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A Evergrande, a China e as debêntures da Vale: oportunidade para a Quasar

Papéis da mineradora, emitidos na época da privatização, foram mais resilientes do que as ações, mesmo com dividendo bilionário

Evergrande: crônica de uma morte anunciada e oportunidade no gigantesco setor imobiliário chinês, para gestora brasileira (Katherine Cheng/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
Evergrande: crônica de uma morte anunciada e oportunidade no gigantesco setor imobiliário chinês, para gestora brasileira (Katherine Cheng/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
GV

Graziella Valenti

13 de outubro de 2021 às 09:43

Uma das maiores investidoras das debêntures participativas da Vale, a gestora de recursos Quasar, segue firme no seu entendimento da oportunidade desses papéis. Os títulos da mineradora, emitidos para a privatização e vendidos pelo BNDES em abril em uma oferta pública, pagam um percentual da receita da companhia. Por enquanto, nada assustou a casa. Nem o corte na produção de aço na China, nem a crise da Evergrande, nem a queda do minério do ferro — que já retornou para cerca de US$ 130 por tonelada. Tudo isso, na verdade, são oportunidades.

A debênture, que chegou a valer a perto de R$ 65, está agora em torno de R$ 54 — uma queda ligeiramente menor do que 20% — e mostrou-se mais resiliente do que as ações ao atual cenário. As ordinárias, que quase alcançaram cotação de R$ 119, encerram a segunda-feira em R$ 81,62, uma desvalorização superior a 30%. E isso mesmo após o gigantesco pacote de dividendo anunciado pela empresa, uma das principais blue chips do mercado brasileiro e com grande peso na formação do Índice Bovespa.

“A Vale divulgou uma remuneração de R$ 3,20 para as debêntures, referente ao primeiro semestre, e estimamos um pagamento de pelo menos R$ 2,80 para a segunda metade do ano. Isso representa uma remuneração de quase 10% ao ano em dólares, o que é extremamente atrativo”, afirma Nathan Shor, co-gestor dos fundos internacionais da Quasar. A carteira do fundo Quasar Latam Bonds, por exemplo, tem uma exposição de 18% a esses papéis —  aliás, desde antes da própria oferta do BNDES.

O Brasil, segundo Shor, representa 60% da carteira, mas a estratégia, no atual momento, está concentrada em papéis com duration bastante curto ou yields elevados, como de Banco do Brasil e Cosan.

De acordo com ele, o retorno das debêntures da Vale é o dobro do que pagam os papéis públicos com vencimento em 2042. Pelos cálculos da casa, as debêntures são interessantes mesmo com projeções que colocam o preço do minério de ferro a US$ 70 por tonelada — pouco menos da metade da cotação atual.

Desde o aumento das tensões em torno da China, a gestora está bem menos pessimista com o minério do que outros, ainda que os títulos da Vale aguentem muito desaforo pelos cálculos de seus especialistas. Em primeiro lugar, na visão de Shor, a redução na produção de aço promovida pela China no segundo semestre deste ano está muito mais relacionada à forte produção dos seis primeiros meses do ano, para equilíbrio das metas do ano.

E, tratando do caso específico das debêntures da mineradora brasileira, Shor lembra que a partir do primeiro semestre de 2024, o pagamento dos papéis vai aumentar porque vai começar a contar para formação do rendimento um outro sistema de produção, o Sudeste. Atualmente, apenas o sistema Norte rende proventos — e como rende! Até 2012, o valor distribuído não alcançava R$ 23 milhões ao ano, na totalidade. Em 2020, o montante distribuído ultrapassou R$ 1,5 bilhão, depois de ter alcançado R$ 900 milhões em 2019. De acordo com as regras dos títulos, os sistemas possuem ‘gatilhos de produção’ a partir da qual passam a compor o total pago aos debenturistas.

Evergrande

Na Quasar, a crise da Evergrande, com seus US$ 300 bilhões em dívida, não foi surpresa. A única dúvida entre os gestores era quando os problemas estourariam, mas não “se”. Por isso, Shor contou que a casa entende que há uma grande oportunidade entre os ativos do setor imobiliário chinês. “Todos sofreram muito, mas nem todos vão quebrar. Nem de longe.”

Na visão do gestor, um olhar histórico a respeito das decisões do governo da China demonstra que não é comum que sejam adotadas políticas impopulares. “A China tem 30 mil companhias de real state. Não são cinco, nem vinte. Hoje, 60% da riqueza das famílias está exposta ao setor, sem contar o que está aplicado em ativos reais. Não me parece que o governo vai fazer loucuras.”

Por isso, os especialistas da Quasar estão em busca de novas oportunidades na China nesse segmento, para carteiras que possam explorar essa janela, o que não é o caso do Quasar Latam Bonds (dedicado à região da América Latina, como o próprio nome diz e que possui hedge para variação cambial).

Durante o feriado prolongado no Brasil, as notícias que vieram do oriente estavam alinhadas a essa expectativa dos gestores da casa local. A cidade de Harbin, capital da província de Heilongjiang, ao norte do país, anunciou um programa de suporte para as empresas de desenvolvimento imobiliário, na tentativa de resfriar as preocupações a respeito da saúde financeira dessas companhias. A expectativa é que outras iniciativas desse tipo acontençam.

Shor destacou que, para quem acompanha a China de perto, nem a Evergrande era surpresa, nem o temor é tão grande. Há sinais importantes que, segundo ele, devem ser monitorados para reafirmar essa expectativa — ou ajustar a rota. No fim de setembro, uma notícia muito relevante, na visão do especialista, foi o plano de reestruturação de dívida da China Fortune Land, que estavam sem pagar os juros de suas dívidas desde janeiro deste ano.

O programa de reorganização dos pagamentos mostrava que a companhia deu igual tratamento para os bonds detidos tanto dentro da China como para o mercado internacional. "Poderia ter sido diferente, mas não foi. Isso é um claro sinal, no meu entendimento, de que o país tem todo interesse em manter o mercado externo aberto para o setor."

Boas notícias para o setor chinês, para a demanda pelo aço e, portanto, para o minério de ferro.

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