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Magalu: por que a empresa vale hoje 20% da máxima em 1 ano

Resultado confirma pressão dura no curto prazo para varejo e ecommerce

Magazine Luiza: estratégia de longo prazo no caminho certo, mas curto prazo pressionado
Magazine Luiza: estratégia de longo prazo no caminho certo, mas curto prazo pressionado
GV

15 de março de 2022 às 12:15

As ações da Magazine Luiza romperam a mínima história de 52 semanas nesta terça-feira, dia 14, depois do balanço do quarto trimestre de 2021 divulgado ontem à noite. O papel chegou a R$ 4,65, um tombo superior a 10% em relação ao fechamento do pregão anterior. Frente à máxima dessas mesmas 52 semanas, que foi de R$ 24,57, o tombo supera os 80%. A companhia, que já foi avaliada em torno de R$ 165 bilhões na B3, vale agora perto de R$ 31,5 bilhões.

O balanço dos três últimos meses do ano passado mostrou uma combinação bombástica para o preço das ações no curto prazo: esforço de crescimento do marketplace gerando despesas ainda salgadas, situação econômica para lá de desafiadora derrubando vendas físicas e estoques elevados tornando as promoções necessárias. Tudo isso correu a rentabilidade do negócio.

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Além de um prejuízo de R$ 79 milhões, que contabilmente só foi salvo por créditos tributários (que deixou a conta no azul em R$ 93 milhões), o Magalu teve queda na receita líquida de quase 7%, para R$ 9,4 bilhões. E isso não deixou nenhum investidor feliz. E o esforço do presidente Frederico Trajano de mostrar que a companhia mais do que triplicou a venda online de 2019 para 2021, de R$ 12,3 bilhões para R$ 39,8 bilhões, não conseguiu fazer eco no humor dos investidores.

Para completar, as mais de 20 aquisições em dois anos geraram despesas extraordinárias, o que fez o Ebitda da empresa ficar negativo em R$ 7,9 milhões, e as despesas financeiras quase triplicaram para R$ 305 milhões com um serviço de dívida mais caro, devido aos juros em alta, e um impacto importante sobre o desconto de recebíveis — quase core business no varejo brasileiro que vive de antecipar receitas das vendas parceladas.

Trajano, durante a teleconferência com analistas, para quem tinha dúvida do quanto inflação e juros pegam no negócio foi cristalino na informação. “A renda do nosso cliente médio da loja física é de R$ 2.500.” O número não deixa dúvida sobre como o aumento no preço do básico, com alimentação e energia, traz impacto sobre a disposição de compras do brasileiro. “As vendas de produtos premium se mostraram mais resilientes. Mas não é isso que gostamos de fazer. Nós gostamos de vender para o brasileiro. Democratizar o consumo”, disse, ao enfatizar sua frustração com o cenário.

Para quem avalia estratégia no mais longo prazo, a questão que se colocou é que o Magalu é cada vez mais Mercado Livre, mas ainda sem ser Mercado Livre. Em fevereiro, por exemplo, as vendas do marketplace superaram pela primeira vez as vendas das lojas físicas na composição mensal total: 27% contra 26,7%. A velocidade da transformação é clara quando se vê que essa comparação na média de 2021 foi de 23,5% para 28,5%.

O que isso quer dizer? Que o marketplace é cada vez mais importante, na comparação com a venda física (onde está  margem maior), mas a empresa ainda está em um momento em que há esforço (investimento) para conquista de novos sellers (os demais varejos que vendem na plataforma do Magalu), sem que as receitas de demais serviços para esses vendedores ainda possam fazer diferença na rentabilidade. Aliás, Magalu não está sozinho. Essa é a situação do setor como um todo no Brasil. No Mercado Livre, por exemplo, o Mercado Pago já responde por quase 40% da receita.

A margem bruta até reagiu um pouco e ficou 0,6 ponto percentual maior. Só que ainda está distante de ser o suficiente para lidar com o tamanho do investimento (registrados como despesas). Frederico Trajano ressaltou estar confiante de que o negócio está no caminho certo e nesse trimestre houve um maior número de detalhes sobre como as demais frentes de produtos, cada vez mais integradas à plataforma, com Kabum, AiQFome e outros, mostram melhoria de performance. A Netshoes, por exemplo, registrou lucro líquido no ano passado.

Mas, por enquanto, nada disso convence para o curto prazo, ainda que investidores e analistas entendam que a rota para o longo prazo é essa mesma. Os números do trimestre chegaram até mesmo a ficar acima da expectativa de alguns analistas. Mas isso fez pouca diferença para quem faz gestão de portfólio. A disposição com a jornada diminuiu muito com os desafios que o cenário global e especialmente doméstico impõe. Nada parece ajudar quando investidores e consumidores só falam sobre o valor da gasolina e agora até a alta no preço do pãozinho virou tema nacional.

O curtíssimo prazo tem um componente extra no caso de Magalu. Depois de elevar os estoques de R$ 5,9 bilhões para R$ 9,1 bilhões, entre o fim de 2020 e o fim de 2021, para lidar com seu próprio projeto de expansão de lojas e com o otimismo que chegou a existir com as previsões pós-pandemia, a companhia não só terminou o ano passado fazendo promoções, também começou 2022.

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