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Laureate: proposta de R$ 4,4 bi da Ânima é toda em dinheiro

Companhia de Daniel Castanho já tem linhas de crédito para operação, mas há planos de captar com ações após o negócio

Sala de aula: com 267 mil alunos, Laureate é cobiçada por quase todas as grandes empresas do setor (Marcos Santos/Divulgação)
Sala de aula: com 267 mil alunos, Laureate é cobiçada por quase todas as grandes empresas do setor (Marcos Santos/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

21 de outubro de 2020 às 15:22

A proposta da Ânima pela operação brasileira da Laureate, que tem bandeiras como FMU e Anhembi-Morumbi, é de 4,4 bilhões de reais em dinheiro. O desembolso efetivo é de 3,8 bilhões de reais e há mais 623 milhões de reais em assunção de dívida, conforme o EXAME IN apurou com fontes a par do processo.

A empresa americana ainda poderá receber 200 milhões de reais extras a depender de novos assentos no curso de Medicina. A Laureate declarou que a nova oferta é cerca de 500 milhões de reais superior à da Ser Educacional e, por isso, mais interessante. Contudo, o acordo entre as companhias ainda não foi assinado, pois o processo foi interrompido pela iniciativa da Ser Educacional de, antes da término dos prazos totais, levar o tema à Justiça.

A Ser tinha até o fim do dia de ontem para ou fazer uma nova oferta à Laureate ou comunicar que tinha tal pretensão e pedir uma extensão do prazo por mais cinco dias. Todos os ritos estavam previstos no contrato assinado entre a companhia de Janguiê Diniz e a Laureate. Mas, no lugar de tentar reabrir a negociação, anunciou a decisão de iniciar uma arbitragem e pedir uma cautelar suspendendo a venda. No pedido de liminar à Justiça, a Ser apresentou dois argumentos centrais: que não teve acesso a todos os dados da oferta rival e, portanto, teria existido falha processual e que seu entendimento sobre a melhor proposta divergia da Laureate, a vendedora.

O clima para negócios, portanto, azedou. Ao conceder a liminar, a Justiça não fez análise sobre a melhor condição e sobre mérito do pedido. Apenas congelou a operação, e ofereceu tempo para a Laureate mostrar seus argumentos.

A Ânima está pronta para assinar, segundo fontes próximas à transação. O pagamento vai ser feito com recursos em caixa e mais crédito obtido junto a instituições financeiras. As cartas de compromisso com os recursos já foram apresentadas com a oferta vinculante à empresa americana.

De acordo com pessoas envolvidas nas conversas, a Yduqs também estava tentando concorrer e sua oferta ficou muito próxima da apresentada pela Ânima. Contudo, a expectativa de que a aprovação no Conselho Administrativa de Defesa Econômica (Cade) seja mais simples com a empresa tocada por Daniel Castanho pesou na decisão da Laureate.

Capitalização

Em um primeiro momento, a transação vai puxar o endividamento da Ânima. A relação entre a dívida e o Ebitda das duas companhias combinadas deve ficar pouco acima de 5,5 vezes, segundo cálculo de analistas de mercado. Entretanto, conforme o EXAME IN apurou, já está nos planos da Ânima usar o bom momento do mercado para se capitalizar — seja por meio de uma emissão privada ou pública de ações. A Ânima já é uma empresa de capital pulverizado na bolsa. O maior acionista é Daniel Castanho, com pouco menos de 12%. Na base de investidores estão ainda os fundos Dynamo e Atmos, cada qual com participações próximas de 6%.

A empresa tem hoje pouco mais de 119 mil alunos e vai subir para perto de 390 mil. Com isso, dará um salto no ranking de maiores passando da nona para a quarta posição no país. A receita líquida das duas empresas reunida deve superar 3,5 bilhões de reais na base anual e o ebitda, 700 milhões de reais. Os cálculos tomaram como base o balanço de 12 meses da Laureate até março e dos seis primeiros meses da Ânima, anualizado.

A expectativa dos envolvidos na agora disputa, pelo lado de Laureate e Ânima, é que a questão não demore a se resolver e que a discussão arbitral acabe se transformando em algo sobre quem paga quanto para quem. Antes do movimento de Janguiê Diniz, a Ânima declarou que pagaria a multa de 180 milhões à Ser, conforme estabelecido em contrato, caso ela saísse perdedora do processo competitivo.

Oferta da Ser

A Ser Educacional propôs à Laureate pagar 1,7 bilhão de reais em dinheiro e combinar as empresas de forma que a companhia americana se tornasse detentora de 44% da companhia combinada — além da assunção da dívida. Na data do anúncio, esse pacote equivalia a 3,9 bilhões de reais tomando como base apenas a cotação das ações da Ser. No entendimento de pessoas ligadas às conversas com a Laureate, o grupo americano, contudo, receberia o equivalente a 5 bilhões de reais, pois ficaria com o caixa mais uma participação na empresa unificada. Juntas, as companhias se transformariam na terceira maior univesidade do país listada na bolsa.

Embora a Laureate tivesse topado uma operação com ações, não é segredo que o interesse do grupo americano é se desfazer do negócio. Essa tem sido a estratégia não apenas no Brasil, mas também em outros países em que atua.

 

 

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