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Sabesp

Na evolução do saneamento, a Sabesp é a ‘joia da coroa’, diz Kinea

Com privatização e mudanças regulatórias, gestora prevê que companhia pode deixar de ser negociada a 0,9 vez EV/RAB para chegar ao limite de 1,5 vez

Sabesp: base de ativos regulatória da empresa é quase um recorde nacional (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)
Sabesp: base de ativos regulatória da empresa é quase um recorde nacional (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)
Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 19 de março de 2024 às 11:20.

O que o saneamento básico brasileiro e a obra “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, têm a ver? Para a Kinea, tudo.

“Assim como na obra de Hugo, a luta pelo acesso universal ao saneamento no Brasil é uma questão de justiça social, exigindo ação coletiva e políticas públicas efetivas para garantir dignidade e igualdade para todos”, diz a casa em sua carta mais recente, divulgada nesta terça. 

No caminho para universalizar o acesso à água e esgoto tratados no país, a Sabesp tem uma oportunidade de ouro nas mãos. É a ‘joia da coroa’ do saneamento brasileiro, segundo os analistas.

A Kinea volta a um ponto amplamente difundido por gestores de mercado desde que o processo de privatização começou: como a companhia pode se valorizar ao eliminar ineficiências e junto a uma regulação mais eficiente. 

Hoje, a Sabesp é negociada a 0,9 vez a sua base de ativos regulatórios. Ou seja,o mercado avalia cada real investido em ativos a 90 centavos. Nas contas da Kinea, com o processo de privatização, esse indicador pode chegar de 1,3 a 1,5 vez.

O incremento é o resultado de pelo menos três fatores que podem colocar a companhia em um ciclo virtuoso. O primeiro é a necessidade de investimentos. O processo de desestatização impõe que a Sabesp atinja a universalização dos serviços até 2029, quatro anos antes do proposto pelo Marco do Saneamento. 

Só isso vai demandar quase R$ 70 bilhões aplicados na expansão de rede de água, esgoto e em estações de tratamento. Para que o investimento faça sentido, é preciso gerar valor a partir desses investimentos.

Isso deve acontecer tanto por contas dos ganhos de eficiência da Sabesp quanto da nova regulação proposta pelo governo do Estado em conjunto com a privatização. 

Hoje, a Sabesp opera com o dobro de custos gerenciáveis por ligação de água e esgoto que a Aegea, a maior empresa privada de saneamento do país.  A Kinea acredita que, em poucos anos, a Sabesp pode conseguir até superar a eficiência, em função de medidas de eficiência e da própria escala operacional. 

Para ter uma ideia, se somar a base de ativos da Sabesp será maior do que as de Sanepar, Copasa, as empresas de saneamento do Paraná e de Minas, respectivamente, e mesmo das distribuidoras de energia dos estados, Copel e Cemig, todas somadas.

“Acreditamos que, em poucos anos, a Sabesp conseguirá atingir patamares até superiores de eficiência, em função de sua escala operacional e densidade populacional de suas concessões”, afirmam os analistas. 

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“Essa possibilidade de aumento de rentabilidade deverá vir com uma regulação muito mais exigente com relação ao cumprimento das obrigações contratuais, como calendário de obras e indicadores de cobertura de água e esgoto, que deverão beneficiar os consumidores”

Uma das principais queixas de investidores a respeito do setor tem a ver com o fato de que a Sabesp não conseguia incorporar os ganhos de eficiência à sua estrutura. Se a companhia se tornava mais eficiente, a tarifa acompanhava esse ponto no ciclo tarifário seguinte — ao contrário do setor elétrico, em que as distribuidoras dividem os ganhos de eficiência entre consumidores e empresas.  

A consequência prática foi a companhia ter apresentado níveis de retorno sobre o capital investido “muito baixos”, seguindo a Kinea, em torno de 7%. 

Isso vai mudar com a nova norma. “A nova regulação, além de revisar anualmente a base de ativos, permitirá à Sabesp absorver integralmente os ganhos de eficiência até 2030. Após esse período, a companhia compartilhará 25% dos ganhos com os consumidores a cada ciclo tarifário de 4 anos, visando promover uma tarifa mais acessível”, explica a gestora.

É um efeito que se soma à principal inovação regulatória para o setor, o Marco Legal do Saneamento, promulgado em 2020. O foco do documento é criar condições para que a universalização dos serviços de saneamento básico possa ser atingida até 2033. Para isso impõe metas de cobertura, qualidade do serviço, além de retirar barreiras e criar mecanismos de segurança jurídica para o investimento privado no setor. 

"No caso específico das empresas de saneamento listadas na bolsa, que operam sob o modelo de base de ativos regulatória, os impactos práticos do Novo Marco foram os de incentivar a regionalização dos contratos, a padronização de parâmetros regulatórios e, principalmente, viabilizar a privatização das empresas Até então, caso as empresas fossem privatizadas, os contratos com os municípios seriam extintos automaticamente", explica a Kinea.

Nas contas da Associação dos Operadores Privados de Saneamento, serão necessários mais de R$ 890 bilhões em investimentos para atingir esse objetivo até 2033. 

Alguns pequenos passos já foram dados em direção a cumprir esse objetivo, do lado do investimento privado: as concessões de água e esgoto no Rio de Janeiro e em Alagoas. Hoje, além do processo de desestatização da Sabesp, há pelo menos outros cinco em estruturação pelo BNDES, nos estados de Sergipe, Rondônia, Paraíba, Pernambuco e Pará. 

“Enquanto seguimos esse caminho da reforma e da renovação, mantemos viva a esperança de que o Brasil possa virar a página de sua própria versão de ‘Os Miseráveis’, rumo a um futuro mais limpo, saudável e justo para todos os seus cidadãos”, diz a Kinea.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

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