Petrobras: nome de Pires traz alívio e dúvidas para a estatal de R$ 450 bi
Escolha de Pires surpreende investidores, mas ainda há temor sobre governança
Escolha de Pires surpreende investidores, mas ainda há temor sobre governança
28 de março de 2022 às 22:04
A notícia sobre a indicação do economista Adriano Pires, um consultor conhecido no setor de energia por suas posições liberais, para a posição de presidente da Petrobras fez todo mundo no mercado sair correndo para ler e reler o que ele já escreveu sobre preço dos combustíveis. Ainda que sua posição contra interferências políticas seja pública, é sempre bom rever. Todo mundo sabe que esse é o calo — ou cabo — eleitoral do ano. A companhia, avaliada em R$ 430 bilhões na B3 e com uma receita anual que superou R$ 450 bilhões em 2021, é a maior do país em faturamento. E carrega quase 11% do Índice Bovespa.
A primeira sensação é de alívio. Pires entende como poucos do riscado teórico do setor, ainda que não entenda exatamente sobre ser CEO de uma estatal em um ano como esse. Mas fica a sombra ainda da sensação de mais uma canetada do governo.
Hoje (28) pela manhã, Pires, que é sócio-fundador e presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), publicou uma nota em seu LinkedIn sobre o tema dos combustíveis, junto com o link para uma matéria do jornal Financial Times (para a qual ele concedeu entrevista). No LinkedIn, ele dizia acreditar ser pouco provável uma intervenção do governo na política de preços de combustíveis. Dois os argumentos usados pelo economista e consultor: a estatal tem controles internos melhores desde a Operação Lava-Jato e o presidente Jair Bolsonaro, se adotasse o controle de preços, poderia ser comparado ao ex-presidente Lula.
Para ser indicado como CEO da Petrobras, Pires precisa primeiro ser do conselho de administração da Petrobras. A assembleia geral da estatal para eleger o novo colegiado está convocada para 13 de abril. A chapa indicada, com Rodolfo Landim, como chairman está na rua faz tempo, desde a primeira semana do mês. E hoje, a 15 dias da votação, o Ministério de Minas e Energia enviou uma circular à companhia com a nova chapa, a 15 dias da eleição, agora com o nome de Pires. Os boletins de voto sem o nome de Pires já estavam publicados e terão de ser refeitos.
Do lado da governança da estatal, a confusão está mais uma vez toda armada. A última vez que se tem notícia de que os ritos foram respeitados e combinados entre governo e os órgãos de governança da Petrobras foi na indicação de Pedro Parente para presidente da petroleira, durante a gestão de Michel Temer (PMDB). Depois disso, voltou à normalidade a notícia sobre o CEO da Petrobras sair confirmada do Planalto.
Os investidores ouvidos pelo EXAME IN ainda estão tentando compreender o que a indicação de Pires significa. Os analistas há tempos apontam o desconto nas ações da Petrobras. Para simplificar a vida do leitor sobre o tamanho do receio dos investidores com medidas intervencionistas, basta o retrato a seguir. O preço do barril de petróleo começou 2022 na casa dos US$ 80 e agora está perto de US$ 110 – depois de ter encostado nos US$ 128. A ação da Petrobras começou o ano em torno de R$ 32 e agora está por volta dos R$ 34 (as ordinárias) e ficou dentro desse intervalo todo o período.
Um analista de buy side tem a conta de cabeça. Considerando os preços atuais, a Petrobras, em um prazo quatro meses, pagará em dividendos cerca de R$ 9 por ação, o que é um retorno de quase 30% sobre a cotação atual. Só que falta coragem para o investidor comprar. Agora, todo mundo está fazendo conta de novo, mas com dificuldade para ler por trás das decisões.
Qual a intenção do governo com essa mudança às vésperas da largada para as eleições? Não é por outro motivo que a notícia sobre a decisão de tirar o general Joaquim Silva e Luna fez as ações caírem hoje. Ainda que tenha sido recebido com ceticismo, o atual CEO seguiu a política de preços. A crise dos combustíveis é, inclusive, a principal razão para sua saída. As ações ordinárias da estatal terminaram o pregão em queda de 2,6% com temor de que o Planalto sugerisse alguém claramente a favor de intervenções. O nome de Pires, confirmado após o fechamento do mercado, caiu bem. Mas há receio ainda entre analistas e investidor para cravar de cara que as ações vão mostrar alívio amanhã.
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