Agulha no palheiro: novata a55 terá R$ 250 mi em crédito para startup
Âncora da capitalização, por meio de FIDC, será BTG Pactual, através do hub para inovações boostLAB
Publicado em 7 de julho de 2021 às 06:00.
Última atualização em 7 de julho de 2021 às 09:01.
De olho em um futuro que a pandemia antecipou, graças ao intenso processo de digitalização em todos os segmentos, startups de tecnologia vão receber um apoio e tanto para desenvolver seus negócios sem passar aperto no dia a dia: R$ 250 milhões em capital de giro. Especializada em viabilizar crédito para esse mercado, a fintech a55 fechou uma parceria com o boostLAB, hub de negócios para empresas de tecnologia do BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME) e a Empírica Investimentos, gestora especializada em crédito estruturado.
A a55 está captando recursos por meio de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) estruturado pela Empírica, que poderá contar também com outros investidores, mas terá o boostLAB como investidor âncora. Na parceria, a a55 será responsável pela atração de empresas, análise de crédito e monitoramento do fluxo de pagamento dos empréstimos.
O boostLAB financiará a carteira que a a55 vai originar. E, em função desse financiamento, ganhará o direito de entrar no capital da a55 futuramente. Já a Empírica, com 12 anos de mercado e 100% dedicada a crédito estruturado, é responsável pela estratégia que levará investidores no mercado de capitais ao FIDC da a55.
“O capital de giro que vamos repassar é um investimento da a55 nas ‘techs’. Basicamente um crédito para que as startups toquem o dia a dia e atendam necessidades que levem ao seu crescimento, como marketing, contratação de pessoas. Nosso foco está sobretudo em empresas de e-commerce e as que oferecem softwares por assinatura (SaaS) exatamente porque elas têm crescimento muito rápido”, informa André Wetter, presidente e cofundador da a55.
Em entrevista ao EXAME IN, o executivo deixa claro que a a55 não quer ser um banco, mas participar de uma jornada de crescimento com as startups. “Um dos grandes diferenciais da a55 é ter uma plataforma que conecta contas bancárias, soluções de custódia, faturamento, meios de pagamento e inteligência de crédito, desenvolvimento de software e em ciência de dados. Essa plataforma nos permite acompanhar as fintechs em tempo real, identificar seu desenvolvimento e também a necessidade de recursos e assim atendê-las”, diz Wetter fundador da a55 com Hugo Mathecowitsch, em 2017.
Hoje com mais de 12 mil clientes, a a55 poderá em 1,5 a 2 anos dobrar sua carteira de crédito com a parceria firmada com o boostLAB e a Empírica. “Até o fim do ano esperamos repassar R$ 70 milhões às ‘techs’. Já emprestamos, desde nossa chegada ao mercado, R$ 200 milhões. Para isso trabalhamos com duas linhas de capital de giro: uma voltada a empresas menores sem exigência de garantia e outra linha de valores maiores com garantia no faturamento. E atendemos empresas com mais de seis meses de vida em repasses que vão de R$ 20 mil a R$ 2 milhões”, explica Wetter.
Alimentando o ecossistema
Frederico Pompeu, sócio do BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME) e responsável pelo boostLAB, diz que o FIDC espera desembolsar até R$ 100 milhões até fevereiro de 2022 para a a55. Em entrevista ao EXAME IN, o executivo lembra que o boostLAC é a âncora do fundo, mas não provê o capital total. O hub atua em operações estruturadas e com tickets superiores a R$ 10 milhões.
“Fazer tickets de R$ 500 mil, R$ 1 milhão ou R$ 2 milhões demandaria muito tempo e esforço. Mas vimos na a55 uma oportunidade porque a fintech faz operações de forma mais escalável e atende nosso objetivo de ser o banco do ecossistema ‘tech’ na América Latina. Também por esse motivo precisamos ter produtos para oferecer a empreendedores que não estão em fase tão acelerada de desenvolvimento e precisam crescer”, afirma o head do boostLAB.
Pompeu pontua que o BTG sempre apoiou o empreendedorismo, sendo líder em IPO e emissão de dívidas e decidiu estar com esses empreendedores desde o início por considerar que as empresas ‘tech’ serão as de maior valor de mercado.
“Costumo brincar que se quisermos viajar no futuro é só observar o que está acontecendo nos Estados Unidos e na China, onde as maiores empresas são de tecnologia. Isso vai acontecer no Brasil, no futuro. Na B3 não existe nenhuma empresa ‘tech’ entre as maiores. Mas quando saímos um pouco da B3 já vemos isso acontecendo. O Mercado Livre é a maior empresa da América Latina, maior que a Petrobras, nem imaginávamos isso no passado recente. Nossa proposta, portanto, é apoiar os empreendedores”, diz o head do boostLAB.
Novas rotas, novas fontes
A Empírica Investimentos, que encerrou 2020 com R$ 2,8 bilhões sob gestão e, neste ano até maio, já administra mais de R$ 4,2 bilhões, participa da operação com a a55 como investidor e através dos fundos estruturados. Atualmente são 50 fundos sob gestão e em diversas modalidades: precatórios, pequenas e médias empresas, fundo de pessoas físicas. De 50 carteiras, 30 são FDICs.
Cada vez mais, em busca de melhor oportunidades, os fundos querem estar mais próximos da origem das operações. A tecnologia e, ao mesmo tempo, o aumento da transparência do sistema, permitem que cada vez mais agentes busquem fomentar novos espaços no tão subdesenvolvido mercado brasileiro de crédito.
“Nossa parceria com a a55 começou em 2018. Neste período, já entraram R$ 25 milhões e, até o fim do ano, esperamos mais R$ 20 milhões. Nosso propósito é trazer recursos de investidores do mercado de capitais. E, nesse sentido, a a55 é uma grande parceira por sua expansão nos últimos anos”, afirma Giuliano Longo, sócio-diretor de Produtos da Empírica que reconhece que a queda do juro no Brasil trouxe muitos investidores para o mercado de crédito. Ele avalia que a alta da Selic, já em curso, não tira o apelo do mercado de capitais, mas é fato que os fundos de direitos creditórios ficam mais atraentes porque sua remuneração é atrelada ao CDI.
A a55 tem escritórios em São Paulo, Florianópolis e na Cidade do México e planeja se expandir na América Latina. André Wetter considera que, depois do México, a Colômbia é uma possibilidade, mas não por agora. “Ainda somos pequenos. Mas queremos chegar a empréstimos de R$ 1 bilhão”, diz o executivo, para quem o investimento no México foi uma grande oportunidade. “O México é um mercado mais aberto do que o brasileiro, tem ferramentas de open banking e bancos de dados públicos sobre empresas, ainda em construção no Brasil. O ambiente de negócios é menor, é menos competitivo e há grande espaço para crescimento.” Toda essa via ainda está em pavimentação no Brasil. Mas as obras já estão em andamento.
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