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Estrela no palco: ESG invade agenda de órgãos internacionais em junho

Há consciência nas classes política, empresarial e financeira de que transição rápida para baixo carbono depende de instrumentos financeiros

Alterações climáticas representam enorme risco sistêmico, oportunidade de financiar projetos e ganhar dinheiro (Chris Conway/Getty Images)
Alterações climáticas representam enorme risco sistêmico, oportunidade de financiar projetos e ganhar dinheiro (Chris Conway/Getty Images)
AB

Angela Bittencourt

8 de junho de 2021 às 15:59

Princípios ESG estão no foco dos mercados e, neste início de junho, mobilizaram para valer especialistas em duas das mais prestigiadas arenas internacionais de debates: o Banco de Compensações Internacional (BIS) e o Fórum Econômico Mundial (WEF). Na pauta, o engajamento de bancos centrais, governos e instituições financeiras aos princípios ambientais, sociais e de governança. A gestão de ativos ganha visibilidade em um cenário de riscos escancarados pela pandemia e convicção de especialistas que práticas ESG estão longe de um modismo.

No ano passado, 30 administradores de ativos internacionais com US$ 9 trilhões sob gestão, entre eles Morgan Stanley e J.P. Morgan, comprometeram-se com esses critérios. Especialistas reconhecem que alterações climáticas representam um enorme risco sistêmico a ser gerenciado pelos bancos centrais e reguladores, mas também uma oportunidade de financiar investimentos e ganhar dinheiro. Governos da China, Rússia e União Europeia avançam na empreitada de lançamentos de títulos verdes para financiamento de projetos de energia renovável, limpa, e eficiência energética.

Em entrevista ao EXAME IN, Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez, subsidiária integral brasileira da BGC Partners — uma das cinco maiores corretoras de valores do mundo, presente em 23 países e voltada exclusivamente para investidores institucionais — vê os produtos financeiros orientados pelos princípios ESG crescendo globalmente nos próximos anos sob o incentivo da transição do uso de carbono para energias limpas. “Existe uma conscientização das classes política, empresarial e financeira de que uma transição rápida para esse novo modelo de baixo carbono será viabilizada por instrumentos financeiros atrelados aos investimentos que envolvem projetos, pessoas, tecnologia. Os recursos derivados das emissões de títulos verdes são destinados a uso específico desses investimentos. E isso vale para bancos centrais, governos, instituições financeiras e empresas”, diz.

Emissões em expansão

No mundo, as emissões de títulos verdes vêm crescendo rapidamente, lembra o CEO da BGC. Para 2021, o sueco Skandinaviska Enskilda Banken (SEB) estima que governos e empresas lancem US$ 500 bilhões. Da Comissão Europeia virá um reforço com captação de 30% de seu fundo Next Generation EU — equivalente a US$ 908 bilhões — por meio de emissão de títulos verdes, tornando-se assim um dos maiores emissores globais dessa modalidade de ativo. “Desde 2007, a França, país bem engajado em causas ambientais, já realizou 11 emissões, num total de US$ 40,7 bilhões. A Alemanha emitiu títulos semelhantes no ano passado. A Inglaterra anunciou lançamento desses títulos em duas tranches ainda neste ano”, comenta Lucci.

Sinal do interesse dos investidores globais pelos “green bonds” é exemplifica pela emissão feita pelo governo italiano em março, quando lançou 8,5 bilhões de euros e a demanda alcançou 80 bilhões de euros. Cinco dos seis maiores emissores dessa modalidade de títulos no mundo são europeus. Pela ordem, França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Itália e Chile — principal representante da América Latina. A região emitiu, no primeiro trimestre, US$ 8,7 bilhões, montante que se aproxima do recorde de US$ 10,8 bilhões do ano passado inteiro. Quanto à precificação desses títulos, Lucci informa que ela não é diferente de outros bônus negociados no mercado internacional. “Os emissores usam os Treasuries do governo americano como benchmark mais spreads a depender dos prazos de vencimento e risco, a exemplo dos bônus tradicionais.”

Em 2020, pelo nono ano consecutivo, ao lançamento de títulos verdes cresceu para o recorde de US$ 269,5 bilhões, segundo a Climate Bonds Initiative. Em janeiro, o BIS lançou o segundo fundo de títulos verdes para bancos centrais denominado em euros. O primeiro fundo, criado em setembro de 2019, é denominado em dólares. Os dois fundos — que financiam investimentos em produção de energia renovável e eficiência energética — estão estruturados de acordo com a legislação suíça e têm rendimento fixo. O BIS oferece serviços financeiros a 140 bancos centrais e organizações internacionais.

O Brasil engatinha neste mercado. Porém, até fevereiro, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) identificou 167 fundos de ações com viés de sustentabilidade e governança, sendo que 44 foram criados no ano passado. O patrimônio líquido total é de R$ 1,07 bilhão, 30% acima do observada em 2020 e o dobro de 2019. A associação estima que 48% dos investidores brasileiros já possuem uma métrica para investir em investimento sustentável ou ESG.

O Banco Central do Brasil tem sustentabilidade no alto de sua Agenda BC#. À Frente Parlamentar Economia Verde, o presidente Roberto Campos Neto pontuou o ingresso da instituição no Network for Greening The Financial System, uma rede de 83 bancos centrais e órgãos de supervisão financeira que visa acelerar a prática das finanças verdes; o memorando firmado junto à Climate Bonds Initiative (CBI), a criação de linha financeira sustentável e a inclusão de critérios de sustentabilidade para seleção de contrapartes na gestão das reservas internacionais e para a seleção de investimento dessas reservas.

Para Campos Neto, a criação de um mercado de carbono regulado a partir de regras internacionais será uma das maiores conquistas da sua gestão. E ele terá tempo para avançar nesse projeto. Como presidente do BC autônomo, Campos Neto ficará à frente da instituição até o fim de 2024 — até a metade do mandato do próximo presidente da República.

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