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Em ‘correção de rota’, Alpargatas traz CEO da Mondelez para o comando

Com desafio de fazer a dona da Havaianas voltar ao lucro, Liel Miranda traz na bagagem o ritmo acelerado de lançamentos que adotou na fabricante de Lacta, Oreo e Trident

Novo CEO: Liel Miranda acelerou ritmo de lançamentos na dona do Bis (Selmy Yassuda /Divulgação)
Novo CEO: Liel Miranda acelerou ritmo de lançamentos na dona do Bis (Selmy Yassuda /Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

13 de dezembro de 2023 às 20:28

Há nove meses sob o comando interino de Luiz Saint Edmond, a Alpargatas anunciou hoje seu novo CEO. Liel Miranda está deixando o comando da Mondelēz, fabricante de alimentos e dona de marcas como Lacta e Oreo, para assumir a presidência-executiva da dona das Havaianas a partir de fevereiro de 2024.

A troca no comando vem num momento desafiador para a Alpargatas, que vem ajustando a operação depois de anos de crescimento acelerado que acabaram cobrando seu preço em margens e rentabilidade.

Antes de chegar à Mondelēz, Miranda fez uma carreira de mais de 17 anos na Souza Cruz, passando por funções comerciais em vários países até assumir como CEO da operação brasileira.

Em comunicado, a Alpargatas destacou a experiência do executivo nas áreas comercial de supply chain – um desafio num momento em que a Alpargatas vem passando por um amplo ajuste de estoque.

“A escolha de Liel Miranda para a posição é fruto de um trabalho de análise do perfil ideal para continuar a rota traçada para a companhia e com um potencial de agregar ainda mais melhorias para o presente e futuro da empresa, visto a sinergia de sua vasta experiência com o negócio”, disse Edmond em comunicado.

Desde 2018 no comando da Alpargatas, Roberto Funari renunciou em abril deste ano em meio a números fracos que se seguiram a uma aposta alta em crescimento. Edmond estava acumulando cargo no conselho e o posto de CEO deste então.

Sob a gestão Funari, a Havaianas entrou em mais categorias, como tênis e vestuário. O grupo também vendeu a licença da Mizuno para a Vulcabras e sua participação na Osklen. No fim de 2021, pagou US$ 475 milhões por 49% da marca americana de sapatilhas sustentáveis Rothy’s -- um negócio que ainda não conseguiu trazer retorno para o balanço da Alpargatas.

A saída da pandemia também não foi fácil para a empresa, o que ainda deixa reflexo nos números atuais. O desempenho foi afetado pela abertura mais lenta do mercado chinês e por dificuldades de distribuição nos Estados Unidos, após mudanças no acordo com a Amazon. No Brasil, as margens também estavam mais pressionadas por aumento de custos.

Sob o comando de Edmond, a ordem foi fazer uma “correção de rota”, segundo as palavras do próprio chairman no comunicado da chegada de Miranda. A começar pela redução de estoque, já que a amplitude do portfólio tinha deixado a operação mais complexa. No terceiro trimestre a empresa conseguiu reduzir 11 milhões de pares dos estoques de produtos acabados.

Embora isso tenha impactado a margem, por causa da necessidade de liquidação de preços, essa gestão de inventário tem ajudado a reduzir a queima de caixa, que chegou a somar R$ 1,2 bilhão após 13 meses consecutivos de perdas.

Também foi preciso um trabalho de rolagem de dívidas que venciam no curto prazo e captação de recursos para reforço de liquidez. A alavancagem, no entanto, segue elevada, em 2,7 vezes contra 0,2 vez de um ano antes, puxada por uma dívida líquida maior e por uma queda expressiva de Ebitda.

À frente da Mondelēz, Miranda acelerou o ritmo de lançamentos, em especial em snacks, categoria de biscoitos e chocolates que ganhou fôlego extra desde a pandemia. No terceiro trimestre, a receita da Mondelēz na América Latina, que tem o Brasil como principal mercado, cresceu 42,9%, para US$ 1,30 bilhão. A saída do executivo foi informada no começo da tarde para equipes da multinacional, mas ainda não há nome para substituí-lo.

As ações da Alpargatas acumulam queda de 35% no ano, negociadas a R$ 9,24.

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado