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Mesmo sem chope, Ambev faz mágica no volume - mas lucro cai à metade

Ambev faz milagre e segura volume de cerveja na pandemia, mas redução nas embalagens retornáveis e no chope pesam na margem

Original: não é só o consumidor que está com saudades da garrafa, a companhia também (Mark Hillary/Flickr)
Original: não é só o consumidor que está com saudades da garrafa, a companhia também (Mark Hillary/Flickr)

Publicado em 30 de julho de 2020 às 17:24.

Última atualização em 30 de julho de 2020 às 18:01.

A Ambev surpreendeu na pandemia. E, dentro das operações dos 18 países em que atua, o Brasil chamou ainda mais atenção. A companhia conseguiu mudar estratégia, se adaptar, entender o consumidor e segurar o volume — fez mágica com essa linha e superou a expectativa do mercado. O volume consolidado total caiu 9,4% para 33,5 milhões de hectolitros. Mesmo sem o chope gelado, a queda no volume de cerveja no Brasil foi de apenas 1,6% com bares e restaurantes fechados.

Só que a Ambev mostrou que ainda não encontrou o caminho de ter a mesma rentabilidade. Pudera! No auge do estrago da Covid-19, o segundo trimestre da Ambev teve queda de 51,4% no lucro líquido, para 1,3 bilhão de reais. A receita líquida recuou 4,4%, para 11,6 bilhões de reais. O Ebitda, o indicador que o mercado mais ama, caiu 28,6%, para 3,35 bilhões de reais.

O desafio é recuperar volumes (e em bases mais estáveis) e margem em um futuro de “normalidade” que ainda não se sabe como será nem quando chegará. E a própria empresa admite não ter clareza sobre ele.

Ao EXAME IN, o diretor financeiro e de relações com investidores Lucas Lira afirmou que a resposta sobre como será o modelo e a divisão de canais de venda ao fim da pandemia é muito difícil. “Só com bola de cristal.”

A leitura dos investidores imediatamente foi: lucro mais espremido à vista também para 2021. O mercado entende, mas não perdoa. A ação abriu o dia subindo 5%, comemorando os volumes, e no começo da tarde caía 3%, após a teleconferência de resultados, devido às preocupações com margens. Ao fim do pregão, a queda ficou em quase 4%, com o papel a 14,55 reais.

A Ambev foi encontrando seus caminhos ao longo do trimestre. O volume da operação de cerveja no Brasil puxou o seguinte desempenho consolidado: queda de 27% em abril, de 7% em maio e alta de 5% em junho.

Lucas Lira destacou na entrevista que a companhia vai continuar atendendo às necessidades dos consumidores — e focada nesse esforço. Também estará atenta ao que pode aprender com as operações nos demais países em que atua, incluindo diversos com agenda de reabertura mais avançada que a do Brasil. O executivo reforçou que, seja qual for a rota, volume é crucial para diluição do custo fixo.

A mágica da Ambev no trimestre foi justamente conseguir transferir o volume de bares e restaurantes para a casa das pessoas, em proporções inesperadas. Duas estratégias foram cruciais: as lives e shows musicais, com o esforço de marketing, e as entregas residenciais por meio de canais digitais junto com o abastecimento dos pequenos comércios de bairro.

Em 2019, os volumes consumidos dentro de casa foram 45% do total e subiram para 70% na média do segundo trimestre. A Ambev realizou nada menos do que 398 transmissões de abril a junho, com 325 artistas: conseguiu com isso 676 milhões de visualizações. Algo como se cada brasileiro tivesse assistido a pelo menos a três exibições.

O Zé Delivery, o aplicativo que leva sua cerveja gelada em casa, atendeu a 5,5 milhões de pedidos nesses três meses, comparado a 1,5 milhão nos doze meses de 2019. O chope gelado na bandeja do garçom virou o interfone tocando antes da festa começar com os shows.

O que ajuda a explicar a queda na rentabilidade é, em parte, o volume. Lira afirma que, expurgado o peso das variações cambiais em Brasil e Argentina, o efeito é ruim porque o total para diluição do custo fixo é menor. Mas, além disso, as margens com vendas da garrafa retornável e do chope do bar são muito maiores do que as da latinha, modelo preferido para o consumo residencial.

A trajetória de recuperação de margem passa, portanto, por uma redistribuição dos volumes vendidos — além da recuperação do total — entre os canais. Por isso, segundo o executivo, a companhia está empenhada em ajudar bares e restaurantes na reabertura. E inclui ainda um esforço de tentar ampliar as vendas de retornáveis diretamente ao consumidor. “Estamos estudando como melhorar a conveniência dessas embalagens para a casa do cliente. Há muita coisa para fazer ainda. Tudo está em construção e a tecnologia é uma ferramenta importante para ajudar nesses objetivos.”

O mercado espera aumento de preço para o reequilíbrio das contas futuras, naquele duro exercício de não perder vendas e reconquistar alguns percentuais na margem. O que ajudou a animar a abertura do pregão foram os relatórios dos analistas. Marcella Recchia, especialista do Credit Suisse, divulgou comentários com o título “The Unsinkable ship”, algo como “o navio que nunca afunda”. Ela elevou a recomendação para a ação da empresa para compra, com preço alvo de 20 reais.

O analista do BTG Pactual, Thiago Duarte, relatou que a receita da companhia, devido aos volumes de venda, ficou 10% acima de sua expectativa. Com isso, ele acredita de uma recuperação em V para as vendas da empresa. Já o Goldman Sachs projetava uma queda de 36,3% do Ebitda — que ficou em 28,6%. A companhia encerrou o dia avaliada em 230 bilhões de reais na B3. É a quarta maior do mercado brasileiro, atrás apenas de Petrobras, Vale e Itaú.

 

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