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Vulcabras tem lucro 18,5% maior no quarto tri; Bartelle vê empresa em "novo patamar"

Para 2024, aposta está na consolidação da Olympikus na elite da corrida e em fincar os pés no varejo com lojas da Under Armour

Vulcabras: companhia chegou a seu 14f trimestre consecutivo de crescimento de faturamento (Vulcabras/Divulgação)
Vulcabras: companhia chegou a seu 14f trimestre consecutivo de crescimento de faturamento (Vulcabras/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

7 de março de 2024 às 19:28

Por mais de um ano, a Vulcabras não perdeu o ritmo. No quarto trimestre de 2023, consolidou o que foi seu melhor ano em vendas. “A partir de agora passamos a operar em outro patamar”, diz Pedro Bartelle, CEO da dona da Olympikus e a responsável pela Under Armour e a Mizuno no país.

Nesse novo patamar, a empresa vê espaço para verticalizar os negócios e aumentar a complementariedade, colocando o pé de vez no varejo, com lojas físicas da Under Armour. Uma área está sendo criada internamente para olhar para isso. Ainda não há previsão para lojas próprias da Mizuno ou da Olympikus. A escolha pela Under Armour tem a ver com a exposição maior da marca em vestuário e acessórios, cuja distribuição em outros canais não é tão azeitada quanto a de tênis.

“Verticalização do processo cria oportunidades de ganho de rentabilidade. Somos uma empresa verticalizada e especializada, não somos ainda especialistas em varejo. Mas também não éramos especialistas em e-commerce”, diz Bartelle. Em 2023, o canal de venda online gerido pela própria empresa registrou R$ 279,8 milhões de receita líquida, crescimento de 104,4% ante o ano anterior, e passou a responder por 10% da receita total da Vulcabras.

Pelo 14º trimestre consecutivo, o faturamento da empresa cresceu 7,1%, para R$ 919,1 milhões -- a receita líquida avançou na mesma proporção, para R$ 791 milhões. Desconsiderando o efeito de ganhos tributários do último trimestre de 2022, o lucro líquido de outubro a dezembro no ano passado cresceu 18,5%, para R$ 144,7 milhões. O lucro contábil ficou 32,5% menor.

No consolidado do ano, as vendas somaram um valor recorde de R$ 3,2 bilhões, um crescimento de 11,5% ante ano 2022, com a margem bruta também chegando ao maior patamar histórico: 41,7%. A receita líquida foi de R$ 2,82 bilhões, 11,1% a mais que um ano antes.  O lucro líquido recorrente foi de R$ 488,7 milhões, aumento de 31,8% em comparação ao resultado apresentado no ano de 2022.

O bom desempenho operacional se reflete na valorização dos papéis – 85,5% em 12 meses – e no sucesso do follow-on realizado no início de fevereiro, quando levantou R$ 500 milhões. A operação trouxe para a base fundos relevantes como Absolute e Guepardo e garantiu liquidez para o papel. Historicamente, as ações da Vulcabras movimentavam cerca de R$ 12 milhões ao dia. Nesta quinta-feira, o volume negociado passou dos R$ 64 milhões.

Os números de 2023 confirmam a assertividade de uma estratégia estabelecida poucos anos antes, em que saiu da produção de calçados femininos para concentrar seus esforços em esportes. Especialmente no ano passado os planos deram mais um passo, com a Olympikus chegando a novos segmentos.

A empresa investiu no desenvolvimento da linha Corre e a marca, que antes era vista com desconfiança por atletas amadores e profissionais, entrou de vez na alta performance. O novo segmento já corresponde a 15% das vendas e fortalece o posicionamento de marca, ajudando, também, a reportar margens melhores. O movimento mais recente foi além, com a Olympikus entrando na altíssima performance. A marca lançou seu primeiro super tênis no último dia 2, o Corre Supra, que combina placa de carbono e um revestimento de grafeno para dar 3x mais propulsão ao corredor.

O modelo também deu propulsão à Olympikus que, pela primeira vez, passou da barreira dos R$ 1.000 em um dos seus tênis. O Corre Supra custa R$ 1.199,99, um valor elevado para a história da marca, mas o preço mais acessível do segmento de altíssima proposta. Ainda não é possível saber se o novo produto vai ser um super sucesso de vendas, mas ele cumpre o papel de democratização da marca. “O tênis é mais largo do que os da categoria, o que traz mais estabilidade. Isso permite ser usado por mais pessoas. Além disso temos visto uma mudança de percepção da marca com a família Corre”, observa.

Nos últimos anos, a Vulcabras investiu R$ 600 milhões na modernização da produção, o que, argumenta Bartelle, deixou a fabricante em pé de igualdade com a indústria asiática. A necessidade de investimento nessa frente, portanto, é baixa para o curto prazo, mas a companhia também tem espaço em suas unidades fabris para expansão se necessário.

Sem grandes pressões de investimento e sem dívida, a companhia vem usando a forte posição de caixa também para remunerar os acionistas. “Tivemos alta geração de caixa e deve continuar assim. Estamos criando valor para os acionistas, com um retorno sobre capital investido (ROIC) de 25%, um dos maiores do setor”, destaca o CFO, Wagner Dantas. Neste ano, a Vulcabras vai distribuir R$ 367,7 milhões em dividendos referentes ao ano fiscal de 2023. Ano passado, ja tinha distribuído R$ 412,6 milhões. (Parte dele foi utilizado pelos controladores para recomprar papéis no follow-on.)

Outra destinação do caixa pode ser o crescimento inorgânico, com a chegada de mais marcas internacionais para licenciar, mas CEO e CFO afirmam que a empresa ainda está mais em conversas com interessados e não tem contratos firmados. “Mercado está bastante efervescente, com marcas internacionais buscando produtores locais. Estamos sempre em busca de trazer mais negócios para Vulcabras que façam sentido”, defende Bartelle.

Com um cenário de consumo ainda cambaleante neste início de 2024, o CEO afirma que a empresa ainda vem reportando crescimento, mas antecipa que o aumento das vendas não é a prioridade e deve vir em ritmo mais lento do que no ano passado. “Nossa prioridade é não crescer a qualquer custo. Queremos crescer, mas tem esse olhar de saúde e rentabilidade. Não entramos na disputa por venda a qualquer preço.”

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado