Logo Exame.com
B3

AES dobra aposta em briga pela Tietê e contesta a B3

Companhia questiona a aplicação do regulamento do Nível 2 de Governança Corporativa, no que diz respeito ao direto de voto das ações preferenciais

BOLSA: AES tenta conclamar controladores de companhias do Nível 2 a se posicionar (Germano Lüders/Exame)
BOLSA: AES tenta conclamar controladores de companhias do Nível 2 a se posicionar (Germano Lüders/Exame)
GV

Graziella Valenti

28 de abril de 2020 às 12:33

A AES Corp. não recuou de seu propósito de questionar a aplicação do regulamento do Nível 2 de Governança Corporativa, no que diz respeito ao direto de voto das ações preferenciais, após parecer emitido pela B3 ontem no fim do dia.

Ao contrário, dobrou a aposta e pediu à bolsa que o ofício seja “considerado sem efeito”. Além disso, sugeriu que só o diretor presidente, Gilson Finkelsztain, poderia falar sobre o tema – o documento publicado ontem foi assinado pela diretoria de relações com emissores.

O tema é caro à companhia porque a controlada AES Tietê foi alvo de uma proposta de incorporação lançada pela geradora de energia Eneva que, na prática, em razão dos direitos do Nível 2 tira a decisão sobre o negócio do controlador e coloca nas mãos de todos os acionistas da empresa. A AES Corp, por meio da AES Holding Brasil, tem 62% das ações ordinárias da Tietê, mas apenas 24% do capital total.

A oferta lançada no dia 1° de março foi retirada, mas há expectativa de que a Eneva faça uma nova em breve.

Em carta enviada a Finkelsztain, e à diretora de regulação de emissores da B3, Flavia Mouta, a AES afirma que o ofício somente deveria ter validade se fosse produzido após amplo debate com o mercado.

A B3, conforme fontes próximas ao tema, não estuda nenhuma alteração de regulamento nesse momento e nem recebeu sugestão para tanto após o surgimento das discussões sobre o caso da Tietê.

Na prática, a AES acusa a bolsa de ter interferido em um caso concreto com seu ofício e que esperava que a questão, se necessário fosse, viesse a ser alvo de debate na Câmara de Arbitragem. Para a companhia americana, a bolsa deveria ter ouvido os demais participantes antes de emitir o comunicado de ontem.

A Bolsa, em seu ofício, reafirmou o regulamento do Nível 2 e disse que a as ações preferenciais têm poder de voto igual ao da ação ordinária, para temas como transformação de sociedade, incorporação, cisão e fusão. E afastou os argumentos trazidos pela AES para questionar a validade do modelo proposto pela Eneva, ao alegar que o voto da preferencial teria força de veto pois não poderia se sobrepor ao desejo do controlador.

 

Em carta encaminhada a Gilson Finkelsztain e a Flavia Mouta, a AES pede que o ofício da bolsa seja considerado “sem efeito” e que qualquer novo pronunciamento sobre o assunto seja feito após ampla oportunidade de “contraditório” à companhia, com um prazo de 30 dias.

O EXAME IN informou ontem que a Eneva prepara uma nova proposta pela Tietê, com o mesmo formato de incorporação, mas em novas condições de preço. O assunto está sendo discutido dentro da empresa e deve ser alvo de definição do conselho nos próximos dias.

Assim como o modelo da Eneva, e seus esforços estratégicos, levaram à B3 questionamentos de investidores institucionais de peso, a AES está tentando, com sua carta, conclamar controladores de companhias do Nível 2 a se posicionar. Das 20 companhias listadas no Nível 2, 11 delas vivem situação em que o controlador não tem maioria absoluta do capital e, portanto, não tem poder de impor sua vontade sozinho sobre matérias em que as preferenciais têm direito de voto.

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade