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No consolidado dos M&As, um ano para esquecer

Fusões e aquisições caem pelo segundo ano consecutivo no mundo e voltam a patamar de 2013; no Brasil, cenário não foi muito melhor

M&As: nível de atividade voltou aos patamares de 2013 (Thinkstock/anyaberkut/Thinkstock)
M&As: nível de atividade voltou aos patamares de 2013 (Thinkstock/anyaberkut/Thinkstock)
Karina Souza

Karina Souza

28 de dezembro de 2023 às 16:09

A onda de mega deals entre petroleiras no último trimestre não foi suficiente para salvar um ano para esquecer em fusões e aquisições. De acordo com a London Stock Exchange Group (LSEG) foram US$ 2,9 trilhões em transações realizadas neste ano em todo o globo, com queda de 17% frente a 2022.

É a primeira vez em dez anos que o patamar fica abaixo dos US$ 3 trilhões. Outro recorde: desde a crise de 2008-09 o valor dos negócios anunciados não caía mais de 10% por dois anos consecutivos.

No Brasil, o cenário não foi diferente. Números compilados pela TTR Data em parceria com o Tozzini Freire mostram que, de janeiro a novembro, houve uma queda de 31% em valor para M&As, que chegaram a R$ 191,8 bilhões – o menor patamar em cinco anos. Considerando o número de transações, 1.790, o recuo foi de 31%.

Segundo o estudo, o maior negócio do ano -- considerando deals já 100% concluídos -- foi a venda da Aesop pela Natura, por R$ 12,7 bilhões. Além dessa transação, outras duas ainda estão sujeitas a aprovações regulatórias, mas chamam a atenção pelo porte: a venda da Vale Base Metals para a Manara Minerals, por R$ 16 bilhões, e a venda dos frigoríficos da Marfrig na América do Sul , por R$ 7,5 bilhões.

Em todo o globo, o combo de Covid, guerra entre Rússia e Ucrânia e juros elevados vem minando as operações de fusões e aquisições desde o ano passado. Em 2021, a crise do coronavírus tinha trazido uma onda de consolidação. Mas, recentemente, os conflitos entre Israel e Palestina se somaram às incertezas geopolíticas e fizeram o efeito contrário.

No Brasil, a menor atividade de compradores americanos, tradicionalmente os mais ativos no mercado local, ajudou a esfriar os negócios. Segundo o TTR, o volume de transações fechados por investidores dos Estados Unidos caiu 32,4% no ano.

Fora do país, outros pontos, como uma atuação mais enfática de reguladores antitruste, também foram apontados como um dos fatores que emperraram negociações — um exemplo é a compra da Figma pela Adobe, um negócio de US$ 20 bilhões que ficou para trás.

No compilado anual, a Europa apresentou a maior queda, de 28% ano a ano, enquanto a região da Ásia-Pacífico caiu 25% e os Estados Unidos amargaram uma perda menor, de 6% em relação a 2022. Não há menção nos dados da LSEG sobre a América Latina, mas outras fontes ajudam a entender o cenário local.

“A disposição para fazer fusões e aquisições está mais fraca. São operações realizadas por empresas que querem fazer desinvestimentos, principalmente, de olho em preservar os balanços. É um cenário totalmente diferente de 2021, uma época em que havia muita euforia para consolidação”, diz Jens Kengelbach, head global de M&A no Boston Consulting Group.

Um mercado mais complexo para o private equity, com mais dificuldade tanto para captar quanto para fazer a saída de investimentos já no portfólio, também ajuda a explicar o movimento. Segundo a LSEG, os negócios fechados a partir de investidores financeiros no ano caíram 30% para US$ 562 bilhões.

Toda essa desaceleração também tombou as receitas das áreas de M&As de bancos de investimento, segundo a LSEG. A receita caiu 26% em relação ao ano passado, para US$ 29 bilhões, o menor nível desde 2016.

Com a concentração de mega fusões de petróleo no fim do ano, a LSEG aponta que o último trimestre teve uma alta de 28% sobre o período imediatamente anterior. Mesmo assim, os negócios ainda estão longe de sinalizar uma retomada. Há mais inverno à frente.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.