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Aviação

A Azul está caindo na esteira da crise da Gol. Para o BTG, isso não faz o menor sentido

Azul deve se beneficiar com a fraqueza da concorrente e queda abre espaço para tese mais otimista para o papel, aponta o banco

 (Luiz Souza/NurPhoto/Getty Images)
(Luiz Souza/NurPhoto/Getty Images)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

19 de janeiro de 2024 às 17:18

Desde o início dos rumores de que a Gol pode entrar com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos a ação da Azul – que, em teoria, deveria se beneficiar com a fraqueza da concorrência – tem caído tanto quanto a companhia fundada pela família Constantino.  

Do começo da semana até o fechamento de ontem, ambas caíam 7%. Hoje, com notícias de uma possível linha de crédito para o setor subsidiada pelo BNDES, os papéis da Gol sobem quase 7%, deixando para trás a Azul, que avança pouco mais de 4%.  

Para o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), o price action não faz o menor sentido. Em relatório divulgado hoje, o banco argumenta que a queda da Azul vai além da dinâmica competitiva e está mais ligada ao pessimismo global com equities e movimentos mais técnicos de mercado.    

Olhando apenas para os fundamentos, o banco vê a Azul como uma das principais beneficiárias da reestruturação da Gol. “Não achamos que esse movimento [acionário] faz sentido”, aponta o analista Lucas Marquiori em relatório. “Apesar no nosso rating neutro, estamos começando a ficar mais otimistas com a Azul, que agora negocia a um múltiplo barato, de 4 vezes EV/EBITDA para 2024.” 

Além da queda geral do mercado de ações no Brasil e no exterior por conta da esticada nas taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, a desmontagem de posições de ‘pair trade’, apostando de maneira casada queda de Gol e na alta da concorrente, especialmente por fundos locais, ajuda a explicar a queda da Azul.  

Com o short squeeze nas ações da Gol, muitos investidores se viram obrigados a desmontar a estratégia, penalizando também as ações da rival.    

Outros ruídos envolvendo o setor podem ter pesado sobre o papel, mas tem pouco impacto efetivo sobre a Azul, aponta o BTG. “Problemas seguidos com fornecedoras de aeronaves, como a crise dos Boeing 737-Max, colocaram pressão sobre um mercado que já estava com oferta apertada para novos aviões”, afirma o analista. A questão é que a Azul não opera com Boeings, com frota concentrada na Embraer e Airbus.    

Se soma ainda ao momento conturbado para aviação a instabilidade adicional nos preços do petróleo, que têm mostrado mais volatilidade nos últimos dias com notícias sobre crescentes tensões no Oriente Médio.   

Ainda assim, os analistas do banco veem espaço para a Azul se beneficiar. Com ou sem Chapter 11, a Gol já diminuiu sua oferta de voos em dezembro por causa de atrasos nas entregas da Boeing, que são as aeronaves usadas pela companhia de baixo custo. Essa adequação de capacidade tende a deixar o ambiente de preços mais racional, aponta Marquiori.   

Para o banco, Latam e Azul naturalmente deveriam preencher o vazio deixado pela capacidade da Gol. A Latam possui a maior sobreposição de rotas com a Gol, especialmente em aeroportos movimentados como Congonhas, Santos Dumont e Brasília.  

“No entanto, acreditamos que a Gol deveria priorizar as rotas mais lucrativas, deixando os ajustes de capacidade para rotas de menor densidade que se sobrepõem com a Azul”, afirmam os analistas.  No acumulado do ano, o papel da Azul cai 10,6%, enquanto as ações da Gol recuam 15%. Listada em Santiago, no Chile, a ação da Latam sobe 9,95% em 2024.   

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado