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Grendene: receita recorde de R$ 671 mi no 3tri, apesar de volume menor

Empresa já fez dois reajustes de preço e deve fazer mais um em janeiro, para recompor margens

Melissa: maior participação no mix ajuda receita a crescer no terceiro trimestre, apesar de queda no total de pares (Grendene/Divulgação)
Melissa: maior participação no mix ajuda receita a crescer no terceiro trimestre, apesar de queda no total de pares (Grendene/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

28 de outubro de 2021 às 18:26

A Grendene, dona das marcas Melissa, Ipanema, Rider e Azaleia, entre outras, trouxe um balanço de terceiro trimestre que é, ao mesmo tempo, afetado pela pandemia e também pelos paradigmas da indústria para 2022.

A companhia teve uma receita líquida recorde, de R$ 671,4 milhões, com alta de 6,4%, na comparação anual do intervalo de julho a setembro. No acumulado de nove meses do ano, a receita totalizou R$ 1,55 bilhão, com expansão de 46,5%. Contudo, a margem bruta teve ligeiro recuo mesmo com esse salto no valor vendido. O motivo: a tal da inflação e os desafios da cadeia de suprimentos.

A margem bruta não despencou, mas não acompanhou a força do faturamento. O recuo no acumulado do ano é de quase 1 ponto percentual, de 43,3% para 42,5%. “Nós implementados dois reajustes: um em outubro de 2020 e outro em fevereiro deste ano”, explica Alceu Albuquerque, diretor de relações com investidores da empresa, em entrevista ao EXAME IN. “Mas também já comunicamos toda nossa cadeia de distribuição de que haverá um novo reajuste em janeiro”, contou ele.

A correção tem como objetivo a recomposição de margens, dado o aumento do custo enfrentado pela companhia. “Criamos uma espécie de índice Grendene de inflação para mostrar com toda transparência. Ao contrário do que ocorria antes, uma reclamação generalizada, encontramos muita compreensão”, conta ele, mesmo sem querer revelar quais foram os ajustes.

O executivo destaca, contudo, que para recompor a margem não será necessário repassar todo o aumento de custos. Isso porque durante a pandemia a empresa fez um grande esforço de ganho de eficiência e, com isso, parte da recomposição vem dessa melhoria interna da produtividade.

Questionado se a correção o coloca de volta às margens pré-pandemia, Albuquerque explica que não se trata de uma resposta exata, pois pode ser muito impactada pelo mix de vendas. Por exemplo, no terceiro trimestre, o mix de vendas, com aumento maior do interesse pelas Melissas e algumas linhas da Rider, ajudou a ampliar a receita. Se isso se mantiver, a margem pode até crescer. Mas, se houver concentração das vendas nos produtos de classes C, D e E, é possível que a margem consolidada tenha ainda um ligeiro recuo.

Albuquerque contou que, além do dissídio salarial e da energia, a matéria-prima principal (resina de PVC), alcançou o pico histórico em maio, depois registrou algum recuo. Mas, a partir de agosto e setembro voltou a subir, retomou o pico e deve até mesmo ultrapassar esse ponto. “Para ter uma ideia do que a indústria enfrenta, vou te contar que, no frete, o meu custo de trazer um contêiner da China era de US$ 2 mil antes da pandemia e agora está em US$ 14 mil”, relata ele.

A pergunta de um milhão de dólares — definitivamente essa expressão precisa ter os valores atualizados, também — que está na cabeça dos investidores é se essa pressão de custo é momentânea ou duradoura. Na Grendene, a aposta é que a tal da normalidade, ou seja, “um maior equilíbrio entre oferta e demanda” de matérias-primas vai acontecer, mas só em 2022. Até lá, o próximo ano será de pressão nas contas, com margens sendo acompanhadas com lupa.

No ano, o Ebitda recorrente da companhia nos primeiros nove meses do ano avançou 46,5%, para R$ 307,3 milhões. No corte trimestral, houve queda de 5,1%, para R$ 148,1 milhões, em decorrência da concentração de volumes no segundo semestre de 2020.

O lucro líquido da empresa, contudo, traz como peculiaridade o fato de a companhia ter uma posição de caixa líquido muito significativa. Ou seja, tem muito mais dinheiro aplicado do que dívida a pagar. Fruto desse cenário, as contas financeiras da empresa, diferença entre valorização das aplicações e juros pagos mais dívidas ampliadas, tiveram um ganho de R$ 221,6 milhões e um aumento como de nenhuma outra linha, de 127,2%.

Então, o lucro líquido recorrente aumentou 104%, para R$ 307,6 milhões, no acumulado de janeiro a setembro. Apenas no terceiro trimestre, a última linha traz resultado de R$ 136,4 milhões, com alta de 15,8%.

Mix e correções

Na Grendene, chama atenção que a receita líquida tenha mostrado crescimento, apesar de o volume ter registrado queda no trimestre. No acumulado do ano, as vendas tiveram expansão também em quantidade. Albuquerque lembra que, em 2020, com a pandemia, as encomendas ficaram concentradas no segundo semestre, o que tornou o período uma base comparativa muito forte.

No total do ano, até setembro, os volumes vendidos têm crescimento de 23,5%, mas no trimestre há queda de 17,1%. O isolamento social devido à covid-19 enfraqueceu, de forma geral, o ano de 2020, mas o intervalo de julho a dezembro da empresa valeu quase pelo ano todo, o que distorce a comparação.

Apesar da redução do volume, a receita líquida trimestral aumentou. E no período de nove meses, o faturamento aumentou mais do que o volume. Em ambos os casos, a explicação combina um mix geral de vendas melhores, com maior participação da Melissa e de algumas linhas da Rider, somado à correção nos preços.

Albuquerque explicou que o cenário macroeconômico preocupa, é claro, pois a questão da renda afeta diretamente os produtos de classe B, C e D da companhia. Contudo, ele destaca que o ajuste de preço não foi apenas da Grendene e que, em termos comparativos, portanto, os produtos continuam competitivos. "O problema do custo não é uma exclusividade nossa. Está ocorrendo em toda a indústria, em diversos setores. É, na verdade, uma questão global, para além do próprio Brasil."

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