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União entre Arezzo e Soma teria desafio de governança

Companhia de moda liderada por Roberto Jatahy tem planejamento detalhado para futuro do negócio

Arezzo, na Oscar Freire: sonho de comprar Grupo Soma é conhecido pelo mercado, mas empresa diz que não há proposta até o momento (Germano Lüders/Exame)
Arezzo, na Oscar Freire: sonho de comprar Grupo Soma é conhecido pelo mercado, mas empresa diz que não há proposta até o momento (Germano Lüders/Exame)
GV

Graziella Valenti

3 de novembro de 2021 às 21:38

Alexandre Birman, dono da Arezzo &Co, tem um desejo desde que perdeu a Hering para o Grupo Soma: comprar tudo. E quer ser o controlador de tudo. Essa é uma vontade do empresário que já se espalhou pela Faria Lima e Leblon, os centros financeiros do país em São Paulo e no Rio de Janeiro, e que o site de notícias Pipeline, do Valor, trouxe na tarde de hoje. Mas quem conhece de perto Roberto Jatahy, presidente e sócio fundador da Animale e principal nome articulador da plataforma de marcas que se tornou o Soma, sabe que essa conversa não será assim tão simples.

A começar que falar em aquisição pela Arezzo &Co faz todo mundo no Soma remexer na cadeira, uma vez que a empresa de calçados vale perto de R$ 8 bilhões na bolsa, enquanto a companhia de moda está em quase R$ 12 bilhões — uma diferença de 50%. Em receita, contudo, Arezzo &Co é maior: R$ 954 milhões, no terceiro trimestre, comparado a R$ 566 milhões do grupo comandado por Jatahy, no segundo trimestre (o balanço do terceiro vem só na próxima semana). Na geração de caixa, contudo, os negócios são mais parecidos.

Mas em uma eventual combinação societária, Birman — que possui 45% da Arezzo — de fato sairia como maior acionista individual da companhia resultante. Daí, a percepção de que ele poderia ser controlador (posição que seria reforçada quanto maior fosse o pagamento em dinheiro de um eventual negócio). O Grupo Soma tem um grupo de sócios reunidos por acordo de acionistas que agrega perto de 37% do capital, mas são diversos nomes e nenhum isoladamente rivalizaria com a exposição de Birman. Mas daí a ele se entender como dono ou acionista de referência, na visão do Soma, tem muita diferença.

Está bastante claro que para Jatahy e seu grupo de sócios uma transação só faria sentido – qualquer que seja, não é o caso apenas de Arezzo – se houvesse um arranjo societário muito claro sobre a governança e os limites dos poderes, além de um bom preço, claro!

As duas companhias têm direcionamentos estratégicos bem definidos — e parecidos em muitos pontos, para quem olha de fora. A Arezzo &Co, desde que adquiriu a Reserva, bate na tecla da expansão e da digitalização. Jatahy, por sua vez, tem um planejamento todo milimetricamente calculado para o Soma após a compra da Hering e uma visão muito única sobre o que falta na cadeia de moda e têxtil para o setor ter grandes companhias no Brasil — e tem tido sucesso na execução.

A Arezzo &Co não confirmou oficialmente, em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e mesmo em entrevista à EXAME, nenhuma proposta ao Grupo Soma. Limitou-se a dizer que é ativa em busca de oportunidades de consolidação e que não possui nenhum assessor financeiro contratado, nem fez nenhum lance.

O Grupo Soma foi além. Além de afirmar que se trata apenas de especulações do mercado, já se adiantou e mandou seu recado: "A administração da companhia avalia continuamente oportunidades de aquisição de empresas ou de ativos que possam contribuir para o atingimento dos seus objetivos de longo prazo. Entretanto, a estratégia de desenvolvimento dos negócios da companhia não compreende, na presente data, qualquer movimento envolvendo a Arezzo."

Ambas as empresas, além do óbvio discurso de digitalização, têm projetos de internacionalização com geografias e cronologias muito semelhantes. Tanto a Arezzo quanto a Farm (maior marca e mais internacionalizada do portfólio do Soma) já colocaram um pé nos Estados Unidos, estão assistindo seus negócios engordarem e montaram um projeto que mira agora a Europa.

Para especialistas em marcas, o Grupo Soma tem muito mais fit com a Alpargatas, dona das Havaianas, que admitiu pela primeira vez que vai partir para aquisições. Ocorre que o projeto de Roberto Funari, presidente da empresa, é mirar em ativos do setor de calçados, com foco global e potencial para ser “escalável”. O caixa da empresa que já era robusto engordou em mais R$ 400 milhões com a decisão da venda da Osklen, marca de moda têxtil brasileira. Não importa quanto alguns possam ver lógica em uma operação, ela não é aguardada pelo mercado.

Além do planejamento claro de Jatahy para o Soma — e da valorização de sua liderança pelo mercado —, Birman enfrentaria outro claro desafio: Fabio Hering, que se tornou presidente do conselho de administração da plataforma de marcas após a aquisição pelo Soma. É possível dizer sem muitos equívocos que a relação entre ele e Birman não ficou das mais simpáticas após a Hering acreditar que seria alvo de uma oferta hostil por parte da Arezzo.

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