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CCR: falta de acordo em governança azedou negócio de R$ 5 bi

IG4 prefere modelo de 'corporation' e sócios atuais entenderam que abririam mão controle, sem vender e receber por isso

Muito além de rodovias: CCR hoje tem ativos em aeroportos e metrô (Mauricio Simonetti/Pulsar)
Muito além de rodovias: CCR hoje tem ativos em aeroportos e metrô (Mauricio Simonetti/Pulsar)

Publicado em 1 de novembro de 2021 às 15:49.

Última atualização em 10 de novembro de 2021 às 23:12.

Quando a CCR foi a primeira companhia a aderir ao Novo Mercado, em fevereiro de 2002 (dois anos antes da reativação do mercado brasileiro de capitais), não faltaram críticos. Por que torcer o nariz para a companhia corajosa que topou aderir aos mais elevados padrões de governança até então existentes no país? Basicamente, pela lista de sócios, que carregava os nomes das grandes construtoras, como Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa (atual Mover), além de Soares Penido e à época, a portuguesa Brisa. E olha que a Operação Lava-Jato ocorreria apenas em um futuro distante, 12 anos depois.

Pois bem, quase 20 anos de Novo Mercado depois, as questões de governança mais uma vez se tornaram assunto, para além do acordo de leniência de R$ 750 milhões assinado em março de 2019. E colocaram a gestão da empresa na vitrine.

A CCR havia atraído uma combinação de gestores — IG4 e Macquire — que poderiam dar uma nova cara ao negócio, colocando-a na rota de ser uma verdadeira corporation, ou seja, uma empresa sem sócio controlador definido, com capital realmente pulverizado em bolsa conforme a expansão da operação. Mas, devido a um embate sobre a gestão, um negócio da ordem de US$ 1 bilhão teve de ser desfeito.

Atualmente, Soares Penido e Mover lideram a administração com cerca de 30% das ações da CCR. A Andrade Gutierres (AG) ajuda a compor cerca de 45% do capital social e faz parte de um acordo de acionistas, mas suas ações estão, na verdade, em garantia a credores.

A IG4, gestora de Paulo Mattos especializada em reestruturação financeira e de governança, focada em ativos de infraestrutura, havia acertado com a AG a compra dos seus 15% no negócio por uma avaliação pouco superior a R$ 5 bilhões. A transação resolveria as pendências da AG relacionadas a esse ativo.

Com a IG4 vinha o fundo Macquire, de origem australiana, mas hoje globalizado e com US$ 38 bilhões em ativos sob gestão — tudo em infraestrutura, o que o torna um dos maiores especialistas mundiais do setor. Em julho, a casa anunciou a captação de US$ 6,9 bilhões em um novo fundo, o sexto, dedicado às Américas. Pelo que se conhece da operação, idealmente funcionaria como na Iguá Saneamento, a antiga CAB Ambiental. A IG4 ficaria com a gestão dos fundos e da empresa, assim como faz para os canadenses CCP e AimCo.

Entretanto, conforme o EXAME IN apurou, Soares Penido e Mover não aceitaram abrir mão do acordo de acionistas para que a IG4 pudesse fazer a gestão do negócio sem amarras. Mattos nunca escondeu de ninguém que vê no modelo de Corporation, como o da Equatorial (cujo berço é sua antiga casa, a GP Investimentos), o ideal para companhias de infraestrutura com potencial de crescimento, como são o caso da Iguá e seria da CCR. Porém, na visão dos atuais sócios que não eram vendedores, a pretensão da IG4 embutia ter o controle sem comprar o controle, ou seja, sem pagar por ele — ou na visão de interlocutores, vender o controle, sem prêmio por ele. Portanto, seja qual for o ângulo, nada feito.

Sem consenso sobre a governança, a IG4 deu um passo atrás e foi anunciado hoje o encerramento do acordo. A CCR acaba de vencer o leilão para permanecer com a Nova Dutra sob sua gestão. A empresa, contudo, tem potencial e diz ter planos de fazer novos e mais ambiciosos movimentos, em outros áreas de mobilidade para além de rodovias. Nesse contexto, não seria nada mal um sócio capitalizado como a Macquire para dar um impulso de crescimento, como o trio IG4, CCP e AimCo fez com a Iguá — que venceu um dos lotes da privatização da carioca Cedae.

Com preço dado e governança sob questão, resta saber quem vai vir em socorro à AG para liberar de suas amarras com credores, essa sim, uma herança da Lava-Jato. No caso da CCR, ficou evidente que Soares Penido e Mover se sentem donas da companhia. Enquanto isso, a IG4 deixou claro o que quer em suas transações — e que sem essa "disciplina" não tem negócio.

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