Com estoque menor e menos promoções, lucro da dona da Centauro triplica
Grupo SBF reduziu dias de inventário e melhorou capital de giro, com foco em recomposição de margem, conta CEO
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 13 de maio de 2024 às 18:49.
Última atualização em 13 de maio de 2024 às 19:22.
No varejo, arrumação da casa virou palavra de ordem para muita gente. Não foi diferente com o grupo SBF, dono da Centauro e distribuidor da Nike no Brasil. A empresa passou a priorizar a rentabilidade e a redução da alavancagem e os números do primeiro trimestre confirmam isso.
Mesmo com crescimento tímido de apenas 1,6% na receita líquida, para R$ 1,49 bilhão, o lucro ajustado (excluindo IFRS) chegou a R$ 52,8 milhões, um avanço de 213% comparado com o mesmo período de 2023.
“Neste ano não temos como meta um crescimento de unidades. Na verdade, estamos mirando mesmo em aumento de lucro líquido e geração de caixa”, conta Pedro Zemel, CEO do grupo SBF em entrevista ao INSIGHT.
O crescimento de vendas comparáveis foi menos intenso tanto para Centauro quanto para Fisia, que reúne a operação de Nike. No primeiro trimestre, as vendas em mesmas lojas (dos canais físico e online) de Centauro cresceram 5%, contra 9,1% do ano anterior. Já em Fisia, avançaram 9,5%, bem abaixo do aumento de 30% de um ano antes.
Essa desaceleração tem a ver com a mudança de rota ao longo de 2023. Com histórico de um crescimento acelerado, os estoques chegaram a patamares elevados, o que levou a mais ação promocional e corroeu a rentabilidade do negócio. A partir daí, Zemel e cia passaram a ser mais vocais sobre a estratégia em 2024 e 2025: recompor margem e reduzir alavancagem.
“Estávamos comprando para as taxas de crescimento que víamos do negócio e quando o cenário mudou, tivemos um tropeço, o que pressionou o papel”, lembra Zemel. Em meados de 2022, ano especialmente marcado pela aposta do uniforme da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo, a ação beirava os R$ 25, distante dos atuais R$ 12,05. Ainda assim, diz o executivo, o negócio demonstrou resiliência e começou a colocar em prática o plano de melhoria no capital de giro e redução de despesas.
A margem bruta chegou a 48,8%, uma contração de 1,2 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre de 2023, mas mostra, destaca Zemel, a trajetória de melhora. No quarto trimestre, quando as medidas de redução de estoque já estavam em vigor, a margem foi 2,6 pontos percentuais mais baixa. “Agora estamos balanceando o ponto de preço para maximizar lucro bruto.”
Em comparação com o primeiro trimestre de 2023, houve uma redução de 43 dias de estoque, contribuindo positivamente com o ciclo financeiro em 35 dias. Na Fisia, a redução foi de 69 dias de estoque, mas o capital de giro ainda tem espaço importante de melhora, segundo o CEO.
Essa melhora de margem bruta se soma uma redução de despesas. A linha de SG&A passou a ser 38,2% da receita líquida, redução de 2,8 pontos percentuais em comparação com 2023. Com isso, o Ebitda da companhia somou R$159,2 milhões, crescimento de 19,1%, com margem de 10,6% -- 1,5 ponto percentual a mais do que um ano antes.
Além da melhora de rentabilidade, o outro ponto de atenção, explica Zemel, foi reduzir a alavancagem. A companhia reduziu em 38,7% sua dívida líquida, para R$ 843,4 milhões, levando a alavancagem de 2,86x para um patamar mais confortável, de 1,33x.
“O Brasil requer que os varejistas trabalhem com alavancagem bem baixa. Balanço está muito confortável para o dia a dia, mas queremos reduzir mais a alavancagem para poder voltar a investir mais para a frente."
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado