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Vale e seus R$ 575 bi decidem conselho: estrangeiros são eminência parda

Ex-controladores têm pouco menos de 20% do capital e estrangeiros relevantes, mais de 23%

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GV

30 de abril de 2021 às 03:15

Os acionistas da mineradora Vale decidem hoje o destino do núcleo de poder da companhia que vive seu auge na B3. Será eleito o conselho de administração, em uma disputada assembleia. São 16 candidatos para 12 vagas — o conselho total tem 13 participantes, com a indicação de um representante dos trabalhadores.

Com o minério de ferro em suas máximas histórias, a empresa é hoje a mais valiosa da bolsa brasileira, avaliada em R$ 575 bilhões. Sozinha,  representa quase 11% da capitalização de todas as 369 companhias listadas na B3, que totalizam R$ 5,345 trilhões.

Essa é a primeira eleição, desde que a companhia foi privatizada em 1997, em que não existe um grupo de controle e nenhum acordo de acionistas que aglutine um grupo predominante. Mesmo assim, acionistas que faziam parte desse bloco, como Previ, Bradespar e Mitsui, ainda somam perto de 20% do capital. Mesmo assim, há quem julgue essa a assembleia de coroação da privatização.

Recentemente, uma recomendação de voto apontou uma eminência parda de poder. A gestora de recursos Capital, segundo essa lista, teria sozinha 17% do capital da Vale. Portanto, seria isoladamente a maior investidora. O formulário de referência da companhia apresenta a casa com duas posições de pouco mais de 5%.  O grupo de estrangeiros influentes tem ainda a BlackRock, a maior gestora de recursos independente do mundo, com cerca de 6% das ações.

A Capital, sozinha, garantiu que a eleição de hoje ocorra por voto múltiplo. Um processo no qual cada acionista tem os votos multiplicados pela quantidade de vagas no conselho. Nesse modelo, a alocação é flexível e é possível concentrar todos os votos detidos em um ou mais nomes que um acionista queira garantir no conselho, para ampliar suas chances de eleição. Ninguém sabe o que quer a Capital. E, ao que tudo indica, ela ainda não apresentou seus votos.

Dada a relevância do momento, a atual administração da companhia fez um extenso trabalho de preparação de uma lista de nomes, fruto do esforço de um Comitê de Nomeação. Era um trio formado pelo atual presidente do conselho, Maurício Coelho, presidente da Previ, e mais Pedro Parente e Alexandre Silva, respectivamente presidentes dos conselhos da BRF e da Embraer. Esse trabalho resultou em uma lista de 12 nomes.

Como presidente do colegiado, foi recomendado José Luciano Penido, ex-presidente do conselho da Fibria, e conselheiro da Vale desde 2019. Além dele, foram indicados outros seis nomes que lá já estão: o atual líder do grupo José Maurício Coelho (presidente da Previ), Fernando Buso (Bradespar), Sandra Guerra (independente), Roger Downey (independente), Murilo Passos (independente) e Eduardo Rodrigues (ex-Vale). E cinco nomes novos surgiram na lista: Clinton Dines (ex-CEO da BHP Billiton na China), Elaine Dorward-King (ex-líder de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Rio Tinto), Ken Yasuhara (ex-diretor da Mitsui e da Sumitomo no Brasil),  Ollie Oliveira (ex-executivo das mineradoras Anglo American e DeBeers) e Maria Fernanda Teixeira, que além de ter ocupado altos cargos de direção, foi fundadora do Grupo Mulheres Executivas de São Paulo e membro do Conselho de Diversidade e Desenvolvimento do Banco Mundial.

O que tornou essa eleição disputada é que, menos de 24 horas após o conselho da Vale tornar essa lista pública, um grupo de acionistas brasileiros liderados por Lirio Parisotto — mais outros bilionários nacionais como Victor Adler e as gestoras Tempo Capital, Poland, Alaska — recomendaram 4 outros nomes para concorrer à eleição, incluindo um deles para brigar pela presidência do colegiado: Roberto Castello Branco, que acaba de deixar a presidência da Petrobras e que em um passado nada distante foi executivo da Vale por 15 anos. Alegaram necessidade de aumento da independência.

Muitos comentam no mercado que o movimento foi liderado por Marcelo Gasparino, um conselheiro independente profissional que iniciou sua atual carreira como nome de confiança de Parisotto nos conselhos e que já é membro do colegiado da Vale, desde o começo do ano passado. Em entrevista recente ao EXAME IN, Gasparino limitou-se a dizer sobre isso que o movimento foi dos acionistas que o indicaram.

Junto com Gasparino e Castello Branco foram indicados também Mauro Rodrigues da Cunha, com vasta experiência em conselhos e uma carreira dedica à militância pelas boas práticas de governança corporativa, e Rachel Maia, ex-CEO de grupos internacionais no Brasil como Tiffany e Lacoste. O quarteto fez um périplo de reunião com investidores desde então.

Embora haja muita expectativa, está para lá de difícil prever o resultado. O que se sabe é que a Capital pode vir a ser o fiel da balança com sua posição. Tudo depende entre quantos participantes vai dividir ou concentrar seus votos. Até o momento, só apresentaram os votos — por meio dos boletins à distância — acionistas donos de 18% do capital total. Por esse percentual, conclui-se que a Capital não está nele. Do contrário, praticamente mais nenhum outro investidor teria votado.

Por essa lista, predominaria como vitorioso o grupo recomendado pela própria Vale. Da lista rival, somente Rachel Maia estaria eleita. Entraria na composição final no lugar de Ken Yasuhara. Ela teve a benção da agência de recomendação de voto ISS, a mais influente entre as casas. Dos quatro, o segundo mais votado seria Rodrigues da Cunha (mas com insuficiente número para eleição). Gasparino é do quarteto, até agora, quem menos recebeu votos a favor.

O resultado mesmo só se saberá mesmo após a assembleia. Tudo indica que os estrangeiros, com destaque para Capital e BlackRock, é que definirão o futuro. Sobre os ex-controladores, já se sabe como votarão. Portanto, vão dividir seu poder de voto entre 8 ou 12 candidatos. Resta saber, os estrangeiros.

O tema é tão quente que, de forma incomum, essa eleição tornou tema de relatório de analistas. Os analistas do HSBC acreditam que essa é uma das assembleias mais importantes da história da companhia, por ser a primeira sem influência de um controlador e a que consolida a empresa como uma "true corporation". Dada a importância da assembleia, o HSBC espera presença de mais de 80% dos acionistas, muito acima do quórum de 25% requerido pela empresa. Em relatório nesse mês, os especialistas da instituição chegaram a fazer uma avaliação ampla do sistema de votação, incluindo sugestões para melhoria do processo.

“O que estará em jogo é se a estratégia e a agenda adotada pelo novo conselho eleito conseguirá ou não aumentar o valor de mercado da companhia para o mesmo patamar de seus pares”, pontuou o HSBC.

 

 

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