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Cervejas

A Skol sentiu a concorrência. Mas, na Ambev, estratégia de preço segue de longo prazo, diz CFO

Uma das marcas mais populares da companhia acabou ferida na guerra de preços travada pela Petrópolis. Mas 2024 será o ano de equilíbrio de volume e receita, diz Lucas Lira

 (Paulo Fridman/Bloomberg/Site Exame)
(Paulo Fridman/Bloomberg/Site Exame)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 1 de novembro de 2024 às 15:22.

O terceiro trimestre da Ambev não desceu redondo – especialmente para a Skol, marca sessentona que sentiu o impacto dos preços agressivos da concorrência, principalmente da Itaipava, do Grupo Petrópolis.  

As ações da companhia caíram 2,24%, sendo os papéis mais negociados do pregão de quinta-feira, 31. Mas o anúncio do programa de recompra de 155 milhões de ações conseguiu estancar o que poderia ser uma sangria mais intensa. Hoje, os papéis continuam no campo negativo.  

A queda de 11% na última linha do balanço para R$ 3,57 bilhões aconteceu especialmente por causa da despesa com imposto de renda diante da menor dedutibilidade de subvenções governamentais e dos juros sobre capital próprio (JCP). Mas não só isso.  

O volume de cerveja vendida no Brasil ficou aquém do que previam os analistas. A projeção de mercado era de um crescimento de 2,5%, mas os números mostraram um avanço de apenas 0,6%.  

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O que explica a discrepância? Expectativas muito altas ou ambiente muito mais difícil? É difícil dizer, mas é melhor olhar o filme do que a foto, diz o CFO Lucas Lira. “De 2020 para cá, temos consistentemente conseguido crescer o nosso volume. E a indústria de cerveja no Brasil segue num momento muito bom. Nosso desafio tem sido liderar isso e temos mais acertado mais que errado.”  

No segmento premium, a companhia conseguiu, de fato, números melhores, acirrando a disputa com a Heineken. O grupo que reúne Corona, Spaten e Original cresceu mais de 25% no trimestre. No core plus, um segmento intermediário, as vendas cresceram 10%, com Budweiser e Brahma Duplo Malte.  

A maior dor foi mesmo nos rótulos mais populares, justamente os de maior volume. De acordo com Lira, Brahma e Antarctica ainda cresceram 8%. A principal vítima da guerra de preços travada pela Petrópolis foi a Skol. “O trimestre de Skol foi mais difícil, mas se pegarmos a performance desde o período pré-pandemia, o volume cresce 10%”, pondera. 

A grande questão do mercado é como a Ambev vai conseguir entregar crescimento em meio a um ambiente menos racional de preços.  

Com a Petrópolis reagindo, a Ambev pode perder parte do espaço nas prateleiras que uma vez recuperou. Para o time do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame), é neste momento que a qualidade do portfólio, a distribuição e o acesso aos canais (incluindo as ferramentas digitais BEES e Zé) serão testados.  

No terceiro trimestre, diz Lira, os preços foram repassados, mas acabaram afetados pelo aumento de carga tributária. “Na receita por hectolitro temos sofrido mais por conta de aumento de ICMS e algum aumento no PIS e na Cofins. Embora tenhamos aumentado o preço ao cliente até um pouco acima da inflação, aumento tributário está anulando isso.” 

Mas a estratégia de precificação a longo prazo não mudou, garante o diretor financeiro. “O que acreditamos é na importância de a indústria continuar crescendo. Então, quando olhamos nossa estratégia de preço, tem uma série de variáveis nessa equação, como renda disponível, PIB e saúde das marcas.” A receita, segundo ele, é um crescimento “saudável” da receita. “E depois traduzir essa receita em geração de caixa." 

De 2020 até 2023, a empresa se esforçou em aumentar volume e conseguiu, chegando a patamares recordes. Mas o mercado ainda cobrava recuperação da rentabilidade, um caminho que começou a ser trilhado a partir do ano passado – de janeiro a setembro, a margem Ebitda do mercado de cerveja no Brasil cresceu 2,7 pontos percentuais, alcançando os 33%.  

Houve, sim, efeito de custos mais altos de commodities ao longo do tempo, mas a pedra no caminho agora, é outra. Em 2024, o desafio da Ambev é deixar volume e receita num equilíbrio perfeito. Resta saber o quanto a companhia vai conseguir segurar todos os pratinhos (ou copinhos, nesse caso) de preço, custos, participação de mercado e saúde de marca.  

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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