoas por automóvel e nos Estados Unidos, 1,2. Além disso, a idade média dessa frota vem aumentando: está em 10,2 anos, ante a 9,3, quando a Advent fez sua investida sobre o setor. “Vemos um crescimento médio de pelo menos 5% no mercado consumidor de autopeças pelos próximos dez anos”, afirma Rosa.
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