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Balanços: os alertas e avisos do trimestre para 2022

Efeitos de cenário doméstico e internacional começam a se refletir nos balanços

O dragão voltou: a preocupação com a inflação está por todos os lados, e não apenas no Brasil (Chris McGrath/Getty Images)
O dragão voltou: a preocupação com a inflação está por todos os lados, e não apenas no Brasil (Chris McGrath/Getty Images)

Publicado em 16 de novembro de 2021 às 13:42.

Última atualização em 17 de novembro de 2021 às 10:08.

Os balanços do terceiro trimestre contêm alertas essenciais para 2022. Os números acenderam a luz amarela para muitos que preferem olhar para o futuro — e não apenas se contentar com uma ou outra surpresa positiva. O cenário macroeconômico, nacional e internacional, se fez presente e isso é só o começo. O quanto ainda pode piorar, por ora, não está claro. Mas há nuvens carregadas no horizonte.

Os números do setor de consumo, especialmente, trouxeram um recado claro. Mesmo nas empresas com estoques ainda mais baratos e mais eficientes após o choque da pandemia, as margens foram pressionadas. A tal da recuperação desigual também está acontecendo no Brasil, não é privilégio americano. Na faixa de consumo de maior renda a atividade se acelerou, mas as classes sociais mais desfavorecidas ainda sofrem as consequências da pandemia, com menos emprego e inflação em alta.

Há, pelo menos, três grandes temas para ficar atento: essa recuperação econômica desigual, onde a piora mais acentuada do cenário nacional preocupa, com inflação alcançando dois dígitos; o custo do frete e os desafios da cadeia de suprimento, também com inflação internacional; e o aumento dos juros pesando no serviço das dívidas.

A inflação brasileira levou, por exemplo, Fred Trajano, presidente do Magazine Luiza, a dedicar boas linhas ao assunto em sua carta sobre o desempenho do período. Na Natura &Co, a mesma coisa: o tema estava lá no primeiro parágrafo do comentário da administração. Na Via Varejo, a marvada também castigou, ainda que o susto com provisão para causas trabalhista tenha ofuscado todo e qualquer outro número.

Nas varejistas, por enquanto, o impacto mais forte foi causado pela queda na demanda, algo notável nas lojas físicas, onde a classe de renda mais baixa ainda prefere fazer suas compras. No Magalu, a queda foi de 8%, na Via Varejo, ainda maior, chegou a 14%. Como o canal offline tem a melhor rentabilidade, houve impacto na margem.

Na Natura &Co, onde o ciclo de produção é bem mais curto do que nos bens duráveis, a inflação, por enquanto, foi compensada pelo mix entre preços/produtos e mais as sinergias da Avon. Até quando? Só os próximos balanços dirão. Mas não foi apenas no Brasil que as contas pesaram. A companhia relatou aumentos de frete internacionais que chegaram a 370%.

Já na Grendene, onde o impacto só não foi maior porque a empresa já fez alguns repasses de preço, a questão do frete foi alvo de menção de Alceu Albuquerque, diretor financeiro e de relações com investidores em entrevista  EXAME IN. “Para ter uma ideia do que a indústria enfrenta, vou te contar que, no frete, o meu custo de trazer um contêiner da China era de US$ 2 mil antes da pandemia e agora está em US$ 14 mil”, relatou ele.

A disparada no custo do transporte internacional conta com elementos perversos que nem todos querem comentar. Além do aumento do petróleo, que pesa sobre os combustíveis, está a tal recuperação da economia. Mesmo desigual, em determinados setores da economia ela foi forte o suficiente para causar impacto nos transportes. A disposição dos Estados Unidos e da China de pagarem preços mais elevados para comprarem um lugar privilegiado na fila está não apenas causando demora nas entregas para quem não tem o mesmo bolso, como uma alta além do razoável.

Juros, eles voltaram

Ainda está na conta do “impacto marginal”, mas o aumento do CDI já trouxe alta de dois dígitos às despesas financeiras das empresas que possuem compromissos financeiros indexados à taxa de juros do Brasil. No Magalu, por exemplo, a companhia gastou R$ 175 milhões com serviço de dívida, 71% mais do que em 2020, uma vez que a taxa Selic (principal indexador dos compromissos) triplicou nesse período. A empresa argumenta que fez uma defesa das contas, uma vez que a alta nos gastos foi muito menor do que o aumento dos juros — que triplicaram no período.

Mas, quem está no varejo e habituado a descontar recebíveis, há ainda mais esse efeito nocivo. A receita futura encolheu no presente, porque a taxa cobrada para antecipação ficou mais cara.

Para aqueles que acreditam que só o varejo sentiu, vale ver o balanço da Suzano. A companhia tem parcela relevante da dívida internacional convertida para reais. Daí, não deu para escapar. As despesas financeiras subiram cerca de 30%, passando de R$ 932 milhões para mais de R$ 1,2 bilhões.

A alta do CDI tem impactos que vão bem além das demonstrações financeiras. Com os juros a 2% ao ano, as companhias argumentavam, de boca cheia, que fazer aquisições valia muito mais do que deixar o “dinheiro parado rendendo juros”, ou seja, quase nada. Empresas são naturalmente conservadoras em suas aplicações e a baixa rentabilidade do caixa ajuda no apetite de gastar. Agora, com dívida mais cara e dinheiro aplicado oferecendo algum retorno, o cenário muda de figura.

Mais uma vez: o quanto, só o tempo vai dizer. Porém, é fato que esperar pelos balanços já não será mais a grata surpresa que foi 2020, quando muitos negócios experimentaram — fugindo à toda lógica — os melhores trimestres de sua história. Agora, correr da inflação e dos juros não será tarefa simples. Eles “atacam por todos os lados”, como definiu um analista.

 

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