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Infraestrutura

IG4: o salto da gestora brasileira para US$ 3 bilhões com novos fundos

Fundada por Paulo Mattos, a casa do ESG em ação está à frente de negócios com receita anual de US$ 1,8 bilhão e vai alçar novos voos

Captações: até o fim de 2023, gestora planeja levantar US$ 1,8 bilhão em três novos fundos (Mohammed Azakir/Reuters)
Captações: até o fim de 2023, gestora planeja levantar US$ 1,8 bilhão em três novos fundos (Mohammed Azakir/Reuters)

Publicado em 25 de abril de 2022 às 10:33.

Última atualização em 26 de abril de 2022 às 10:36.

A IG4, gestora de private equity fundada pelo ex-GP Investimentos e ex-BNDES Paulo Mattos, caminha para ser uma casa de US$ 3 bilhões em ativos sob gestão. Há grandes planos em andamento. Não é ideia, nem meta, apenas. Criada no Brasil e com atuação internacional, a IG4 já está com tudo em andamento para alcançar essa cifra ao fim de 2023: formação de lideranças, novos produtos, captações e, claro, alvos. O volume significa bem mais do que dobrar de tamanho em relação aos US$ 1,2 bilhão que têm hoje sob seus cuidados — e já investidos.

As oportunidades são os frutos de seis anos de trabalho. A gestora começou a ser estruturada em 2016, mas o primeiro investimento ocorreu no ano seguinte, com a CAB Ambiental, que deu origem ao que hoje é a Iguá Saneamento, uma das vencedoras do leilão da Cedae.

Hoje, com dois fundos alocados, a IG4 está à frente de cinco companhias: além da Iguá, estão no portfólio a maior empresa de infraestrutura do Peru, com concessões de rodovias, metrô e uma construtora, a Aenza (antiga Graña Y Montero); a administradora de hospitais Opy Health; o terminal de grãos do Maranhão, o Tegram ou CLI, e ainda a maior empresa de logística para supermercados do Chile, a Adelco.

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No total, os ativos IG4 têm uma receita anual da ordem de US$ 1,8 bilhão, reúnem mais de 20 mil colaboradores e atendem a 15 milhões de clientes, considerando os milhões de consumidores na rede da Iguá, além dos milhões que utilizam o metrô de Lima diariamente ou trafegam pelas concessões rodoviárias do Peru, por exemplo. Esse número não considera a população que será atendida com a vitória no Bloco 2 da Cedae.

Apesar de o salto que está em construção ser significativo, Mattos enfatiza, em entrevista exclusiva ao EXAME IN, que o foco da casa não é volume de capital sob gestão, a tal sigla AUM (assets under managements), mas performance. “Nosso modelo não é de geração de receita com management fee”, diz Mattos, explicando que os principais ganhos da casa são de participação no resultado gerado para seus investidores. “É cultural. Todo nosso time é incentivado dessa forma na remuneração, não apenas os sócios.”

As novidades

Nesse momento está em andamento a captação do Fundo III de private equity da casa, com objetivo de levantar US$ 500 milhões. A busca por recursos começou no segundo semestre do ano passado e já tem até alvo em negociação — a Metalfrio Solutions. Sobre isso, porém, Mattos não fala nem a fórceps. "Não há nada para falar", afirma.

O terceiro portfólio terá a mesma estratégia que os dois primeiros. O foco são sempre companhias que precisem passar por uma transformação, normalmente que exigem uma reestruturação financeira e operacional ao mesmo tempo. Na prática, isso significa preços mais atrativos. A IG4 é quem monta tanto a reorganização da dívida como da estratégia. Para isso, trabalha apenas com oportunidades nas quais possa ser controladora ou co-controladora.

Tão logo fechar a primeira rodada do Fundo III, vai para a rua um novo produto da casa: um fundo de soluções de crédito para companhias de médio porte. A nova estratégia já tem líder, Hélio Novaes, ex-Alvarez & Marsal, e tamanho definido. A carteira deve ter US$ 300 milhões sob gestão.

Quem está pensando em NPL (os tais empréstimos não performados) e precatórios está enganado. O objetivo aqui são empresas com bons controladores, bons ativos, mas que estão em situação de default ou de quebra de covenants e que não conseguem mais crédito bancário tradicional. As próprias instituições financeiras, muitas vezes, chamam a IG4 para tentar uma solução.

