Odebrecht precisa de lucro da Braskem para sobreviver e vender ativos
Conglomerado aprovou ontem plano de recuperação judicial na 1ª Vara de Falências de São Paulo
Conglomerado aprovou ontem plano de recuperação judicial na 1ª Vara de Falências de São Paulo
23 de abril de 2020 às 10:27
A Braskem será, a partir de agora e em teoria, o principal sustento da Odebrecht. O conglomerado aprovou ontem a reestruturação de 53 bilhões de reais em dívidas dentro de seu plano de recuperação judicial, em processo que corre na 1ª Vara de Falências de São Paulo.
A petroquímica será a maior fonte de liquidez do grupo, por meio dos dividendos que pagar. Mas, para que isso aconteça na prática, precisará ter lucro a distribuir em volume significativo – tarefa que não está nada fácil, devido ao ciclo de baixa do setor.
A Odebrecht é controladora da companhia com uma participação de 38% no capital social. A Petrobras é sócia no controle, com 36% do negócio. O grupo entrou no ramo petroquímico 30 anos depois de sua fundação, na Bahia, e há pouco menos de 20 anos tornou-se o grande consolidador desse mercado.
Desde 2016, quando a Odebrecht cedeu a Braskem em garantia para cinco bancos credores, são eles (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES) quem têm direito a ficar com os dividendos pagos pela petroquímica. A joia da coroa foi entregue na primeira grande reorganização de dívidas na rotina pós-Operação Lava-Jato.
Após o plano de recuperação judicial aprovado ontem, o conglomerado poderá receber até 1 bilhão de reais do que for depositado em dividendo, em parcelas máximas de 250 milhões de reais ao ano, até 2022 – referentes ao desempenho do negócio entre 2018 e 2021.
De imediato, a Odebrecht destrava a primeira parcela de 250 milhões de reais, referente a dividendos de 2018. O dinheiro, que já foi distribuído pela Braskem e estava congelado no aguardo da definição do processo, é vital para dar oxigênio à holding.
O grande desafio será aguardar os resultados futuros da petroquímica, cujo desempenho vem refletindo um conjunto de influências negativas.
A Braskem teve de encarar um provisionamento de 3,4 bilhões de reais, em 2019, devido a problemas na exploração de minas de sal-gema em Alagoas, e enfrenta um forte de ciclo de baixa no setor. Essa combinação é a principal explicação pela qual, no balanço do ano passado, a última linha ficou negativa em 2,9 bilhões de reais, comparado ao lucro de 2,8 bilhões de reais de 2018. Sem lucro, sem dividendo. A convocação da assembleia geral referente ao balanço do ano passado não traz nenhuma deliberação sobre proventos.
Além de sustento cotidiano do grupo Odebrecht nos próximos anos, a Braskem é o pilar da reorganização das dívidas do plano desenhado pelo grupo e seus assessores E.Munhoz Advogados e RK Partners. As ações da companhia garantem dívidas de 13,6 bilhões de reais do conglomerado. Em razão disso, a controladora fez acordo com as instituições que a obriga a vender a petroquímica dentro dos próximos 36 meses para quitar esses compromissos.
Na B3, a Braskem está avaliada hoje em 17 bilhões de reais, com alta acumulada de 22% neste mês. A preços de mercado, a fatia da Odebrecht vale hoje cerca de 6,5 bilhões – montante que cobre menos da metade das dívidas garantidas. A situação torna o prazo de três fundamental para que o cenário melhore.
Os credores da Odebrecht poderão receber ainda os recursos da venda da produtora de etanol Atvos, da operadora de sondas de petróleo Ocyan e da usina hidrelétrica Santo Antônio Energia. Com as transações, primeiro serão pagos aqueles credores que são garantidos pelos ativos e, depois, os sem garantia.
A Braskem é, de longe, o maior ativo da lista. Teve receita líquida de 52,3 bilhões no ano passado, com Ebitda de 7,8 bilhões de reais.
A assembleia de credores do grupo Odebrecht foi realizada ontem – a primeira realizada de forma totalmente virtual. O processo inclui 20 companhias, em sua maioria holdings e subholdings. Dessas, 12 já votaram favoravelmente à reestruturação e 8 ainda vão realizar as assembleias. Mas as mais importantes já foram.
Após dez meses de negociação, o grupo conseguiu uma aprovação elevada dos credores chamados quirografários ou sem garantias (a maior parte): 93% dos participantes e 83% do valor dos créditos. A legislação pede apenas maioria absoluta. As dívidas totais listadas na Justiça somam 98 bilhões, considerando 33 bilhões em compromissos entre as empresas do grupo e as dívidas que ficam fora do debate judicial, chamadas de extraconcursais.
Mais leve, a Odebrecht viverá o desmonte de todo seu processo de diversificação para se concentrar na tentativa de revitalização do seu negócio de origem, a construção civil – hoje chamado de OEC, Odebrecht Engenharia e Construção.
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