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Mistério da virada: fundos sacam R$ 31 bilhões em ações em 50 dias

Fundos de ações tiveram resgate de R$ 1 bilhão em novembro, mas falta explicação clara para volume tão expressivo

Direção contrária: enquanto fundos locais e pessoa física realizam lucro, estrangeiros compram R$ 48 bi em ações (Germano Lüders/Exame)
Direção contrária: enquanto fundos locais e pessoa física realizam lucro, estrangeiros compram R$ 48 bi em ações (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 11:32.

Última atualização em 23 de dezembro de 2020 às 15:50.

O ano termina com um mistério no ar. Os investidores institucionais domésticos tiraram da bolsa quase 31 bilhões de reais na soma de novembro e dos primeiros 18 dias de dezembro. Mas não está nada claro para onde estão indo esses recursos. Há pequenas explicações, mas nada unificado e consistente que possa ser chamado de motivo ou razão.

Em novembro, sacaram do mercado secundário de ações 19,3 bilhões de reais e agora em dezembro, até sexta-feira passada, mais 11,3 bilhões de reais. A conversa com gestores mostra que há um pouco de vários pequenos movimentos: venda de secundário para compra de ofertas públicas, diversificação geográfica e formação de um pouco de caixa para o começo de 2021. Mas todos se impressionam quando olham o número cheio.

Se os gestores de ações estiverem mesmo otimistas com o próximo ano, como dizem estar — boas perspectivas para as empresas, mas muita preocupação com o cenário fiscal nacional —, essa venda de papéis parece incoerente.

Em novembro, os fundos de ações tiveram o primeiro mês de resgate líquido, interrompendo uma sequência de 27 meses de captação de recursos nessa classe: o saldo líquido foi uma retirada de 1 bilhão de reais. Em outubro, o saldo ficou positivo em apenas 20 milhões de reais, de acordo com dados da Anbima. Mesmo assim, a saída continua muito superior às aparentes explicações.

Os números deste mês mostram que a tendência de resgate continua, embora o ano certamente fechará positivo nesse segmento da indústria. Até o fim do mês passado, o saldo líquido acumulado no ano estava em quase 67 bilhões de reais em aportes nas carteiras.

No varejo, o pequeno investidor tirou novembro para se preparar para as festas de fim de ano e garantir os lucros da pandemia: sacou 9 bilhões de reais líquidos das aplicações diretas na bolsa. E, neste mês, está retirando mais 1 bilhão de reais, até dia 18.

Uma explicaçãozinha aqui, outra ali, mas nada de uma resposta sobre: para onde estão indo os 31 bilhões de reais? O volume está longe de ser pequeno. Os dados da Anbima apontam que a indústria privada de fundos tem um total de 642 bilhões de reais aplicados em ações, de fundos dedicados e de multimercado. Portanto, os saques dos últimos 50 dias equivalem a 5% do total.

K Externo

O estrangeiro, neste 2020, ficou totalmente na contramão. Só não dá para dizer que ele perdeu a festa inteira por causa do câmbio, que manteve parte do valor das empresas ainda baixo em dólares. Enquanto fundos nacionais e o pequeno investidor já estavam guardando seus saldos dos acertos da pandemia, o capital externo era o grande comprador: trouxe até agora 48 bilhões de reais em novembro e dezembro. Tudo isso só no mercado secundário, sem contar o que colocou nas ofertas de ações dos últimos meses, quando acelerou sua participação.

O saldo de capital externo na bolsa, que chegou a acumular retirada de mais de 61 bilhões de reais no acumulado do ano até setembro, tinha diminuído esse total para 17 bilhões de reais em dezembro. Esses totais incluem as ofertas primárias até setembro e ainda não têm esse saldo computado em outubro, novembro e dezembro, o que certamente diminui ainda mais o total de saída.

 

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