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Balanços

Com perda de volume e share, Ambev aumenta aposta em Spaten, Corona e Original 

Rótulos premium já representam de 14% a 16% da vendas e têm espaço para crescer mais, diz o CFO, Lucas Lira, destacando que a empresa está 'mais bem posicionada'

Ambev: Balanço do quarto trimestre não desceu redondo e ações caíram 7% (Foto: Divulgação) (Divulgação/ Ambev/Site Exame)
Ambev: Balanço do quarto trimestre não desceu redondo e ações caíram 7% (Foto: Divulgação) (Divulgação/ Ambev/Site Exame)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

29 de fevereiro de 2024 às 18:10

O resultado da Ambev no último trimestre do ano não desceu redondo. A queda de volume de cerveja no Brasil e uma projeção de redução de custos (de 0,5% a 3%) em 2024 menor do que a esperada pelo mercado levaram a ação a baixas de 7% no pregão desta quinta-feira, 29.

Mas o diretor financeiro, Lucas Lira, está confiante de que a empresa começou 2024 “mais bem posicionada” do que estava no início de 2023.  

De outubro a dezembro o volume de cerveja da Ambev no Brasil, principal negócio da empresa, caiu 1,1%. O recuo reflete uma base de comparação mais dura pela Copa do Mundo de 2022 em pleno verão do hemisfério sul, mas também foi maior do que previa grande parte dos analistas de mercado e confirmou um cenário concorrencial mais difícil e de perda de market share – especialmente para os rótulos principais e os mais econômicos, que incluem Brahma, Skol e Antarctica.  

No ano, a queda foi do mesmo patamar, em 1%. O lucro líquido ajustado de R$ 4,67 bilhões ficou 11,9% abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior.  

Em 2023, o volume total de cerveja da principal concorrente, Heineken Brasil, cresceu um dígito baixo, com a Heineken avançando 10% e a Amstel, mais popular, crescendo mais de 30%.  

Dados de mercado da Nielsen indicam, porém, que apenas o Grupo Petrópolis, dono da Itaipava e com um portfólio mais popular, ganhou mercado em 2023, passando de 11,2% para 12,1%. A Ambev caiu de 59,1% e 58% no mesmo período, e a Heineken, de 24,8% para 24,6%.  

Além do volume 

O volume, no entanto, não tem sido o indicador de referência para a Ambev, diz Lira. Depois de crescer muito fortemente desde a pandemia, as vendas de cerveja estão bem acima dos níveis históricos. Por isso, em 2023 o lema da empresa virou a recuperação da rentabilidade.

No quarto trimestre do ano passado, a receita por hectolitro de cerveja Brasil cresceu 7,2%, enquanto o Ebitda dessa operação passou dos R$ 4,1 bilhões, com ganho de 33% e margem 7,4 pontos percentuais maior.  

O ganho de rentabilidade tem a ver com a redução dos custos de produção, mas vem na esteira da estratégia comercial da Ambev (e da concorrente Heineken) de concentrarem maiores esforços no portfólio de maior valor agregado. A Spaten, trazida em 2021, cresceu 400% em vendas desde que foi lançada no país 

“Para 2024, a palavra-chave é consistência. De 2019 para cá conseguimos fazer com que o crescimento da indústria tenha vindo majoritariamente da Ambev, puxado pelo premium”, diz Lira.  

No ano, o volume dos rótulos “premium” e “super premium”, como define a cervejaria, cresceu 25% – um salto de mais de 200% desde 2019, quando a gestão da companhia deu início a um plano de crescimento puxado por inovação de produtos e tecnologia de serviços, com o lançamento das plataformas de vendas Zé Delivery, para o consumidor final, e BEES, de B2B.  

Hoje, marcas como Spaten, Corona, Stella Artois e Original respondem para algo entre 14% e 16% das vendas totais, mas a empresa destaca que essa categoria chega a 25% em mercados maduros, o que justifica a importância da aposta.  

“Em mercados como Estados Unidos, Canadá e Australia, o peso de premium ainda é maior. É um indicativo de razão para acreditar que ainda temos espaço para continuar crescendo esse segmento no Brasil”, diz Lira. 

Copo meio vazio 

A equipe do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) considerou, no entanto, que a mensagem da direção da companhia está menos otimista o esperado.  

A empresa diz que trabalhará para oferecer crescimento nas vendas EBITDA e expansão da margem EBITDA, “com um equilíbrio maior entre volume e ganhos de preços". No entanto, não especificou a magnitude desse equilíbrio, destacam os analistas do banco em relatório. 

Não falta, também, trabalho a ser feito pela Ambev, especialmente nos mercados externos. Muita pressionada ao longo de 2023, a divisão de América Central e Caribe começou a mostrar recuperação, mas em ritmo mais lento, observa a equipe do Itaú BBA, que considerou os números mistos e manteve recomendação neutra.  

A operação de LAS, que considera todos os países da América do Sul excluindo Brasil, reportou queda de volume de 3,8%, impulsionado pela Argentina, onde as pressões altamente inflacionárias continuaram a impactar a demanda geral do consumidor e exigem da empresa reconhecimento contábil específico para operações mercados nessas condições.  

A empresa teve de atualizar todos os resultados para moeda de acordo com o câmbio no final do ano. “Ainda assim, conseguimos gerar mais caixa em moeda forte do que no ano anterior, que era um plano que já vínhamos trabalhando.” 

Importante pagadora de juros sobre capital próprio (JCP), a Ambev também está tendo de lidar com os impactos negativos da mudança tributária vinda com a aprovação da lei 14.789. "À medida que crescemos, geramos mais imposto. A lei mudou e vamos continuar seguindo a lei. Isso vai fazer com que tenhamos menor dedutibilidade de JCP.” 

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado