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US$ 100 bi: Nubank tem plano secreto para valer 60 vezes a receita?

Banco digital teve receita líquida de R$ 1,8 bilhão nos três primeiros meses de 2021

GV

26 de agosto de 2021 às 11:14

O assunto do dia, claro, é a pretensão de valuation do Nubank, de US$ 75 bilhões a US$ 100 bilhões, para sua estreia na Nasdaq, que deve ocorrer ainda dentro de 2021. Na prática, se alcançada em seu teto, a operação colocaria o banco digital como a maior companhia brasileira de capital aberto, em termos de valor de mercado. Seria maior que a Vale, a Petrobras e qualquer outra gigante nacional que o leitor possa lembrar.

O que isso significa? A primeira resposta que vem em mente dos papas do valuation com os quais o EXAME IN conversou é que existe um plano e uma estratégia de negócio ainda desconhecida do público. Não está claro para ninguém como esse valor pode ser possível com o que se conhece do Nubank, seus números e seus planos até o momento.

A âncora para a buscar essa potencial avaliação seria, principalmente, a base de acionistas ilustrada do Nubank. A nata da nata dos investidores globais, do venture capital ao value invest tradicional está lá: Sequoia Capital, Tiger Capital, Tencent e mais recentemente Berkshire Hathaway, o oráculo internacional Warren Buffet, entre muitos. Dos brasileiros, o oráculo nacional Luis Sthulberger, da Verde Asset Management, e o Absoluto.

O racional por trás desses nomes é que seria contraintuitivo acreditar que todos eles estão errados. Não esse time. Não depois de diligências pré-investimentos. Mesmo assim, explicar agora os números é ainda mais desafiador.

O segundo significado do valuation pretendido pelo Nubank, conforme informações do Pipeline apurada com fontes ligadas à operação de abertura de capital, é que se o Nubank tiver sucesso em seus planos, vai “reprecificar” as fintechs e bancos digitais. A expectativa do mercado é que a instituição buscasse um valor em torno de US$ 50 bilhões. Portanto, a surpresa é generalizada.

Os concorrentes estão vivendo um misto de curiosidade e excitação. “Se o Nubank conseguir no mercado o valor que pretende, significa que a avaliação de Inter, BTG Digital e Banco Pan (os dois últimos do mesmo grupo de controle da Exame), no mínimo, está equivocada, ou seja, eles deveriam valer muito mais”, comentou um gestor de recursos. Todos aguardam para ver o prospecto da operação e ouvir o road show da oferta para entender a trilha de valor que o Nubank pretende criar.

O Nubank apresentou lucro líquido de R$ 6,8 milhões no primeiro trimestre deste ano. Não, não é o primeiro. Conforme balancetes apresentados ao Banco Central, houve um resultado líquido positivo de quase R$ 25 milhões no segundo trimestre de 2020, mas com um acumulado anual de prejuízo superior a R$ 230 milhões. O resultado operacional líquido ainda foi negativo, em R$ 3,7 milhões nos três primeiros meses do ano.

Apesar de ainda ter uma certa sensação de mistério com os planos do banco, o que o mercado se impressiona é com o crescimento de receita do banco, apesar da base de clientes ativos ser muito inferior à base total. A instituição possuía cerca 40 milhões de clientes cadastrados em maio. O Banco Central do Brasil, porém, considera a base de usuários pouco superior a 10 milhões, que são aqueles efetivamente ativos dentro da carteira de crédito da instituição.

A receita líquida de 2020 foi de R$ 4,8 bilhões e a do primeiro trimestre deste ano, de R$ 1,8 bilhão. Anualizado, os três primeiros meses de 2021 somariam R$ 7,2 bilhões. O entendimento é que, com uma receita desse tamanho, o Nubank não dá lucro porque não quer — porque o foco ainda é crescimento, portanto gastar para ter mais cliente, mais plataforma, mais produtos e serviços.  Mas tem, sim, uma base robusta para trabalhar. A carteira de crédito total somava cerca de R$ 18,5 bilhões ao fim de março, conforme os dados do Banco Central.

O segredo de tudo

Dizer que essa base e a expectativa de crescimento valem US$ 100 bilhões, ou seja cerca de 60 vezes a receita estimada para 2021, é que vão ser elas. Antes mesmo de estrear na Nasdaq, o banco brasileiro é caso de avaliação em Stanford, para quem estuda o mercado de fintechs. A proxy para ele? Não, não são bancos. É a trajetória do Mercado Livre. Por que? Gestão competente e orientada ao cliente de uma forma que indústria nunca teve antes. O "Meli", como é conhecido, vale mais de US$ 90 bilhões e tem dentro dele o próprio projeto de Nubank, com o Mercado Pago.

Enquanto a concorrência e os investidores querem o plano concreto de negócios, o Nubank coloca o foco em seu grande diferencial e o principal motivo que o levou à Stanford: NPS, o ativo da vez. O BTG Pactual publicou ontem um relatório que demonstra que a nota do Nubank perante os clientes está quilômetros à frente das dos grandes bancos comerciais. Para ser mais específico: sua nota é o dobro do melhor banco comercial.  Enquanto o levantamento aponta que os usuários dão nota 69,4 (de 100) para o Nubank, Itaú recebe 34,8; Bradesco tem 27; Santander fica com 26,5; e Banco do Brasil, com 13,2.  Só para explicar que não está sozinho, Banco Inter também está com distância relevante e é o segundo melhor colocado, com NPS de 52,6.

O parceiro que realizou o estudo para o BTG Pactual foi a SoluCX, que avalia mais de 120 marcas e realiza mais de 18 milhões de pesquisas mensais. Para esse levantamento, a empresa de pesquisa entrevistou mais de 8 mil pessoas, em São Paulo, entre abril de 2020 e junho de 2021.

Que Nubank é grande e será forte, dúvida não há. Mas, dizer que após Buffet avaliar o negócio em US$ 30 bilhões em maio, o valor se multiplicou por mais de 3 vezes em poucos meses pode não ser tão simples.

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