Logo Exame.com
ExclusivoBalanços

Alpargatas volta ao lucro no 1º tri; "estratégia é simplificar portfólio", diz CEO

Em sua primeira entrevista à frente da dona de Havaianas, Liel Miranda atribui melhora ao trabalho de redução de estoques e liberação de caixa feito ao longo de 2023

Novo CEO: há 100 dias no comando, Liel Miranda diz que trabalho é de continuidade na disciplina financeira (Alpargatas/Divulgação)
Novo CEO: há 100 dias no comando, Liel Miranda diz que trabalho é de continuidade na disciplina financeira (Alpargatas/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 9 de maio de 2024 às 20:37.

Última atualização em 10 de maio de 2024 às 18:58.

Liel Miranda trocou os chocolates pelas sandálias e chinelos Havaianas. Vindo da Mondelez Brasil, dona da Lacta, ele acaba de completar 100 dias à frente da Alpargatas com a missão de dar continuidade ao trabalho de ganho de eficiência iniciado em 2023 e colocar a empresa num “ciclo virtuoso”. 

“A margem que temos agora ainda é inferior à margem histórica da Alpargatas. Meu trabalho é gerar disciplina financeira para continuar nessa jornada e reinvestir para recuperar capabilities tanto comerciais quanto operacionais”, diz Miranda ao INSIGHT, em sua primeira entrevista como CEO da dona da Havaianas.  

O primeiro trimestre da companhia veio como um retrato do trabalho de turnaround comandado entre abril de 2023 e janeiro deste ano por Luiz Fernando Edmond, ex-Ambev e conselheiro da dona da Alpargatas desde 2018. De janeiro a março deste ano, o lucro líquido da companhia foi de R$ 24,7 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 199,7 milhões de um ano antes.

A receita líquida da Alpargatas cresceu 3,2%, para R$ 931,8 milhões, ainda refletindo um cenário mais complexo no mercado internacional e o processo de desestocagem adotado pela empresa. 

Depois de crescer muito na pandemia, com os volumes levando à capacidade produtiva ao nível máximo, a companhia não soube lidar com a concorrência, os desafios das operações externas (onde conseguia ir bem historicamente) e a complexidade de seu portfólio de Havaianas, que cresceu e chegou a categorias novas, como tênis e até vestuário.

O plano, então, foi de voltar ao básico na marca, seu principal negócio. Parte do mercado entendia que “havia uma problemática de execução em que a empresa só queria vender e não sabia fazer precificação”, segundo um analista que acompanha o papel. Ainda em agosto, a então gestão liderada por Edmond, identificou ao menos R$ 80 milhões e R$ 120 milhões de despesas a serem reduzidas em termos anualizados. 

No primeiro trimestre de 2024, as despesas caíram nada menos do que 40%, para R$ 384,5 milhões. Com isso, voltou a reportar lucro operacional, na ordem de R$ 40,9 milhões. Já o Ebitda passou de R$ 66 milhões para R$ 110 milhões, com a margem ficando 4,5 pontos percentuais maior, a 11,8%. 

O resultado financeiro também melhorou cerca de 45%, para R$ 11,9 milhões de despesas financeiras. Com um forte trabalho de redução de capital de giro, com uma liberação de R$ 112 milhões. “Ao longo do ano passado a empresa fez uma racionalização de portfólio e esse ano continua nessa jornada”, diz Miranda. "Estratégia continua sendo a simplificação de portfólio."

Ao fim do primeiro trimestre, a geração de caixa operacional após investimentos ficou positiva em R$260 milhões, se contrapondo a um consumo de caixa de R$ 271 milhões do mesmo período do ano anterior.

Assim, com maior liberação de caixa no trimestre combinada o aumento de Ebitda foram fundamentais para a empresa aprofundar o movimento de redução da alavancagem, que passou de 2,6x no quarto trimestre para 1,1x agora, trazendo mais leveza ao balanço – no terceiro trimestre de 2023, período mais crítico da companhia, a relação entre dívida líquida e Ebitda chegou a 2,7x. Não fossem baixas contábeis de matérias-primas e produtos acabados por causa da decisão de aumento de portfólio anos antes, a alavancagem seria de 0,7x. 

Agora, diz Miranda, os resultados começam a acontecer de forma mais natural. No mercado interno as vendas ainda cresceram 12% em volume e 14% em receita. O avanço do sell out (venda ao consumidor final) ainda foi levemente melhor, mas a alavanca de crescimento veio da reposição de estoques de lojistas (sell in). 

No internacional, as vendas de Havaianas caíram 9,6% em volume e 16% em receita, ainda com impactos dos problemas de anos anteriores. “Até 2022 tivemos aumentos de preço e estoque acima da demanda. Tivemos que tomar um remédio parecido ao que tomamos no mercado interno para desestocar e o primeiro trimestre mostra que ainda estamos pagando um o preço do que aconteceu ano passado.” 

Ainda assim, a queda de exportações não foi uma exclusividade da dona da Havaianas. Dona da Ipanema, a Grendene, sua principal concorrente, também reportou queda. Para tentar voltar a crescer no exterior, a Havaianas, conta Miranda, está concentrando esforços em seus principais mercados internacionais, sendo 4 países da Europa, 2 da América Latina, os Estados Unidos e outros 5 países da Ásia.

Para a estratégia de Havaianas, sua principal operação, a primeira etapa de retomada, conta Miranda, é executar o preço de forma correta, adequado a cada canal e produto. Hoje são mais de 300 mil pontos de venda no Brasil. Outro nível é a melhoria da gestão de cadeia de fornecimento. "Ter boa previsão de demanda para comprar na quantidade certa, produzir e dar vazão. Esse foi um problema ao longo de 2021 e 2022 e que foram feitos ajustes ao longo de 2023."

A companhia também começou a ver melhoras na Rothys, marca norte-americana de sapatilhas feitas com plástico reciclado de garrafas pet. A empresa comprou cerca de 49% do capital da marca em 2021, por R$ 2,7 bilhões. Ainda sem dar lucro, a operação reduziu o prejuízo de R$ 23,9 milhões nos primeiros meses  de 2023 para R$ 4,4 milhões em 2024.

Com foco inicial em Havaianas, Miranda só deve se juntar ao board da Rothy’s no segundo semestre deste ano. Até hoje a marca opera apenas nos Estados Unidos.

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade

Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

Continua após a publicidade
A vida após Rony Meisler: Os planos do novo CEO da Reserva

A vida após Rony Meisler: Os planos do novo CEO da Reserva

ENTREVISTA: “Se o mercado não entende a boa fase da Multiplan, eu entendo”, diz CEO

ENTREVISTA: “Se o mercado não entende a boa fase da Multiplan, eu entendo”, diz CEO