“A gente se especializou em reestruturação de dívida com a operação no private equity e sabemos fazer isso muito bem”, comenta Mattos. Não é por acaso. Só no portfólio atual da casa já foram reestruturados mais de US$ 800 milhões em dívidas. “Tem muita empresa boa que precisa de uma solução mais estruturada para as dívidas e não de uma troca de controle”, continua ele. As oportunidades nesse mercado devem crescer com a tendência global de alta na taxa de juros e pressão inflacionária na cadeia de suprimentos. As diligências para os ativos potenciais já estão até sendo feitas com capital proprietário da casa. "Tem oportunidade na originação e percebemos que tem demanda entre investidores."

A terceira novidade em produção pela casa é um fundo de infraestrutura de transformação. Devido às oportunidades que a IG4 encontrou no caminho, muita gente acha que o private equity já é de infraestrutura. Engano. Os fundos de participações até agora não são setorizados.

A meta é obter US$ 1 bilhão para a nova carteira e o líder para essa operação já está decidido — só que ainda não pode ser anunciado. “Infraestrutura exige mais capital”, reforça o fundador da gestora. Mais uma vez, pela tradição Paulo Mattos, aqui não está em questão aquilo que o público considera infraestrutura e uma operação convencional no ramo: leilões de concessões para rodovias, aeroportos e toda sorte de operações desse tipo. “São setores muito maduros. Não é disso que estamos falando”, diz Mattos. O que a IG4 quer e procura, seguindo o interesse de seus clientes, são ativos de infraestrutura de transformação: saneamento para além do Brasil, energias renováveis (com destaque para a solar) e digitalização para além das empresas de telecomunicações — a nuvem e suas revoluções.

As captações de ambas as novidades começam nesse ano e devem se concluir até o fim de 2023. Se concretizadas tal qual planejadas, trarão US$ 1,8 bilhão para a gestão da IG4.

Sonho grande

A IG4 foi fundada no Brasil. A operação, porém, não tem nada de parecido com as casas de private equity que existem no país. A carteira é latino-americana e a captação, com grandes investidores institucionais, é feita a partir do escritório de Londres, onde é controlada oficialmente a distribuição dos fundos.

O sonho grande de Paulo Mattos? Ser uma gestora de mercados emergentes feita com gente de mercados emergentes. Parece óbvio, mas não é. Atualmente os maiores investidores desse tipo são gestores de países desenvolvidos. Para a IG4, isso precisa ultrapassar as fronteiras da América Latina e partir para outros mercados. O plano não é para agora, mas já tem líder: Loy Pires, ex-IFC. É ele quem está á frente dos planos — ainda mais — globais da IG4. “Podemos pensar, no futuro, em ir além de Latam. Mas, para isso precisamos antes ter essa capacidade que temos hoje na região de forma expandida.”

A indústria de private equity começou a ser construída de verdade no Brasil na década de 90 e ganhou tração a partir dos anos 2.000. Ainda em 2018, logo após investir o Fundo I (a Iguá Saneamento), Mattos decidiu que a atuação precisaria ser latino-americana, como forma de diferenciação do negócio. Esse era um caminho para oferecer diversificação de risco na hora de captar recursos.

Hoje, a gestora tem escritórios, além do Brasil (onde começou) e de Londres (de onde faz as captações), em Madri, Santiago e Lima. As equipes são sempre locais, o que Mattos chama de “boots on the ground”. Para agosto, são aguardados dois novos escritórios: um na Colômbia, que será formado com equipe colombiana, para busca de oportunidades, e outro nos Estados Unidos, para captação. A IG4 aguarda seu registro, já solicitado, na SEC, a comissão de valores mobiliários americana, e poderá então fazer a distribuição de produtos a partir da terra do Tio Sam.

Os dois novos endereços fortalecem e expandem a estrutura atual: captação global e alocação latino-americana. Tanto no private equity, quando nos novos produtos, aos poucos a IG4 começa a captar recursos também no Brasil, com grandes instituições financeiras e family offices. Discretamente, mas em menor escala, isso acontece também no Chile e no Peru. “Nesses países somos mais passivos, mas à medida que operamos os ativos lá, começamos a ser procurados.”

O foco em ativos oportunísticos da casa foi uma forma de se destacar no ramo e trilhar um caminho para retornos maiores em uma região extremamente difícil de atuar pela histórica volatilidade. Além, é claro de aproveitar o conhecimento de Mattos e os demais sócios-fundadores.

