GetNinjas reduz prejuízo em 43% com novo corte em despesas de marketing
Com receita estável na comparação anual, companhia teve mais um trimestre de contenção de queima de caixa
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 8 de maio de 2023 às 21:14.
Última atualização em 9 de maio de 2023 às 11:08.
A GetNinjas vai enfrentar 2023 com a mesma cautela com que passou por 2022. Em um Brasil de juros altos (e uma retomada tímida em demanda) a companhia segue mais focada em rentabilidade do que em crescimento, 'preservando munição' diante do custo de capital mais caro. É uma trajetória que vem desde o primeiro trimestre do ano passado, quando a companhia cortou 80% das despesas em marketing em meio a um ambiente de crescimento de receita tímido — e conseguiu reduzir em 80% a queima de caixa na comparação anual. Neste início de 2023, uma fórmula similar: a companhia reduziu em 25% os gastos com marketing. Tal qual no ano passado, o esforço produziu resultados. A GetNinjas diminuiu em 6% a queima de caixa, para R$ 2,2 milhões, e o prejuízo em 43%, para R$ 2 milhões.
Os cortes não são indiscriminados. A estratégia da companhia é, neste momento de custos reduzidos, aumentar a recorrência de usuários na plataforma a partir de melhorias conduzidas dentro do próprio aplicativo (lançado em 2021), um ponto que trouxe aumento na receita gerada por cada solicitação neste primeiro trimestre, bem como aumentou a recorrência de usuários. A porcentagem de clientes que já fizeram solicitações anteriormente passou de 54%, há um ano, para 57%, nos três meses encerrados em março.
O plano é parte da visão do fundador e CEO da Getninjas, Eduardo L'Hotellier, que compara a trajetória da companhia a uma maratona. "O objetivo continua no longo prazo. Decidimos vir um pouco mais para a defesa, mas ainda somos uma empresa que investe bastante em marketing", afirma, ao EXAME IN. No trimestre, a empresa investiu R$ 6,9 milhões nessa área.
Daqui para frente, o ritmo de corte de despesas deve seguir o mesmo, de olho em uma visão do CEO para um ano ainda adverso para o modelo de negócio da companhia, com demanda fraca da classe média. "Será um ano de eficiência", diz. O reflexo apareceu já neste primeiro trimestre. Com despesas menores, a GetNinjas saiu de um Ebitda negativo de R$ 10,7 milhões no início de 2022 para um, menos negativo, de R$ 6,9 milhões. O lucro bruto ficou igual ao do ano passado, em R$ 14,6 milhões, com margem bruta também estável, em 91,6%.
Mesmo em um ambiente de demanda fraca, um (fraco) vento a favor da companhia começou a aparecer em vendas. Apesar de a empresa ter uma receita estável na comparação anual, em R$ 15,9 milhões, a cifra representa um aumento de 18% em relação ao quarto trimestre de 2022 -- período de investimentos em marketing similar. O aumento, na comparação entre trimestres seguidos, já considera pontos sazonais do negócio, como a maior procura por serviços para casa (a categoria da maior parte da solicitações dentro da plataforma) no início do ano.
Como os cortes em custos começaram a ser realizados no primeiro trimestre de 2022, o CEO acredita que a comparação entre períodos deve se tornar mais equilibrada a partir de agora -- facilitando o diálogo do mercado a respeito das perspectivas de crescimento da empresa.
O aumento de vendas deve ser reforçado, ao longo do ano, por duas novas parcerias anunciadas no fim de março, com a Housi e Hth (fabricante de produtos para piscina). As empresas se somam aos demais contratos firmados pela companhia com terceiros, em setores que incluem material de construção, seguradora e bancos. "Temos algumas conversas em andamento, mas nosso foco de negócio continua na empresa de forma independente. Preferimos controlar, nós mesmos, a experiência de usuário", diz o CEO.
Em menor possibilidade de controle por parte da empresa, por outro lado, esteve a redução da receita financeira neste início de ano. O indicador ficou 24% menor, para R$ 5,5 milhões, como resultado do impacto do evento Americanas sobre a rentabilidade de fundos em que a companhia mantinha suas aplicações.
É um efeito pequeno, diante do tamanho do caixa da companhia: no último ano, a GetNinjas deixou claro que tem dinheiro para operar pelos próximos 25. A cada 12 meses, a companhia tem R$ 30 milhões em receita financeira -- o que cobre parte relevante de suas despesas anuais.
Mesmo diante de melhorias graduais no negócio, o executivo ainda não divulga quando a companhia deve voltar à trajetória de rentabilidade. A cada trimestre, entretanto, o que se vê é uma companhia que se aproxima cada vez mais desse objetivo. Depois de abrir capital em 2021, crescendo 50% -- e de entender, em seguida, o momento de 'andar de lado' em 2022 -- a GetNinjas segue focada em mostrar que o negócio que começou como uma plataforma digital de "Faz tudo", há 12 anos, pode mesmo sobreviver a todo tipo de ciclo econômico.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.