“Essa estratégia tem uma adequação para mercados com muita volatilidade e assimetria. Quando a gente olha para o resultado dos fundos de growth [crescimento] na região, por maior que seja a excelência dos gestores, o retorno muitas vezes sofre com esses ciclos de volatilidade mais curtos, com câmbio e inflação”, descreve Mattos. Partir de ativos com desconto maior, oferece um colchão maior, uma proteção, contra esses downsides locais.

Mattos guarda algum otimismo para as captações para a América Latina, apesar de a região sofrer dessa instabilidade que, em sua opinião, tem causas políticas. “As democracias estão estabelecidas, mas os países ainda sofrem porque possuem políticas de governo e não de país”. Mesmo assim, ele acredita que, aos poucos, inclusive por experiências recentes na “gigante, mas opaca” China e também pela própria Guerra na Ucrânia, os gestores de capital vão perceber que é uma região com uma estrutura jurídica bastante ocidentalizada e que não oferece riscos de disrupções globais, como guerras ou grandes movimentações geopolíticas.

Essa percepção pode fazer com que a região saia da condição de “restante do mundo” na alocação de recursos, especialmente, para emergentes, a despeito da volatilidade.

ESG em ação e spoiler dos ativos

Além do foco em ativos oportunísticos, a IG4 nasceu com uma estratégia de ser um agente fomentador da mudança ao inserir fatores e métricas de sustentabilidade, impacto social e governança (ESG) na gestão dos ativos controlados. Mattos defende o que chama de ‘ESG in action’.

A IG4 se estabeleceu, desde o início, como ‘B-Corp’. A certificação significa que as empresas que a carregam adotaram uma definição diferente de sucesso: além de retorno aos acionistas, os negócios devem trazer benefícios para a sociedade e para o meio ambiente.

“O que vai transformar o planeta é encontrar formas mais eficiente e produtivas e que reduzem o impacto das mudanças climáticas. E engenharia de materiais é a grande fronteira de discussão no mundo quando esse é o assunto”, destaca ele, que implementou na Iguá Saneamento um modelo que trocou os grandes tubos de concreto por estruturas modulares de aço e carbono e que permitiu que, em poucos anos, a taxa de cobertura de tratamento de esgoto em Cuiabá saísse de 30% para 80%.

“Ou promovemos uma mudança estrutural no capitalismo ou continuaremos aquecendo o planeta. E já está claro que o custo de remediar vai ser muito mais alto que o de mudar. Mas para isso precisa de tecnologia, inovação e processos”, afirma ele.

O interesse de Mattos pelo assunto não nasceu ontem. Formado em Direito no Largo São Francisco, pela Universidade de São Paulo, ele defendeu seu doutorado na USP, com uma bolsa sandwich da Fulbright em Yale  — precocemente aos 28 anos — já pensando em como revolucionar os incentivos para mudar o capitalismo por dentro, sem deixar tudo para o Estado regulador. Quando esteve no BNDES, Mattos esteve à frente da estruturação do Fundo Amazônia. Trocando em miúdos, sabe do que está falando.

A receita para as companhias adquiridas é que o ESG faça parte da transformação. E, com isso em mente, há um modelo e um caminho para cada qual. Ele contou, por exemplo, que para o terminal de grãos no Maranhão está em estudo a adoção de uma certificação de origem dos grãos que passam por lá. A ideia é fechar parcerias com outros terminais portuários que sejam receptores do que sai do Tegram, para a mesma exigência.

Os planos para a CLI não são pequenos. Assim como a Iguá surgiu da CAB e expandiu com novas áreas, inclusive com vitória no maior dos leilões do setor até o momento — e tem até uma conversa sobre uma potencial combinação com a BRK Ambiental, da Brookfield, em mais um assunto que Mattos não comenta — o projeto para o Tegram passa por aquisições.

“A CLI está se posicionando para se transformar numa empresa de infraestrutura logística para o agronegócio. A ideia é expandir com novos ativos na costa brasileira e outras regiões e se posicionar perante clientes como uma solução white label”, antecipa Mattos na entrevista.

A estratégia da certificação de origem, para criar rastreabilidade, é uma forma que a IG4 vê de criar um diferencial de valor para a companhia a partir do ESG, com estratégias de autorregulação no setor que faça as tradings cuidarem da origem do que distribuem.

“Não adianta crítica dos países desenvolvidos falando que o Brasil não tem controle do desmatamento — e, claro que a gente tem que ter esse controle — mas quem está comendo a Amazônia é o mundo todo. É preciso exigir de forma sistemática na cadeia o controle de origem.”

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